São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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FUTEBOL

Dinâmica da dupla dinâmica

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Na rodada decisiva de amanhã do Campeonato Paulista, as atenções estão mais voltadas para a possibilidade de rebaixamento do Corinthians do que propriamente para a definição dos classificados para a próxima fase. Quem diria que o alvinegro, campeão estadual do ano passado e vice-campeão brasileiro em 2002, seria obrigado a torcer pelo arqui-rival São Paulo para não correr o risco de cair?
A situação é grave e deveria servir de motivação para mudanças na direção corintiana, que em menos de um ano sucateou o time e queimou várias levas de treinadores e atletas. Até quando essa incompetência seguirá impune?
 
Leio na "Placar" deste mês, em ótima reportagem de Marília Ruiz sobre Diego, que o jovem meia santista se sente vítima de um preconceito às avessas, pelo fato de ser "branquinho, de classe média, com cabelo liso". O pai do jogador vai além, denunciando um suposto "complô" contra seu filho no próprio Santos, que estaria dando muito mais atenção e prestígio a Robinho, embora Diego tenha surgido primeiro.
Deixando de lado a ciumeira paterna e os assuntos extra-campo, é curioso notar que toda vez que se fala em Diego se pensa em Robinho -e vice-versa. Seja para exaltar um em detrimento do outro, seja para glorificar ou condenar os dois em bloco. Parece até que eles são unidos por um cordão umbilical que só será rompido quando saírem do Santos.
Mas o fato é que os dois são muito diferentes, e não apenas na cor da pele, no número da camisa e no jeito de jogar.
O que me interessa aqui é comentar as diferentes trajetórias que Diego e Robinho parecem ter percorrido nos últimos anos, apesar de estarem sempre muito próximos.
Há cerca de um ano, escrevi que Diego me parecia um jogador mais "pronto", enquanto Robinho ainda tinha que amadurecer muito. Muita gente tinha opinião parecida. Aparentemente, o próprio Diego acreditou nessa impressão. Assumiu ares de quem já sabe tudo e não precisa evoluir.
Como resultado, continuou apresentando os defeitos apontados por todos: o de conduzir demais a bola, o de cair a toda hora na esperança de que o juiz aponte falta, o de reclamar demais da arbitragem e dos adversários.
Não freqüento a Vila Belmiro, portanto não sei até que ponto Leão procura corrigir essas falhas ou se mostra conivente com elas. Uma coisa é certa: a mania do treinador de sempre culpar os juízes pelos insucessos de sua equipe age como um reforço dessa tendência de Diego de cavar a falta em vez de fazer o jogo.
Robinho surpreendeu os observadores no sentido oposto. Sem abrir mão das pedaladas, tornou seu futebol mais objetivo, passou a empenhar-se também no desarme e aperfeiçoou fundamentos como o chute e a cabeçada, como a do belo gol que fez anteontem contra o Barcelona do Equador. É, hoje, um moleque com futebol de gente grande.

Olha quem voltou
Uma das ressurreições mais surpreendentes da temporada, ao lado da de Basílio no Santos, é a do atacante Valdir, do Vasco. Depois de anos de virtual ostracismo, ele hoje é o artilheiro do Estadual do Rio e tem brilhado nos jogos de seu time. Mais uma prova de que, no futebol, é sempre temerário decretar prematuramente o fim de uma carreira.

Chance de ouro
Com as prováveis ausências de Rivaldo e Ronaldo, a partida do Brasil contra o Paraguai, no dia 31, pelas eliminatórias da Copa-2006, poderá ser a grande chance de Kaká e de Luis Fabiano na seleção. O primeiro pode se firmar como titular. O segundo, tirar Adriano do páreo pela posição de "primeiro reserva" de Ronaldo.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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