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"Sr. Olimpíada" diz que vai cobrar legado do Rio
Gilbert Felli explica que Brasil precisa usar bem as obras para ter Jogos de 2016
Dirigente responsável por gerenciar sedes que vão receber os Jogos Olímpicos, suíço discorda de plano adotado para mudar o Rio
DA REPORTAGEM LOCAL
O Comitê Olímpico Internacional temia perder o controle
de seu mais nobre produto
quando convocou Gilbert Felli
para uma missão especial.
Em 2003, o suíço passou a
ocupar o cargo de diretor de Jogos Olímpicos da entidade.
Sua tarefa é gerenciar os custos cada vez mais elevados e o
gigantismo das Olimpíadas,
ajudando os países que recebem o evento a planejar o legado e não se atolar em dívidas.
Pela influência que passou a
exercer na entidade, ganhou o
apelido de "Senhor Olimpíada."
Como o Rio já é candidato ao
evento de 2016, Felli afirma que
vai prestar atenção no Pan-Americano. Ele não fala diretamente sobre os projetos do torneio, mas debate conceitos.
Então, identifica diferenças
pontuais entre o seu pensamento e a forma com que o Rio
conduz o testamento do Pan. E
afirma que o Brasil vai precisar
zelar pelo pós-uso das instalações se quiser receber os Jogos
Olímpicos daqui a nove anos.
Arquiteto formado em Gênova (Itália), Felli falou à Folha
da Suíça.
(GUILHERME ROSEGUINI)
FOLHA - Quando e por que a discussão sobre o legado de um evento se
tornou importante para o COI?
GILBERT FELLI - O tema sempre
esteve presente nas discussões,
mas ganhou outro status a partir da década de 80. Percebemos que alguns países se transformavam para receber a Olimpíada e colhiam frutos por décadas. Outros erravam e pagavam caro. Montréal, no Canadá,
arcou com dívidas remanescentes dos Jogos de 1976 até
pouco tempo atrás. Por isso o
legado é hoje uma prioridade.
FOLHA - Como, então, se planeja
uma praça esportiva?
FELLI - Com cuidado. É importante definir antes da competição quais são as demandas do
país. Se um estádio corre o risco
de não ser utilizado pois não há
mercado para aquele esporte,
construam algo temporário.
Nos nossos dossiês de candidaturas, exigimos detalhes sobre
o legado das instalações. Quem
não explicar o que vai fazer
após o torneio perde pontos.
FOLHA - O Rio anunciou que o Pan é
uma ótima oportunidade para
transformar a cidade e depois tentar
a Olimpíada. O senhor pensa assim?
FELLI - Não conheço os projetos
do Rio, mas vamos debater conceitos. Acredito que um evento
esportivo não pode ser uma
desculpa para políticos dizerem
que vão reformar uma cidade. É
preciso que exista um plano de
transformação, que se imagine
o local dentro de 20 ou 25 anos.
Nesse projeto, o esporte aparece como ferramenta de transformação. Na década de 90,
Barcelona tinha uma estratégia
para mudar a cidade e aproveitou a Olimpíada para captar recursos. O evento era parte do
plano e não o plano em si.
FOLHA - O Brasil usou estrangeiros
para projetar algumas instalações.
Isso é um problema para se preparar
o legado, já que o profissional não
está habituado às demandas?
FELLI - De forma alguma. Se o
Brasil optou por arquitetos e
projetos do exterior, deveria
avisar exatamente qual é o destino que cada estádio, cada piscina vai ter após a competição.
A responsabilidade é do comitê
organizador.
FOLHA - O Rio pode perder a Olimpíada se o legado do Pan não for
bom para o Brasil ?
FELLI - Você está sendo precipitado. Primeiro, vamos esperar o
evento ocorrer. A análise do legado só poderá ser feita depois.
Mas é claro que o Brasil está
tendo uma ótima chance de se
mostrar ao mundo com o Pan.
Se o torneio não deixar um legado compatível aos investimentos, tudo será avaliado na
candidatura aos Jogos de 2016.
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