São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Instável, Dunga defende regra de estabilidade

Para treinador da seleção, colegas não deveriam trocar de clube na temporada

Dunga, que até levou sua idéia para o Congresso sem sucesso, não acredita que outros técnicos apoiariam lei para evitar troca-troca


EDUARDO ARRUDA
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Questionado em seu cargo na seleção brasileira -que esteve ameaçado neste final de ano-, o técnico Dunga defende uma regra de estabilidade para os treinadores nacionais. Até levou a idéia para o Congresso, no início da década, sem sucesso. Mas ainda entende que deveria haver um mecanismo para dificultar as demissões.
O projeto do comandante da seleção era fazer com que os clubes fossem obrigados a firmar contrato por uma temporada com um técnico. Se o mandassem embora, teriam de remunerá-lo até o final do ano.
Em compensação, um treinador de clube da Série A não poderia dirigir outra equipe da mesma divisão naquele ano em caso de demissão. "Assim, os clubes iam pensar duas vezes antes de demitir e o técnico de sair", defendeu Dunga.
Esse modelo foi idealizado pelo ex-técnico da seleção Carlos Alberto Parreira. Dunga adotou a idéia e a apresentou à Câmara Federal, quando era discutida a Lei do Esporte.
O treinador da seleção era um dos representantes do futebol para apresentar projetos. Essa regra de estabilidade para os técnicos não vingou no projeto de lei, que até hoje está em tramitação no Congresso.
No momento, Dunga entende que não há ambiente para apresentar a regra no futebol nacional para que fosse adotado independentemente de leis. Acha que seus colegas não apoiariam a idéia. "Podem entender que os prejudicaria."
Além de regras para os colegas, o técnico também vê necessidade de mudanças na regulamentação dos contratos dos jogadores. Adotando posição similar à de clubes, entende que a Lei Pelé prejudicou os times ao acabar com o passe.
Não defende um retrocesso à regulamentação anterior, mas uma solução intermediária.
"Acho que deveria haver uma possibilidade de renovação automática para os jogadores após o primeiro contrato. Assim, poderia ser retardada a saída do país", analisou ele.
Há proposta similar no Congresso apresentada pelo governo federal. Mas alterar a legislação nacional não seria o suficiente, pois haveria a necessidade de mudança nas regras internacionais, segundo Dunga.
Uma das suas idéias seria um maior rigor da naturalização de atletas nascidos em outros países. "Poderia ter uma prova de língua, escrita e falada. Não ia ser tão fácil passar", citou.
Dunga entende que a saída precoce de jogadores jovens do país pode alterar seu modo de jogar. Essa realidade tem aspectos positivos e negativos, segundo o técnico da seleção.
Observou que, no Brasil, é comum um jogador de qualidade no meio-campo não ter obrigação de marcar. Lembrou que o volante da seleção Anderson, que era meia, foi deslocado para volante no Porto para aprender a jogar sem bola. E gostou.
Mas também defende treinos livres, sem obrigações táticas, para que os mais jovens desenvolvam seus fundamentos técnicos. Acha que os técnicos têm imposto táticas cedo demais.
"O jogador brasileiro é o mais inteligente taticamente. Com ele, dá para mudar a forma de jogar, sem mudar os atletas."
Dunga defende novas regras para o futebol nacional, mas não as mudanças de suas características essenciais.


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