São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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AÇÃO

No topo do mundo

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Está aberta a temporada 2004 de "caça ao Everest". Como acontece há dez anos, o período não chega sem levantar polêmicas sobre o tema: comercializar ou não as ascensões à maior montanha da Terra? Os tradicionalistas alegam que, na hora em que entra financiamento, o que deveria ser sagrado vira comum, perde-se a grandiosidade, a poesia. Para os antenados com o mundo contemporâneo, a poesia está em socializar o que até pouco tempo era inalcançável, em fazer pessoas ordinárias serem capazes de atitudes extraordinárias.
Antes de irmos mais longe, alguns números: até o ano passado, 1922 pessoas haviam colocado o pé no topo do mundo. Nos últimos seis verões, houve uma média de 164 subidas entre maio e agosto. Só em 2003 foram 264. Em um único dia de maio foram registradas 118 "chegadas". Isso sem falar que alguns "clientes" chegam a desembolsar até US$ 65 mil para escalar o Everest com a ajuda de um guia. Em 2003 teve dias de trânsito pesado lá em cima: uma imagem que, dizem, deixou sir Edmund Hillary, que primeiro domou o pico, perplexo.
Em meio ao fogo cruzado, a revista "Outside" foi a campo e ouviu as duas partes. De um lado, o alpinista Dave Hahn, que atualmente trabalha como guia. Do outro, o também escalador Greg Child, que diz que a ascensão à maior montanha da Terra, de tão avacalhada, virou um subesporte.
Para Child, o Everest deveria continuar a ser um laboratório de grande altitude. Alpinistas experimentados poderiam usar a montanha para testar a resistência humana, para avaliar ascensões sem a ajuda de oxigênio, para estudar novas rotas. O que o incomoda é a repetição sem originalidade dos caminhos abertos há 50 anos, a fixação de cordas e escadas em pontos-chave e os acampamentos montados sempre nos mesmos locais da montanha.
Para Hahn, a resposta de por que escalar em grupo é simples e foi dada por George Mallory em 1923. Disse o primeiro homem a se arriscar na montanha: "Vou porque ela está lá". É isso o que pensa Hahn. "Gosto de escalar o Everest, gosto de ajudar pessoas a escalá-lo, gosto de falar sobre ele e gosto até do show de slides que fazemos na volta", explicou. Para Hahn, mesmo que a ascensão hoje em dia seja mais fácil do que antigamente, escalar a montanha ainda é tarefa duríssima e envolve risco. A quem diz que não existe mais magia na caminhada, ele responde que não há aquele que volte da mesma forma que foi.
A verdade é que para muitos seria conveniente que o Everest continuasse com sua fama de inalcançável: isso só engrandeceria o feito daqueles que chegaram lá. Mas é também indiscutível que o tráfego pesado interfere na estrutura da montanha, que todos os anos recebe uma maior quantidade de lixo.
Seja como for, centenas de montanhistas estão agora mesmo na base do Everest esperando pelas melhores condições climáticas para iniciar a subida. Se as previsões se concretizarem, pelo menos 250 novas ascensões serão registradas em 2004. E assim o Everest fica cada dia mais perto.

Teahupoo WCT
A peruana Sofia Mulanovich, 20, conquistou sua segunda vitória consecutiva e está em segundo no ranking. Rochelle Ballard, 33, segunda no Taiti, é líder. A categoria masculina aguardava condições.

X-Games Latino-Americanos - skate
Bob Burnquist deu um susto ao cair de ombro quando tentava uma manobra mais arrojada. Retirado de maca, não viu Mineirinho, campeão no vertical, executar o 900 e dedicar o troféu a ele.

Ciclismo
O londrinense Luciano Pagliarini é o único brasileiro na Volta da Itália, que começou no final de semana. Especialista em corridas planas, pode chegar bem nessas etapas.

E-mail sarli@trip.com.br


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