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MOTOR
Qual é a droga?
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O corrência rara no automobilismo, um piloto do Internacional de F-3000 deu positivo em controle antidoping da FIA
após a etapa da Hungria. Encontraram Cannabis, THC, na urina
do tcheco Tomas Enge, 26. Ou seja, ele "fez uso" de maconha.
O problema é que Enge não é
um piloto qualquer. Já correu três
GPs de F-1 no ano passado, no lugar do acidentado Burti, e larga
hoje pelo título em Monza. É vice-líder do campeonato, tem o melhor equipamento do segundo semestre, está -ou estava- em
grande fase. Ou seja, não é pequena a chance de ser campeão e
simplesmente não levar a taça.
Enge disputa o título com o
francês Sebastien Bourdais e o
italiano Giorgio Pantano. Está
um ponto atrás do primeiro e seis
à frente do segundo. Ontem, conseguiu um excelente resultado no
treino de classificação, o terceiro
posto, a despeito de uma forte gripe e de toda a polêmica que se
criou. "Foi uma longa semana,
estou muito cansado, como nunca estive", declarou após o treino.
Pantano larga em segundo,
Bourdais, em sétimo. O resultado
da contraprova sai em oito dias,
mas a decisão sobre sua temporada ou, quem sabe, sobre sua carreira sai apenas em outubro,
quando a FIA realiza mais uma
reunião do Conselho Mundial.
A pena, deve haver uma, pode
variar da exclusão dos resultados
até uma suspensão de meses ou
anos. A entidade que controla o
automobilismo tem um convênio
com o COI, usa a mesma lista de
substâncias proibidas e trabalha
com a mesma mentalidade as
chamadas drogas sociais, aquelas
que não proporcionam ganho de
performance, mas são criminalizadas por diversos países.
De fato, nem o mais fascista dos
delegados da FIA poderia imaginar que Enge fumou maconha
para correr. Ao contrário dos
bons tempos, quando não era incomum o sujeito sentar no carro
com um cigarro na boca e comemorar uma vitória com um porre
de cerveja, hoje em dia as exigências do esporte transformaram os
pilotos em atletas. Schumacher,
por exemplo, não é apenas o melhor da atualidade, é um dos mais
bem preparados fisicamente.
Se Enge fumou -seu empresário disse que ele pode ter "inalado" a substância em uma festa ou
ter bebido ou comido alguma coisa sem saber, desculpa esfarrapada para efeitos legais-, pode ter
feito isso semanas ou até meses
antes, dizem especialistas.
Obviamente, a FIA não vai levar isso em consideração. Enge
está registrado na federação e deve seguir as regras impostas pela
entidade. Quebrou uma. Ou seja,
tem que ser punido, por mais absurdo que isso possa parecer.
Será injusto, claro, privar o piloto de seus resultados, pior ainda
de um título. Será injusto prejudicar sua carreira a partir de um fato pessoal, que só interessa a ele.
Será injusto usar Enge para justificar um sistema hipócrita, de resultado prático duvidoso. Mas isso será feito em nome do esporte e
da bobagem que ele representa.
Em nome de um esporte que
tem problemas maiores e mais urgentes que os hábitos de um piloto, como as corridas-marmelada
da Ferrari, a vexaminosa falência
da Arrows e a mediocrização de
regras e circuitos. Em nome de algo que os dirigentes percebem como esporte, mas não o público.
Monza, a pista que mais abrigou a F-1 até hoje, acusou queda
de 20% na procura de ingressos.
No ano do penta do alemão.
Memória
Em 1995, em Nurburgring, o flagrado no antidoping foi Barrichello. Usou um descongestionante. Depois de ele mostrar o remédio
para os médicos da FIA, a questão foi devidamente engavetada.
Toyota
Dizem que Felipe Massa está acertado com a montadora, mas que
o anúncio só será feito no Japão, por motivos óbvios. Cristiano da
Matta ficaria assim em situação bastante difícil, já que pode ser
campeão na Indy e não ter onde correr no ano que vem. Não quer
ir para a IRL, mas a Carl Haas pensa no assunto seriamente.
Azar
Parece que a fama de azarado voltou a rondar Gil de Ferran. E exatamente no momento em que ele tentava o terceiro título consecutivo. Bobagem ou não, dizem que o piloto já considera seriamente
a aposentadoria. A Penske não quer nem ouvir falar nisso.
E-mail mariante@uol.com.br
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