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AÇÃO
No topo do mundo
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
Está aberta a temporada
2004 de "caça ao Everest".
Como acontece há dez anos, o período não chega sem levantar polêmicas sobre o tema: comercializar ou não as ascensões à maior
montanha da Terra? Os tradicionalistas alegam que, na hora em
que entra financiamento, o que
deveria ser sagrado vira comum,
perde-se a grandiosidade, a poesia. Para os antenados com o
mundo contemporâneo, a poesia
está em socializar o que até pouco
tempo era inalcançável, em fazer
pessoas ordinárias serem capazes
de atitudes extraordinárias.
Antes de irmos mais longe, alguns números: até o ano passado,
1922 pessoas haviam colocado o
pé no topo do mundo. Nos últimos seis verões, houve uma média de 164 subidas entre maio e
agosto. Só em 2003 foram 264. Em
um único dia de maio foram registradas 118 "chegadas". Isso sem
falar que alguns "clientes" chegam a desembolsar até US$ 65
mil para escalar o Everest com a
ajuda de um guia. Em 2003 teve
dias de trânsito pesado lá em cima: uma imagem que, dizem,
deixou sir Edmund Hillary, que
primeiro domou o pico, perplexo.
Em meio ao fogo cruzado, a revista "Outside" foi a campo e ouviu as duas partes. De um lado, o
alpinista Dave Hahn, que atualmente trabalha como guia. Do
outro, o também escalador Greg
Child, que diz que a ascensão à
maior montanha da Terra, de tão
avacalhada, virou um subesporte.
Para Child, o Everest deveria
continuar a ser um laboratório de
grande altitude. Alpinistas experimentados poderiam usar a
montanha para testar a resistência humana, para avaliar ascensões sem a ajuda de oxigênio, para estudar novas rotas. O que o
incomoda é a repetição sem originalidade dos caminhos abertos
há 50 anos, a fixação de cordas e
escadas em pontos-chave e os
acampamentos montados sempre
nos mesmos locais da montanha.
Para Hahn, a resposta de por
que escalar em grupo é simples e
foi dada por George Mallory em
1923. Disse o primeiro homem a
se arriscar na montanha: "Vou
porque ela está lá". É isso o que
pensa Hahn. "Gosto de escalar o
Everest, gosto de ajudar pessoas a
escalá-lo, gosto de falar sobre ele e
gosto até do show de slides que fazemos na volta", explicou. Para
Hahn, mesmo que a ascensão hoje em dia seja mais fácil do que
antigamente, escalar a montanha
ainda é tarefa duríssima e envolve risco. A quem diz que não existe mais magia na caminhada, ele
responde que não há aquele que
volte da mesma forma que foi.
A verdade é que para muitos seria conveniente que o Everest
continuasse com sua fama de
inalcançável: isso só engrandeceria o feito daqueles que chegaram
lá. Mas é também indiscutível
que o tráfego pesado interfere na
estrutura da montanha, que todos os anos recebe uma maior
quantidade de lixo.
Seja como for, centenas de montanhistas estão agora mesmo na
base do Everest esperando pelas
melhores condições climáticas para iniciar a subida. Se as previsões
se concretizarem, pelo menos 250
novas ascensões serão registradas
em 2004. E assim o Everest fica cada dia mais perto.
Teahupoo WCT
A peruana Sofia Mulanovich, 20, conquistou sua segunda vitória
consecutiva e está em segundo no ranking. Rochelle Ballard, 33, segunda no Taiti, é líder. A categoria masculina aguardava condições.
X-Games Latino-Americanos - skate
Bob Burnquist deu um susto ao cair de ombro quando tentava uma
manobra mais arrojada. Retirado de maca, não viu Mineirinho, campeão no vertical, executar o 900 e dedicar o troféu a ele.
Ciclismo
O londrinense Luciano Pagliarini é o único brasileiro na Volta da Itália, que começou no final de semana. Especialista em corridas planas,
pode chegar bem nessas etapas.
E-mail sarli@trip.com.br
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