São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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JUCA KFOURI

O adeus mais difícil


Por que um gênio da bola como Ronaldo Fenômeno também perdeu a hora de parar?


DOIS CRAQUES explicam por que é tão duro pendurar as chuteiras: para Falcão, o Rei de Roma, "só o jogador de futebol morre duas vezes"; para Sócrates, o Doutor, "jogadores não abandonam o futebol. O futebol é que os abandona".
O Rei Pelé soube parar, deixando saudades.
Zico e Zidane também, mas são casos raros.
Romário inventou os tais mil gols, embora soubesse que eram os mil gols só dele, incluídos até os que fez como infantil. E jogou até depois dos 40.
Rivaldo está aí, quase aos 39, insistindo, pelo prazer de jogar, pela vaidade de ouvir uma multidão entoar seu nome.
Sabe lá o que é ter o nome cantado, sistematicamente, por 50, 80, cem mil pessoas?
Políticos, em regra, só em momentos muito especiais. Ou no funeral.
E popstars, quando fazem shows em estádios de futebol.
Já os atletas, com frequência, duas vezes por semana, razão pela qual Zico certa vez declarou que tinha medo de um dia parar num cruzamento em Copacabana e ninguém reconhecê-lo, algo tão improvável como a patuleia aplaudir um banqueiro.
Só quem está na pele do ídolo do esporte pode avaliar a delicadeza da decisão, a dor da separação entre o ídolo e os fãs. Impossível julgar.
Ronaldo poderia ter parado por cima no Corinthians, no dia em que conquistou a Copa do Brasil de 2009.
Mas tinha a Copa do Mundo no ano seguinte, a Libertadores e o centenário.
Copa da África que ficou no sonho.
Libertadores que virou pesadelo diante do Flamengo -para quem virara as costas e se transformara em traidor.
E centenário que acabou sem ter nada.
Eis que, mesmo assim, sem mobilidade, o Fenômeno voltou em 2011, para, agora, ser ofendido também pelos corintianos.
Não precisava.
Curvar-se aos apupos e sair melancolicamente de cena é coisa que um dos maiorais da história, definitivamente, não merecia.
E voltar a ser competitivo nem é mais uma questão de força de vontade.
Resta que amanhã se anuncie uma saída criativa e se organize para ele uma despedida ainda honrosa, porque há de ser possível.
Tudo somado e subtraído, o corintiano tem motivo para, hoje, amanhã e sempre, orgulhar-se de tê-lo visto com a camisa alvinegra.

blogdojuca@uol.com.br


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