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o bom menino
"Não cobro ser titular", diz Kaká
Meia defende Ronaldo, aponta evolução na Europa e reconhece que é favorito a melhor do mundo
"Não penso que tenho uma
dívida com o São Paulo", fala
astro da seleção, que conta
ter vontade de voltar a atuar
pelo clube que o revelou
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
O Kaká que chorou ao sofrer
entrada violenta de Cocito, do
Atlético-PR, no Brasileiro de
2001, quando ele defendia o
São Paulo, não existe mais.
Aos 25 anos, o meia do Milan
diz que hoje se impõe em campo. E também fora dele. Em entrevista à Folha, na véspera do
jogo da seleção, às 21h30, contra o México, Ricardo Izecson
dos Santos Leite, ou simplesmente Kaká, criticou a preparação para a Copa de 2006.
Queixou-se das condições de
vida do povo brasileiro e da segurança no seu país, que deixou em 2003. Também falou
sobre sua vida de "modelo" e da
sua relação com a religião e que
no futebol o que lhe dá mais
prazer é o gol. "A coluna do
Tostão na Folha [no último domingo] me fez perceber que eu
sou mais atacante do que meia.
FOLHA - Considera-se favorito para
a eleição de melhor do mundo?
KAKÁ - Estou entre os favoritos, mas isso depende do meu
trabalho. Fui artilheiro e ganhei a Champions [Copa dos
Campeões da Europa], agora
depende dos treinadores e dos
capitães das seleções.
FOLHA - Em que nível vai colocar
esse prêmio na sua carreira?
KAKÁ - Ganhar prêmios individuais é demais, dão uma grande
satisfação, mas minha prioridade é sempre ganhar títulos.
FOLHA - Como é ser um dos melhores do mundo e titular ainda discutido da seleção?
KAKÁ - Seleção é sempre motivação. Nunca vou cobrar ser titular ou não. Isso depende do
treinador. Faço meu trabalho,
meu melhor. Depois ele escolhe. Às vezes as minhas características podem não servir num
momento. Por isso, procuro ser
cada vez mais completo.
FOLHA - Como ser mais completo?
KAKÁ - Eu tinha a característica de meio-campo clássico. Aos
poucos, fui ganhando em velocidade, força e marcação, para
ter chances diferentes de jogar.
FOLHA - Hoje como você reagiria
àquela entrada do Cocito [na ocasião, Kaká chorou muito e precisou
ser substituído no jogo que eliminou
o São Paulo do Brasileiro].
KAKÁ - Ali foi um momento
que eu fiquei chateado porque
não tinha mais condições de jogar. Reagi da maneira como um
garoto faz dentro de campo.
Hoje, tomo pancada de vários
modos e me adaptei a isso. Hoje, quando a marcação é maldosa, é preciso se impor, dizer "estou aqui". Não vou aceitar qualquer tipo de desonestidade.
FOLHA - Acompanha o que acontece no Brasil, fora o futebol?
KAKÁ - Muitas coisas. Acho
que, quando volto ao Brasil, vejo que a economia melhorou,
mas as condições do brasileiro
não têm sido as melhores. Escuto muitas pessoas criticando.
Acho que hoje o fato que afasta
as pessoas é a violência.
FOLHA - Pensa em voltar?
KAKÁ - Gostaria muito de voltar ao São Paulo, principalmente, onde passei a maior parte da
minha vida. Mas não sei. Estou
superadaptado à Itália e não sei
quanto tempo vou ficar lá.
FOLHA - Sente-se em dívida com o
São Paulo por não ter ganho nenhum título importante lá?
KAKÁ - Fiquei pouco tempo como profissional. Não tive grandes oportunidades. Não tive todo esse tempo para demonstrar
[o seu melhor futebol]. Não
penso que tenha uma dívida,
não penso dessa forma.
FOLHA - Com esses anúncios da Armani, você se acha sexy?
KAKÁ - Quando fiz o contrato,
deixei claro que não queria mudar, que gostaria de continuar a
ser conhecido como jogador.
Quero ser reconhecido pelas
conquistas. A campanha é uma
troca entre a marca e eu. Mas é
o Kaká jogador, eu não vou desfilar, entrar numa passarela.
FOLHA - Como se vê nas fotos?
KAKÁ - São legais.
FOLHA - Sua mulher tem ciúmes?
KAKÁ - Não. Até porque sempre faço as fotos sozinho.
FOLHA - O casamento [com Caroline] ajudou na carreira?
KAKÁ - Me deu estabilidade,
ter ela perto ajuda.
FOLHA - Ronaldo ainda tem vaga
na seleção?
KAKÁ - Não sei quais são as
motivações que ele tem na seleção, mas, em forma, é um dos
melhores do mundo. Sempre
falo dele porque é um grande
exemplo. Vendo-o nos treinos,
no dia-a-dia e nos jogos, com
certeza ele é um dos melhores.
FOLHA - O que lhe dá mais prazer
no futebol?
KAKÁ - Ganhar é minha grande
motivação, um grande prazer.
FOLHA - Um gol ou um passe?
KAKÁ - O gol. Sempre foi assim.
Isso o Tostão escreveu na sua
coluna, que eu não tinha visto
daquela forma. Mas tenho mais
características de atacante do
que de meia. Por isso, acho que
gosto mais de fazer o gol.
FOLHA - Um ano depois, você tem
um diagnóstico do que deu errado
na Copa da Alemanha?
KAKÁ - Eu acho que foi a preparação. Quando você tem que se
preparar para uma prova, você
estuda. Quando você vai se preparar para uma Copa, a preparação precisa ser mais focada.
Se pudesse mudar alguma coisa, mudaria a preparação.
FOLHA - Principalmente na Suíça?
KAKÁ - Sim. É muito difícil alguém treinar e se concentrar
com 30 mil pessoas assistindo.
Isso atrapalhou. Em 2002 a
gente treinava fechado, só a imprensa acompanhava.
FOLHA - Dunga é muito diferente
de Parreira?
KAKÁ - O Dunga tem uma coisa
boa: faz pouco tempo que parou de jogar. Sabe como o atleta
se sente em várias situações.
FOLHA - A relação com a sua igreja
mudou?
KAKÁ - Minha fé é a mesma.
Minha fé não é na igreja, minha
fé é em Deus e Jesus. Mas continuo com as mesmas convicções com a igreja [Renascer].
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