São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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Multa rende mais à FPF do que um jogo

FERNANDO MELLO
da Reportagem Local

A Federação Paulista de Futebol arrecadou mais com as multas de cartões amarelos e vermelhos aplicados aos jogadores do que com a bilheteria de qualquer jogo da primeira divisão do Estadual-99.
Com a aplicação das multas, a FPF recebeu até agora R$ 656 mil. Em nenhuma partida realizada no torneio, a arrecadação com bilheteria chegou a esse valor.
No Paulista-99, cada expulsão dá R$ 2.000 aos cofres da FPF. Pelo primeiro cartão amarelo recebido, o jogador deveria pagar R$ 250. A partir da segunda advertência, a multa automática é de R$ 500.
Mas o paternalismo existente no futebol brasileiro faz com que, na prática, as multas que seriam destinadas aos atletas acabem sendo quitadas pelos clubes.
"Infelizmente, na vontade de não contrariar os atletas, os clubes acabam pagando. Mas acho que cartão bobo, aquele que o jogador recebe por reclamação, deveria ser pago pelo atleta", afirmou o diretor de futebol da Inter de Limeira, José Paschoal Angotti.
O jogo do Estadual-99 com maior presença de público foi realizado no Morumbi, no confronto entre São Paulo e Matonense, na inauguração no novo sistema de iluminação do estádio. Na oportunidade, 48.421 pessoas assistiram ao jogo. O bom público foi resultado da diminuição do preço dos ingressos, de R$ 10 para R$ 3, totalizando uma arrecadação de R$ 144.263,00 -o que representa menos do que um quarto do total obtido com as multas.
Nas semifinais que terminaram quarta-feira, em nenhuma das partidas mais do que 30 mil pessoas compareceram ao Morumbi. Apesar de a federação não divulgar as rendas das partidas, a arrecadação não passou de R$ 300 mil, já que boa parte dos ingressos custava R$ 1 e R$ 5.
Com relação à arrecadação total com bilheteria, apenas São Paulo (R$ 1.091.589) e Palmeiras (R$ 677.653) conseguiram superar a quantia conseguida pela FPF com as multas dos cartões.
Instituída pela federação no início do Estadual com a argumentação de que diminuiria a violência dentro de campo, a troca da suspensão automática pela multa em dinheiro surtiu o efeito esperado: até a segunda fase do Paulista-99, de acordo com a FPF, a média de cartões amarelos caiu de 6,08 no ano passado para 5,64 por partida no atual torneio (queda de 7,36%). As expulsões também tiveram decréscimo: foram de 0,77 em 98 para 0,71 por jogo em 99 (variação de -7,61%).
Como foram realizados mais jogos no Estadual-99, o número de cartões amarelos aplicados subiu de 787 para 951.

Recordista
A Inter de Limeira foi a equipe que mais contribuiu com a "caixinha" dos cartões. No total, pagou à entidade R$ 63.750.
"A quantia realmente pesa no orçamento do clube. Concordo com a idéia de dar a multa desde que ela não atrapalhe a vida financeira do clube. O valor (de R$ 250 e R$ 2.000) é alto demais", afirmou Angotti, diretor do clube.
Durante o campeonato, os jogadores de sua equipe levaram 86 cartões amarelos e 13 vermelhos. "Na ânsia de conseguir fugir do "torneio da Morte" (que define os rebaixados à Série A-2), na primeira fase, nossos atletas jogaram com mais brutalidade e foram advertidos com cartões."
Entre as equipes que disputaram toda a competição -os quatro "grandes" só entraram na segunda fase- a Lusa foi a que menos gastou -R$ 26.750.
As multas também atingem as equipes da segunda divisão do futebol paulista. Por advertência com amarelo, os clubes pagam R$ 300, e, por expulsão, R$ 1.000.
"Não dá para continuar cobrando multas tão altas. A gente recebe uma cota de R$ 15 mil por jogo em casa. Muitos de meus jogadores ganham menos de R$ 1.000 por mês. Como posso cobrar deles? A gente tem que assumir o pagamento", disse o presidente do Juventus, Milton Urcioli.


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