São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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XICO SÁ

Na várzea da vida


Na farra da Copa, a macharada em desespero insiste em tratar as mulheres como Amélias da bola


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, por mais que elas avancem em todas as áreas, inclusive no domínio sobre a lei do impedimento, marmanjos continuam tratando as mulheres como Amélias da bola.
Durante a farra da Copa, a gozação porco-chauvinista é sempre revista e ampliada. O macho quer fazer do ludopédio um monopólio a serviço da sua testosterona e não se conforma com a queda que as fêmeas possuem, cada vez maior, pelo esporte.
A selvageria que vemos é fundamentada em um manual que circula desde o princípio da internet. Neste ano, porém, com algumas modificações que o tornaram ainda mais sacana, o breviário do homem copeiro virou um hit, corrente da macharada.
Bobagens, meu bem, bobagens, com alguns itens engraçados, mas reveladores do nosso desespero em perder espaço na derradeira bastilha da guerra dos sexos. Que comandem plataformas de petróleo, que governem países, que nos cantem, que nos sustentem, que pisem em Marte e em Vênus, tudo isso pode. Menos matar a autoridade no universo futebolístico.
O manual do copeiro recomenda inicialmente a posse 100% do controle remoto por parte do homem da casa. Determina que as moças, caso passem diante da TV na hora do jogo, rastejem para não atrapalhar nem distrair os mancebos. Até entenderia tal manifesto durante um embate decisivo do nosso time do coração, um Santos, um Corinthians, um Palmeiras, um São Paulo, uma Lusa, para ficarmos aqui em plagas bandeirantes.
Numa Copa, que é mais festa do que futebol de verdade, antes a pátria em shortinhos passando na nossa frente do que a monotonia das partidas. Mais um tema do breviário: "Nos jogos eu estarei cego, surdo e mudo, exceto nos casos em que eu solicite que me encha o copo de cerveja, ou peça a você a gentileza de me trazer algo para comer. Você estará fora de si caso ache que irei ouvi-la".
É o desespero inconsciente do cara na tentativa de resgatar a Amélia por meio do domínio futebolístico. Dá-lhe Sigmund. Perdeu, playboy, perdeu, e cuidado para não levar bola nas costas.
Ela pode aproveitar sua tara para dividir o controle remoto com outro rapaz, digamos assim, menos copeiro e mais a favor do romantismo da várzea que é a vida.

xico.folha@uol.com.br


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