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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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MOTOR

O circo de Montezemolo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A FIA não publicou ainda a versão 2003 dos regulamentos técnico e esportivo. Não teve tempo, a impressora quebrou, sabe-se lá o motivo. De qualquer forma, sabido o que mudou, o resto, por consequência, não mudou.
E como a nova F-1 já provou ser uma usina de ocorrências insólitas, vale lembrar aqui alguns itens do livro, modificados ou não. Se os últimos Mundiais eram verdadeiros exercícios de paciência, este é uma surpresa atrás da outra, goste-se ou não do resultado. Às regras (com comentários).
1. Pontuação: pela terceira vez na história, mudou. E mudou basicamente para embolar o campeonato. Exemplo, Raikkonen perdeu a vitória, mas perdeu apenas dois pontos. Fosse no ano passado, teria perdido quatro. Na prática, perdeu quase nada.
2. Pneus: em outubro do ano passado, a FIA propôs; em janeiro, os times aceitaram. As fabricantes podem personalizar o atendimento aos times (o que era proibido), com dois tipos de pneu para seco (como antes) e um único para pista molhada (não havia limite). A coisa foi feita para minimizar custos, mas os times e as duas fábricas concorrentes foram irresponsáveis em Interlagos.
3. Largada: um GP de F-1 acontece ou acontece, faça chuva ou faça sol. O argumento é que as fabricantes de pneus desenvolveram produtos especialmente adequados para pista molhada e blablablá (sim, parece piada). Em caso de toró amazônico, os comissários podem determinar a largada com safety car e ou atrasar a largada, em 15 minutos, se já tiver sido mostrada a placa de cinco minutos; ou em dez minutos, se o apagar das luzes for iminente. Se necessário, atrasa-se a coisa mais dez minutos. E assim vai, de dez em dez, até a pista ficar viável. Na prática, o custo da transmissão via satélite sempre ajuda na hora de decidir largar com o safety car.
Bandeira vermelha: interrompe a corrida, não a finaliza -isso é outra decisão. Se a vermelha surgir com menos de duas voltas percorridas, nova largada em 20 minutos; com menos de 75% e se as condições permitirem, nova largada na ordem da penúltima volta percorrida antes da interrupção; com menos de 75% e sem condições de prosseguir, fim de prova, colocações determinadas pela penúltima volta percorrida e atribuição de metade dos pontos; com mais de 75%, fim de prova, colocações determinadas pela ordem da penúltima volta percorrida e pontuação normal. Atenção: voltas percorridas. Interlagos, antes e após perceber a piscada do cronometrista, superou 75%.
Bandeira amarela: indica perigo e ultrapassagem proibida. Uma bandeira agitada significa tire o pé. Duas bandeiras agitadas significa tire o pé e prepare-se para parar se necessário. Alonso ignorou um monte de bandeiras agitadas. É bom, mas é moleque.
Ferrari (não está no manual, é contribuição da coluna): time italiano que perde a cabeça ao notar que, com o melhor carro e piloto idem, está levando chumbo. E que, para tentar apagar o fiasco da pane seca de Barrichello, achincalha a pista e as novas regras e chama a nova F-1 de circo. De fato, o que não falta é palhaço.

A voz do povo
Se boa parte dos analistas achou um absurdo o que aconteceu domingo em Interlagos, o público gostou. A Globo teve pico de 41 pontos, e a ITV, da Inglaterra, registrou sua terceira maior audiência (share de 33,7%) desde que assumiu a F-1 em 1998.

A voz do dono
A GPWC deu o primeiro passo para uma liga paralela a partir de 2008. Nesta semana, arrancou dos dez times uma carta de intenções que deve se transformar em um novo Pacto de Concórdia. Mosley e Ecclestone serão convidados para uma conversa. Se não entrarem em acordo, ficarão com uma F-1 fantasma, sem times e sem carros -a GPWC diz prescindir da marca F-1. O entendimento passa pelas regras e pela nova divisão do bolo. A discussão vai longe.

E-mail mariante@uol.com.br


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