São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Frio

Del Bosque se consagra no comando da Espanha, apesar da fama de ser insensível às emoções de um jogo de futebol

DE JOHANNESBURGO
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Os espanhóis são conhecidos pela paixão e emoção, mas contam com uma "geladeira" no banco de reservas.
Vicente del Bosque, 59, é um treinador raro: evita o protagonismo na beira do gramado, quase não grita com seus comandados, recusa-se a abraçar ou apertar a mão dos substituídos e poucas vezes comemora um gol.
Ontem, ele fez tudo isso e conduziu a Espanha à conquista da Copa da África do Sul, o primeiro título do país na história dos Mundiais.
""Não pensamos apenas em ganhar, o que é importante, mas também em outros valores", disse Del Bosque, ao fazer um discurso em favor do futebol ofensivo no Soccer City após a decisão.
Apesar da euforia dos jogadores e dos jornalistas espanhóis na sala de imprensa em Johannesburgo, o treinador manteve o estilo sóbrio. Mesmo se dizendo feliz pela conquista, ele economizou sorrisos diante das câmeras.
"Fico contente por tudo. O futebol sai prestigiado", afirmou o treinador, que deu uma virada na carreira ao assumir a Espanha em 2008.
Em 2003, Del Bosque acabou demitido por Florentino Pérez, ""galáctico" presidente do Real Madrid, acusado de ser ""um livro velho", pois estaria ultrapassado.
Na passagem pelo clube mais famoso da Espanha, ele havia conquistado a Copa dos Campeões, dois Campeonatos Espanhóis (2001 e 2003), uma Supercopa da Espanha (2001), uma Supercopa da Europa (2002) e um Mundial interclubes (2002).
Substituto de Luis Aragonés após o título da Eurocopa-08, o técnico não se acomodou com os bons resultados e mexeu bastante no time. Ele colocou oito novos atletas no elenco. Campeão em 2008, o brasileiro naturalizado espanhol Marcos Senna foi um dos que perderam vaga com Del Bosque.
O treinador é sincero ao extremo, fato incomum entre os seus colegas de profissão. A maioria não assume suas fraquezas e seus erros.
Na entrevista, ele admitiu que temeu ter sacado o atacante David Villa e o volante Xabi Alonso, dois dos melhores batedores de pênaltis do time. O título poderia ser decidido nas cobranças. ""Temi, mas tinha que fazer alguma coisa. Estávamos perdendo espaços no campo."
Antes da decisão, ele já havia exposto toda a sinceridade. Avesso a dar explicações sobre táticas mirabolantes, como alguns treinadores, o espanhol de Salamanca disse na véspera da final que o jogo histórico era o mais fácil para se preparar os atletas.
"Não preciso falar nada para motivar os jogadores", falou. Sobre sua frieza, disse: "Minha alegria está por dentro. Não sou ator de teatro para expressar meus sentimentos".
(FÁBIO ZANINI, EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS, RODRIGO BUENO, RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)


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