São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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FUTEBOL

A virtude dos medíocres

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Durante e após a vitória contra o Chile e até sair o primeiro gol contra a Costa Rica, voltaram com intensidade os comentários de que o Alex dorme em campo, não vibra, não tem espírito de seleção e só joga bem em clubes. Se o Brasil perder o título, todos esses lugares-comuns serão repetidos.
Tudo que é falado nas transmissões da TV Globo, certo ou errado, importantes ou não, é repetido pela maioria da imprensa e dos torcedores. Torna-se verdade. É o "pensamento único", cada dia mais presente.
Parte da imprensa elege os seus preferidos, não só pela qualidade técnica, mas também pela simpatia e por darem boas entrevistas.
Edu, que é um bom volante, porém burocrático (parece jogador inglês), é tratado como se fosse um craque. Qualquer passe para o lado é valorizado. Quando joga mal é por causa da altitude.
Dos cinco gols do Brasil na Copa América, quatro saíram dos pés do Alex. Ele quase fez mais um de placa. O passe longo para Adriano foi espetacular. Nos escanteios, Alex não cruza para a área. Com precisão, ele bate forte, em curva, e põe a bola na entrada da pequena área para o atacante cabecear de frente. No gol do Juan, Alex esperou uma fração de segundos antes de deixar o zagueiro livre.
Falta à seleção um atacante que recue e deixe espaço para o Alex chegar à área e finalizar, outra virtude do jogador. No Cruzeiro, ele tinha média de gols de um artilheiro. Alex é um craque de poucas, brilhantes e decisivas jogadas. Quando joga mal, não é por errar demais e sim por aparecer pouco. Isso é devido à sua pouca mobilidade. É sua grande deficiência. Ele também não se preocupa em tentar jogadas que não darão certo nem se faz de guerreiro. Não é bom marqueteiro.
Como a seleção tem três volantes que ficam muito atrás e dois centroavantes lá na frente, Alex fica sobrecarregado. A responsabilidade da armação não deveria ser só dele.
Parte das pessoas que elogiaram tanto o Alex em 2003 quase só assistiu aos melhores momentos das partidas. Num grande número de jogos do Cruzeiro, Alex só brilhou em poucos lances. Nos outros jogos, também foi discreto.
Eu prefiro um jogador que brilhe intensamente em poucos e decisivos lances e que seja discreto no resto da partida a um bom e regular que não faça nada de extraordinário. Já disseram, com sabedoria e exagero, que a regularidade é virtude dos medíocres.

Posição errada
Com a entrada do Diego durante os dois jogos, para fazer a mesma função do Kleberson, o time manteve o esquema tático com três no meio-campo e mais o Alex na ligação com os dois atacantes.
Como os três volantes estão muito atrás, contrário à orientação do Parreira, o técnico experimentou Diego numa nova posição. Pela direita, ele tem de marcar como volante e avançar como meia. Juninho Pernambucano adaptou-se bem a essa situação.
Apesar de ter muita mobilidade, Diego nunca jogou nessa posição. Dificilmente dará certo assim. Ele tem de aproveitar a sua habilidade e dribles perto da área do outro time.
Para o Diego jogar como faz no Santos, Parreira teria de mudar o esquema tático da seleção e colocar dois volantes e dois meias ofensivos (Diego e Alex). Aí formaria o quadrado.
A equipe ficaria mais ofensiva, mas só teria dois marcando no meio-campo para proteger os quatro defensores. Os laterais teriam de avançar menos. Haveria um desequilíbrio, o que o Parreira não tolera. Mesmo assim, é uma boa opção para alguns momentos, como hoje, já que o time está classificado. Seria uma boa experiência.
Diego é um excelente jogador, teve boa participação nos dois jogos, mas não fez nada brilhante, principalmente porque estava fora de posição. Não se pode analisar um atleta que entrou no meio do segundo tempo. Houve excesso de elogios ao jogador.

Melhor do que parece
O conceito de que Adriano é apenas um atacante forte, alto, artilheiro, mas que não tem talento para jogar na seleção, não é correto. Não falo isso por causa de um jogo. Apesar de jovem, Adriano é destaque no Campeonato Italiano, contra fortes defesas. Ele é melhor do que alguns centroavantes supervalorizados na Europa, como Vieri, Crespo e Trezeguet. Assim como Alex, Adriano é melhor do que parece.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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