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FUTEBOL
A virtude dos medíocres
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Durante e após a vitória
contra o Chile e até sair o
primeiro gol contra a Costa Rica,
voltaram com intensidade os comentários de que o Alex dorme
em campo, não vibra, não tem espírito de seleção e só joga bem em
clubes. Se o Brasil perder o título,
todos esses lugares-comuns serão
repetidos.
Tudo que é falado nas transmissões da TV Globo, certo ou errado, importantes ou não, é repetido pela maioria da imprensa e
dos torcedores. Torna-se verdade.
É o "pensamento único", cada dia
mais presente.
Parte da imprensa elege os seus
preferidos, não só pela qualidade
técnica, mas também pela simpatia e por darem boas entrevistas.
Edu, que é um bom volante, porém burocrático (parece jogador
inglês), é tratado como se fosse
um craque. Qualquer passe para
o lado é valorizado. Quando joga
mal é por causa da altitude.
Dos cinco gols do Brasil na Copa América, quatro saíram dos
pés do Alex. Ele quase fez mais
um de placa. O passe longo para
Adriano foi espetacular. Nos escanteios, Alex não cruza para a
área. Com precisão, ele bate forte,
em curva, e põe a bola na entrada
da pequena área para o atacante
cabecear de frente. No gol do
Juan, Alex esperou uma fração de
segundos antes de deixar o zagueiro livre.
Falta à seleção um atacante que
recue e deixe espaço para o Alex
chegar à área e finalizar, outra
virtude do jogador. No Cruzeiro,
ele tinha média de gols de um artilheiro. Alex é um craque de poucas, brilhantes e decisivas jogadas. Quando joga mal, não é por
errar demais e sim por aparecer
pouco. Isso é devido à sua pouca
mobilidade. É sua grande deficiência. Ele também não se preocupa em tentar jogadas que não
darão certo nem se faz de guerreiro. Não é bom marqueteiro.
Como a seleção tem três volantes que ficam muito atrás e dois
centroavantes lá na frente, Alex
fica sobrecarregado. A responsabilidade da armação não deveria
ser só dele.
Parte das pessoas que elogiaram tanto o Alex em 2003 quase
só assistiu aos melhores momentos das partidas. Num grande número de jogos do Cruzeiro, Alex
só brilhou em poucos lances. Nos
outros jogos, também foi discreto.
Eu prefiro um jogador que brilhe intensamente em poucos e decisivos lances e que seja discreto
no resto da partida a um bom e
regular que não faça nada de extraordinário. Já disseram, com
sabedoria e exagero, que a regularidade é virtude dos medíocres.
Posição errada
Com a entrada do Diego durante os dois jogos, para fazer a mesma função do Kleberson, o time
manteve o esquema tático com
três no meio-campo e mais o Alex
na ligação com os dois atacantes.
Como os três volantes estão
muito atrás, contrário à orientação do Parreira, o técnico experimentou Diego numa nova posição. Pela direita, ele tem de marcar como volante e avançar como
meia. Juninho Pernambucano
adaptou-se bem a essa situação.
Apesar de ter muita mobilidade, Diego nunca jogou nessa posição. Dificilmente dará certo assim. Ele tem de aproveitar a sua
habilidade e dribles perto da área
do outro time.
Para o Diego jogar como faz no
Santos, Parreira teria de mudar o
esquema tático da seleção e colocar dois volantes e dois meias
ofensivos (Diego e Alex). Aí formaria o quadrado.
A equipe ficaria mais ofensiva,
mas só teria dois marcando no
meio-campo para proteger os
quatro defensores. Os laterais teriam de avançar menos. Haveria
um desequilíbrio, o que o Parreira não tolera. Mesmo assim, é
uma boa opção para alguns momentos, como hoje, já que o time
está classificado. Seria uma boa
experiência.
Diego é um excelente jogador,
teve boa participação nos dois jogos, mas não fez nada brilhante,
principalmente porque estava fora de posição. Não se pode analisar um atleta que entrou no meio
do segundo tempo. Houve excesso
de elogios ao jogador.
Melhor do que parece
O conceito de que Adriano é
apenas um atacante forte, alto,
artilheiro, mas que não tem talento para jogar na seleção, não é
correto. Não falo isso por causa de
um jogo. Apesar de jovem, Adriano é destaque no Campeonato
Italiano, contra fortes defesas. Ele
é melhor do que alguns centroavantes supervalorizados na Europa, como Vieri, Crespo e Trezeguet. Assim como Alex, Adriano é
melhor do que parece.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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