São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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"Sr. Olimpíada" diz que vai cobrar legado do Rio

Gilbert Felli explica que Brasil precisa usar bem as obras para ter Jogos de 2016

Dirigente responsável por gerenciar sedes que vão receber os Jogos Olímpicos, suíço discorda de plano adotado para mudar o Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

O Comitê Olímpico Internacional temia perder o controle de seu mais nobre produto quando convocou Gilbert Felli para uma missão especial.
Em 2003, o suíço passou a ocupar o cargo de diretor de Jogos Olímpicos da entidade.
Sua tarefa é gerenciar os custos cada vez mais elevados e o gigantismo das Olimpíadas, ajudando os países que recebem o evento a planejar o legado e não se atolar em dívidas.
Pela influência que passou a exercer na entidade, ganhou o apelido de "Senhor Olimpíada."
Como o Rio já é candidato ao evento de 2016, Felli afirma que vai prestar atenção no Pan-Americano. Ele não fala diretamente sobre os projetos do torneio, mas debate conceitos.
Então, identifica diferenças pontuais entre o seu pensamento e a forma com que o Rio conduz o testamento do Pan. E afirma que o Brasil vai precisar zelar pelo pós-uso das instalações se quiser receber os Jogos Olímpicos daqui a nove anos.
Arquiteto formado em Gênova (Itália), Felli falou à Folha da Suíça. (GUILHERME ROSEGUINI)

 

FOLHA - Quando e por que a discussão sobre o legado de um evento se tornou importante para o COI?
GILBERT FELLI
- O tema sempre esteve presente nas discussões, mas ganhou outro status a partir da década de 80. Percebemos que alguns países se transformavam para receber a Olimpíada e colhiam frutos por décadas. Outros erravam e pagavam caro. Montréal, no Canadá, arcou com dívidas remanescentes dos Jogos de 1976 até pouco tempo atrás. Por isso o legado é hoje uma prioridade.

FOLHA - Como, então, se planeja uma praça esportiva?
FELLI
- Com cuidado. É importante definir antes da competição quais são as demandas do país. Se um estádio corre o risco de não ser utilizado pois não há mercado para aquele esporte, construam algo temporário. Nos nossos dossiês de candidaturas, exigimos detalhes sobre o legado das instalações. Quem não explicar o que vai fazer após o torneio perde pontos.

FOLHA - O Rio anunciou que o Pan é uma ótima oportunidade para transformar a cidade e depois tentar a Olimpíada. O senhor pensa assim?
FELLI
- Não conheço os projetos do Rio, mas vamos debater conceitos. Acredito que um evento esportivo não pode ser uma desculpa para políticos dizerem que vão reformar uma cidade. É preciso que exista um plano de transformação, que se imagine o local dentro de 20 ou 25 anos. Nesse projeto, o esporte aparece como ferramenta de transformação. Na década de 90, Barcelona tinha uma estratégia para mudar a cidade e aproveitou a Olimpíada para captar recursos. O evento era parte do plano e não o plano em si.

FOLHA - O Brasil usou estrangeiros para projetar algumas instalações. Isso é um problema para se preparar o legado, já que o profissional não está habituado às demandas?
FELLI
- De forma alguma. Se o Brasil optou por arquitetos e projetos do exterior, deveria avisar exatamente qual é o destino que cada estádio, cada piscina vai ter após a competição. A responsabilidade é do comitê organizador.

FOLHA - O Rio pode perder a Olimpíada se o legado do Pan não for bom para o Brasil ?
FELLI
- Você está sendo precipitado. Primeiro, vamos esperar o evento ocorrer. A análise do legado só poderá ser feita depois. Mas é claro que o Brasil está tendo uma ótima chance de se mostrar ao mundo com o Pan. Se o torneio não deixar um legado compatível aos investimentos, tudo será avaliado na candidatura aos Jogos de 2016.


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