|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Ainda o horror
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Nesta semana continuaram as discussões sobre o garoto que morreu depois de ser
agredido barbaramente em dia
de jogo. É ótimo que continuem,
porque não podemos esquecer.
Mas não ajuda muito dizer "a
torcida do Palmeiras fez mais
uma vítima" ou "a torcida organizada matou mais um".
Isso só alimenta um ódio difuso,
generalizado, que transforma
pessoas em inimigos indiscriminados, potenciais vítimas ou carrascos sem identidade.
Nesse episódio, indivíduos bestializados, ignorantes, desprovidos de toda noção de decência,
hombridade e respeito, bateram
em um menino caído até fazer
um estrago no cérebro dele. Quem
são essas pessoas? O que vai acontecer com elas?
Pouco importa se vestem a camisa de uma organizada, um time ou uma banda de rock. Se fazem parte de uma escola de samba ou uma academia. Cometeram um crime grave, uma covardia torpe, horrenda, imperdoável
e têm de ser presos. Não podem
continuar soltos por aí achando
que a questão é só não ser pego...
Impunidade dá nisso -não temer ser visto praticando uma
atrocidade, não ter medo de ser
pego. De que adianta aumentar
as penas se o sujeito acha que não
vai acontecer nada (já que, muitas vezes, não acontece mesmo)?
Por outro lado, adianta fechar a
organizada e deixar essas pessoas
de valores profundamente corroídos soltas? Sem a torcida, elas vão
começar a dar valor à vida, a respeitar outros torcedores e também os velhos, crianças e mulheres? Claro que não!
Quem procura uma instituição
apenas para se juntar a outros
vândalos não vai se "regenerar"
se o galpão for fechado. Não vão
faltar companhias para atitudes
covardes; há várias maneiras de
dar vazão à ignorância, à macheza besta. Quem dera o futebol fosse um interesse verdadeiro!
A sociedade -pais, escola, mídia- precisa formar crianças,
adolescentes e jovens que não
achem que a violência é bonita, é
justificável, é inevitável ou motivo de orgulho. Que não achem
que é divertido quebrar a cara de
alguém. Que se lembrem que não
há nada mais sagrado que a vida.
É um absurdo que se considere
uma camisa de time ou de torcida
mais importante do que uma vida, mas todos nós temos, de alguma maneira, dado mais valor a
um objeto do que ao ser humano.
A punição aos agressores precisa acontecer, ou estaremos dando
mais uma vez o recado que fica
tudo por isso mesmo. Mas, se uma
filha minha for agredida, não me
consola muito saber que o agressor será punido. Eu quero que ela
possa andar por aí em segurança,
em dia de jogo ou qualquer outro.
Quero um mundo mais saudável,
mais decente, mais humano. Enquanto a vida for tão desrespeitada e a morte tão banalizada, fica
difícil acreditar que conseguiremos ensinar respeito. Se é consenso dizer que a violência em campo
incita a arquibancada, o que dizer da violência em toda parte?
Punição aos agressores e medidas de prevenção à violência: tenho certeza que é a melhor tática.
Não é bem assim
O promotor Fernando Capez,
em entrevista, disse que um
problema que dificulta o combate à violência é o fato de muitos envolvidos serem menores
de idade e, portanto, inimputáveis. Não é bem assim, promotor, e o senhor sabe... Embora
essa seja uma citação literal do
Código Penal, sabemos que os
menores de 18 anos estão sujeitos às medidas previstas no
ECA, entre elas a internação.
Que deveria produzir melhores
resultados, é óbvio -mas não
ajuda nada dizer que menores
são inimputáveis como se isso
fosse sinônimo de "nada pode
ser feito em relação a eles".
B.I.Duvidoso
Os clubes punidos por "distração" da CBF não pretendem
processá-la?
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: No topo do mundo Próximo Texto: Futebol: Palmeiras empata, e Marcos sai irritado Índice
|