|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Frio
Del Bosque se consagra no comando da Espanha, apesar da fama de ser insensível às emoções de um jogo de futebol
DE JOHANNESBURGO
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
Os espanhóis são conhecidos pela paixão e emoção,
mas contam com uma "geladeira" no banco de reservas.
Vicente del Bosque, 59, é
um treinador raro: evita o
protagonismo na beira do
gramado, quase não grita
com seus comandados, recusa-se a abraçar ou apertar a
mão dos substituídos e poucas vezes comemora um gol.
Ontem, ele fez tudo isso e
conduziu a Espanha à conquista da Copa da África do
Sul, o primeiro título do país
na história dos Mundiais.
""Não pensamos apenas
em ganhar, o que é importante, mas também em outros
valores", disse Del Bosque,
ao fazer um discurso em favor do futebol ofensivo no
Soccer City após a decisão.
Apesar da euforia dos jogadores e dos jornalistas espanhóis na sala de imprensa
em Johannesburgo, o treinador manteve o estilo sóbrio.
Mesmo se dizendo feliz pela
conquista, ele economizou
sorrisos diante das câmeras.
"Fico contente por tudo. O
futebol sai prestigiado", afirmou o treinador, que deu
uma virada na carreira ao assumir a Espanha em 2008.
Em 2003, Del Bosque acabou demitido por Florentino
Pérez, ""galáctico" presidente
do Real Madrid, acusado de
ser ""um livro velho", pois
estaria ultrapassado.
Na passagem pelo clube
mais famoso da Espanha, ele
havia conquistado a Copa
dos Campeões, dois Campeonatos Espanhóis (2001 e
2003), uma Supercopa da Espanha (2001), uma Supercopa da Europa (2002) e um
Mundial interclubes (2002).
Substituto de Luis Aragonés após o título da Eurocopa-08, o técnico não se acomodou com os bons resultados e mexeu bastante no time. Ele colocou oito novos
atletas no elenco. Campeão
em 2008, o brasileiro naturalizado espanhol Marcos Senna foi um dos que perderam
vaga com Del Bosque.
O treinador é sincero ao
extremo, fato incomum entre
os seus colegas de profissão.
A maioria não assume suas
fraquezas e seus erros.
Na entrevista, ele admitiu
que temeu ter sacado o atacante David Villa e o volante
Xabi Alonso, dois dos melhores batedores de pênaltis do
time. O título poderia ser decidido nas cobranças. ""Temi,
mas tinha que fazer alguma
coisa. Estávamos perdendo
espaços no campo."
Antes da decisão, ele já havia exposto toda a sinceridade. Avesso a dar explicações
sobre táticas mirabolantes,
como alguns treinadores, o
espanhol de Salamanca disse na véspera da final que o
jogo histórico era o mais fácil
para se preparar os atletas.
"Não preciso falar nada
para motivar os jogadores",
falou. Sobre sua frieza, disse:
"Minha alegria está por dentro. Não sou ator de teatro para expressar meus sentimentos".
(FÁBIO ZANINI, EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO
COBOS, RODRIGO BUENO, RODRIGO
MATTOS E SÉRGIO RANGEL)
Texto Anterior: Prancheta do PVC: Gol é um detalhe Próximo Texto: Casillas ergue a taça e agarra a namorada na TV Índice
|