São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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FUTEBOL

Ainda o horror

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Nesta semana continuaram as discussões sobre o garoto que morreu depois de ser agredido barbaramente em dia de jogo. É ótimo que continuem, porque não podemos esquecer.
Mas não ajuda muito dizer "a torcida do Palmeiras fez mais uma vítima" ou "a torcida organizada matou mais um".
Isso só alimenta um ódio difuso, generalizado, que transforma pessoas em inimigos indiscriminados, potenciais vítimas ou carrascos sem identidade.
Nesse episódio, indivíduos bestializados, ignorantes, desprovidos de toda noção de decência, hombridade e respeito, bateram em um menino caído até fazer um estrago no cérebro dele. Quem são essas pessoas? O que vai acontecer com elas?
Pouco importa se vestem a camisa de uma organizada, um time ou uma banda de rock. Se fazem parte de uma escola de samba ou uma academia. Cometeram um crime grave, uma covardia torpe, horrenda, imperdoável e têm de ser presos. Não podem continuar soltos por aí achando que a questão é só não ser pego...
Impunidade dá nisso -não temer ser visto praticando uma atrocidade, não ter medo de ser pego. De que adianta aumentar as penas se o sujeito acha que não vai acontecer nada (já que, muitas vezes, não acontece mesmo)? Por outro lado, adianta fechar a organizada e deixar essas pessoas de valores profundamente corroídos soltas? Sem a torcida, elas vão começar a dar valor à vida, a respeitar outros torcedores e também os velhos, crianças e mulheres? Claro que não!
Quem procura uma instituição apenas para se juntar a outros vândalos não vai se "regenerar" se o galpão for fechado. Não vão faltar companhias para atitudes covardes; há várias maneiras de dar vazão à ignorância, à macheza besta. Quem dera o futebol fosse um interesse verdadeiro!
A sociedade -pais, escola, mídia- precisa formar crianças, adolescentes e jovens que não achem que a violência é bonita, é justificável, é inevitável ou motivo de orgulho. Que não achem que é divertido quebrar a cara de alguém. Que se lembrem que não há nada mais sagrado que a vida. É um absurdo que se considere uma camisa de time ou de torcida mais importante do que uma vida, mas todos nós temos, de alguma maneira, dado mais valor a um objeto do que ao ser humano.
A punição aos agressores precisa acontecer, ou estaremos dando mais uma vez o recado que fica tudo por isso mesmo. Mas, se uma filha minha for agredida, não me consola muito saber que o agressor será punido. Eu quero que ela possa andar por aí em segurança, em dia de jogo ou qualquer outro. Quero um mundo mais saudável, mais decente, mais humano. Enquanto a vida for tão desrespeitada e a morte tão banalizada, fica difícil acreditar que conseguiremos ensinar respeito. Se é consenso dizer que a violência em campo incita a arquibancada, o que dizer da violência em toda parte?
Punição aos agressores e medidas de prevenção à violência: tenho certeza que é a melhor tática.

Não é bem assim
O promotor Fernando Capez, em entrevista, disse que um problema que dificulta o combate à violência é o fato de muitos envolvidos serem menores de idade e, portanto, inimputáveis. Não é bem assim, promotor, e o senhor sabe... Embora essa seja uma citação literal do Código Penal, sabemos que os menores de 18 anos estão sujeitos às medidas previstas no ECA, entre elas a internação. Que deveria produzir melhores resultados, é óbvio -mas não ajuda nada dizer que menores são inimputáveis como se isso fosse sinônimo de "nada pode ser feito em relação a eles".

B.I.Duvidoso
Os clubes punidos por "distração" da CBF não pretendem processá-la?

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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