São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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LOS GRINGOS PAUL DOYLE

O dérbi da angústia


A disputa entre Liverpool e Everton mais lembra dois carecas brigando por um pente


OS JOGOS entre Liverpool e Everton eram conhecidos, no passado, como o Dérbi Amistoso. Os torcedores dos dois times de Merseyside caminhavam juntos até o estádio, mais como irmãos do que como inimigos. Nos últimos 20 anos, essa relação mudou.
Quando os dois times, mal na tabela, jogarem no fim de semana, será em um ambiente de desprezo.
O Dérbi Amistoso foi vítima indireta do desastre do estádio Heysel, quando torcedores do Liverpool promoveram quebra-quebra antes da final da Copa dos Campeões contra a Juventus, em 1985. Morreram 39 pessoas. Punidos, os clubes ingleses foram banidos de torneios europeus por cinco anos.
O Everton venceu a liga inglesa em 1985 e 1987, mas, devido aos atos da torcida do Liverpool, o melhor Everton da história nunca pôde jogar a Copa dos Campeões. O resultado foi muita amargura.
Se, no passado, fazer parte da melhor equipe de Merseyside significava ser um dos melhores times do mundo, a briga do fim de semana mais lembra dois carecas brigando por um pente -e será ainda mais intensa por isso. Nos últimos 20 anos, nenhum jogo teve tantos cartões vermelhos. É provável que haja mais expulsões neste jogo.
O curioso é que os torcedores do Liverpool se sentirão quase encorajados se o jogo no Goodison Park acabar em brigas. Tornar os acontecimentos em campo caóticos pode dificultar os passes do Everton, que têm sido muito melhores que os do Liverpool nesta temporada. Além disso, os torcedores do Liverpool querem ver sinais de rebelião em seus jogadores, que desde o início do Inglês dão a impressão de terem se conformado com seu destino nada animador. É possível que a tática cautelosa usada pelo técnico Roy Hodgson em jogos fora de casa tenha agravado a negatividade que inundou o clube devido aos seus problemas financeiros e à tentativa contínua de substituir seus donos americanos atuais por outros mais ricos.
Goodison Park seria um lugar perfeito para começar a atacar. Isso significaria marcar gols, mas, se isso estiver fora do alcance, o mínimo que os torcedores vão exigir são entradas duras. É irônico que, quando a mídia inglesa finalmente começa a pedir que sejam reprimidas as jogadas brutais (após a entrada de De Jong contra Ben Arfa), o técnico de um dos clubes mais famosos do país possa ser obrigado a depender da presença física dos atletas para manter seu emprego.


PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de CLARA ALLAIN


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