São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

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o bom menino

"Não cobro ser titular", diz Kaká

Meia defende Ronaldo, aponta evolução na Europa e reconhece que é favorito a melhor do mundo

"Não penso que tenho uma dívida com o São Paulo", fala astro da seleção, que conta ter vontade de voltar a atuar pelo clube que o revelou

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

O Kaká que chorou ao sofrer entrada violenta de Cocito, do Atlético-PR, no Brasileiro de 2001, quando ele defendia o São Paulo, não existe mais.
Aos 25 anos, o meia do Milan diz que hoje se impõe em campo. E também fora dele. Em entrevista à Folha, na véspera do jogo da seleção, às 21h30, contra o México, Ricardo Izecson dos Santos Leite, ou simplesmente Kaká, criticou a preparação para a Copa de 2006.
Queixou-se das condições de vida do povo brasileiro e da segurança no seu país, que deixou em 2003. Também falou sobre sua vida de "modelo" e da sua relação com a religião e que no futebol o que lhe dá mais prazer é o gol. "A coluna do Tostão na Folha [no último domingo] me fez perceber que eu sou mais atacante do que meia.

 

FOLHA - Considera-se favorito para a eleição de melhor do mundo?
KAKÁ -
Estou entre os favoritos, mas isso depende do meu trabalho. Fui artilheiro e ganhei a Champions [Copa dos Campeões da Europa], agora depende dos treinadores e dos capitães das seleções.

FOLHA - Em que nível vai colocar esse prêmio na sua carreira?
KAKÁ -
Ganhar prêmios individuais é demais, dão uma grande satisfação, mas minha prioridade é sempre ganhar títulos.

FOLHA - Como é ser um dos melhores do mundo e titular ainda discutido da seleção?
KAKÁ -
Seleção é sempre motivação. Nunca vou cobrar ser titular ou não. Isso depende do treinador. Faço meu trabalho, meu melhor. Depois ele escolhe. Às vezes as minhas características podem não servir num momento. Por isso, procuro ser cada vez mais completo.

FOLHA - Como ser mais completo?
KAKÁ -
Eu tinha a característica de meio-campo clássico. Aos poucos, fui ganhando em velocidade, força e marcação, para ter chances diferentes de jogar.

FOLHA - Hoje como você reagiria àquela entrada do Cocito [na ocasião, Kaká chorou muito e precisou ser substituído no jogo que eliminou o São Paulo do Brasileiro].
KAKÁ -
Ali foi um momento que eu fiquei chateado porque não tinha mais condições de jogar. Reagi da maneira como um garoto faz dentro de campo. Hoje, tomo pancada de vários modos e me adaptei a isso. Hoje, quando a marcação é maldosa, é preciso se impor, dizer "estou aqui". Não vou aceitar qualquer tipo de desonestidade.

FOLHA - Acompanha o que acontece no Brasil, fora o futebol?
KAKÁ -
Muitas coisas. Acho que, quando volto ao Brasil, vejo que a economia melhorou, mas as condições do brasileiro não têm sido as melhores. Escuto muitas pessoas criticando. Acho que hoje o fato que afasta as pessoas é a violência.

FOLHA - Pensa em voltar?
KAKÁ -
Gostaria muito de voltar ao São Paulo, principalmente, onde passei a maior parte da minha vida. Mas não sei. Estou superadaptado à Itália e não sei quanto tempo vou ficar lá.

FOLHA - Sente-se em dívida com o São Paulo por não ter ganho nenhum título importante lá?
KAKÁ -
Fiquei pouco tempo como profissional. Não tive grandes oportunidades. Não tive todo esse tempo para demonstrar [o seu melhor futebol]. Não penso que tenha uma dívida, não penso dessa forma.

FOLHA - Com esses anúncios da Armani, você se acha sexy?
KAKÁ -
Quando fiz o contrato, deixei claro que não queria mudar, que gostaria de continuar a ser conhecido como jogador. Quero ser reconhecido pelas conquistas. A campanha é uma troca entre a marca e eu. Mas é o Kaká jogador, eu não vou desfilar, entrar numa passarela.

FOLHA - Como se vê nas fotos?
KAKÁ -
São legais.

FOLHA - Sua mulher tem ciúmes?
KAKÁ -
Não. Até porque sempre faço as fotos sozinho.

FOLHA - O casamento [com Caroline] ajudou na carreira?
KAKÁ -
Me deu estabilidade, ter ela perto ajuda.

FOLHA - Ronaldo ainda tem vaga na seleção?
KAKÁ -
Não sei quais são as motivações que ele tem na seleção, mas, em forma, é um dos melhores do mundo. Sempre falo dele porque é um grande exemplo. Vendo-o nos treinos, no dia-a-dia e nos jogos, com certeza ele é um dos melhores.

FOLHA - O que lhe dá mais prazer no futebol?
KAKÁ -
Ganhar é minha grande motivação, um grande prazer.

FOLHA - Um gol ou um passe?
KAKÁ -
O gol. Sempre foi assim. Isso o Tostão escreveu na sua coluna, que eu não tinha visto daquela forma. Mas tenho mais características de atacante do que de meia. Por isso, acho que gosto mais de fazer o gol.

FOLHA - Um ano depois, você tem um diagnóstico do que deu errado na Copa da Alemanha?
KAKÁ -
Eu acho que foi a preparação. Quando você tem que se preparar para uma prova, você estuda. Quando você vai se preparar para uma Copa, a preparação precisa ser mais focada. Se pudesse mudar alguma coisa, mudaria a preparação.

FOLHA - Principalmente na Suíça?
KAKÁ -
Sim. É muito difícil alguém treinar e se concentrar com 30 mil pessoas assistindo. Isso atrapalhou. Em 2002 a gente treinava fechado, só a imprensa acompanhava.

FOLHA - Dunga é muito diferente de Parreira?
KAKÁ -
O Dunga tem uma coisa boa: faz pouco tempo que parou de jogar. Sabe como o atleta se sente em várias situações.

FOLHA - A relação com a sua igreja mudou?
KAKÁ -
Minha fé é a mesma. Minha fé não é na igreja, minha fé é em Deus e Jesus. Mas continuo com as mesmas convicções com a igreja [Renascer].


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