São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Contra fatos, há a política


Veredicto do episódio de espionagem é uma piada, uma piada batida que já ouvimos muito por aqui


APRENDEMOS, ou reaprendemos, nesta semana como operam os julgamentos políticos. São exatamente isso. Políticos. Nada menos. E principalmente, algo intrínseco no conceito, nada mais.
O que, em linhas gerais, significa que, muito mais do que provas e depoimentos incriminatórios, o que vale é o currículo do réu. Não só o histórico de habilidades profissionais, quase um detalhe, mas sua vida pregressa, suas amizades e inimizades, alianças, acordos, puxadas de tapete, galhos quebrados e por aí vai.
Por "n" motivos, Dennis é do clube. O "Piranha Club", para citar mais uma vez neste espaço o apelido cunhado na Inglaterra para designar a turminha que de fato manda na F-1.
(Esqueça a FIA, que desde a saída de Balestre se tornou muito mais uma estafeta, uma chanceladora de campeonatos e regras, do que uma força política com vontade própria.)
Como Ecclestone, Williams e Chapman, Dennis começou por baixo, sujando a mão de graxa. Ralou. Tornou-se um vencedor, para só depois, bem depois, ficar milionário.
Por uma série de coincidências, conveniências e comodidades, Ecclestone foi colocado pelo clube na posição de maestro. E só continua lá por motivos parecidos. Bem, Chapman morreu -ou sumiu e mora no Mato Grosso, hipótese mais romântica. E Williams, depois do acidente de 86, decidiu não segurar o rojão.
Restou Dennis, que vira-e-mexe é cotado para substituir Ecclestone ou seu fantoche Mosley. Mas ele ama sua equipe, está bem, obrigado.
O poder, enfim, está lá. E sabe quando o chefe da McLaren será punido com uma proibição de correr GPs, por exemplo? Nunca. Nunca.
O veredicto do Conselho Mundial, ontem, é uma grande piada. Mostra claramente que, na F-1, uns podem mais que outros. Podem, inclusive, traficar informações confidenciais.
A equipe perdeu os pontos no Mundial de Construtores, Hamilton e Alonso mantiveram os seus no Mundial de Pilotos. Quer algo mais político do que isso, como se os pontos não fossem os mesmos? Ora, os 166 pontos cassados pela FIA são a soma dos 92 do inglês com os 89 do espanhol, menos a punição na Hungria. Quer dizer que a soma era irregular, mas suas duas partes, não?
Ah, sim. O conselho aplicou uma multa de US$ 100 milhões. Isso equivale a um terço do orçamento anual da equipe. Não por coincidência é mais ou menos o valor que o time recebeu pelos pontos conquistados no Mundial. Na prática, é como se o bônus não tivesse existido. Algo distante de um corte na carne, pois.
À Ferrari, beneficiada em tantos e tantos julgamentos ao longo da história, resta a resignação de quem encontrou pela frente, num julgamento político, um adversário enlameado, mas evidentemente mais forte.
Atitude com a qual também aprendemos e reaprendemos a viver diariamente. Com a diferença, fundamental, de que a Ferrari já sentiu várias vezes o sabor da vitória.

fseixas@folhasp.com.br


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