São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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fim

Ao deixar futebol, Ronaldo diz que perdeu para seu corpo , que fim de carreira é a primeira morte e se emociona ao falar de sua passagem pelo Corinthians

Eduardo Knapp/Folhapress
Ronaldo enxuga lágrimas durante o anúncio de sua aposentadoria

MARTÍN FERNANDEZ
RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

As mãos de Ronaldo mexiam em papéis com anotações, em canetas, em um laptop ou nos filhos. Seu rosto tinha os olhos baixos e cada fala sua era pontuada por pausas e profundos suspiros.
Ele sofreu durante a maior parte da entrevista em que anunciou o final de sua carreira, aos 34 anos. Era o epílogo do maior artilheiro em Copas, eleito três vezes melhor do planeta, bicampeão pelo Brasil no Mundial e autor de mais de 450 gols.
"Na quinta-feira, quando eu finalmente decidi [parar], parece que estava na UTI. Foi minha primeira morte", contou o atacante.
Sua decisão foi tomada após mais uma lesão, sofrida naquela mesma semana. Foi uma resolução solitária, a família estava em viagem, o médico e o fisioterapeuta que o acompanham também.
Conversas com as pessoas mais próximas ocorreram por telefone para explicar sua posição. Porém, de resto, Ronaldo se isolou por três dias em sua casa.
Ressurgiu para se despedir dos jogadores corintianos na manhã de ontem, antes de encarar cerca de 200 jornalistas para falar sobre o fim.
Foi ali que explicou como as seguidas contusões e as dores físicas o fizeram parar.
"Perdi para o meu corpo", reconheceu. "Talvez, se minha história ocorresse 15 ou 20 anos para a frente, meus problemas, que foram gravíssimos, seriam sanados mais facilmente", disse.
O sofrimento de Ronaldo começou em 1998, na crise nervosa que teve às vésperas da final da Copa, e se agravou quando ele rompeu duas vezes os ligamentos do joelho direito, em 1999 e 2000.
"Me deixaram três anos sem jogar, fora as sequelas que ficam", explicou.
Essas contusões -e outra lesão no joelho esquerdo em 2008- o obrigavam a ser mais dedicado do que os outros jogadores. "Ele tinha que fazer muito mais exercícios de alongamento e fortalecimento que os demais", contou o médico Joaquim Grava.
E doía. "Não consigo nem subir a escada de casa", falou Ronaldo na coletiva.
Outro obstáculo era o hipotireoidismo, diagnosticado no Milan há quatro anos. A doença dificulta o emagrecimento da pessoa. Segundo o atacante, o tratamento é considerado doping.
"Muitos devem estar arrependidos de fazer chacota do meu peso. Não guardo mágoa", analisou o ex-atleta.
A única cicatriz, de fato, que ele diz levar da carreira foi não ter conquistado a Taça Libertadores pelo Corinthians. "Peço desculpas por ter fracassado", disse.
Em meio a uma série de torneios internacionais que disputou por Barcelona, Internazionale, Real Madrid e Milan, ele aponta a competição americana. O que se explica quando passa a falar da relação com o último clube: para, respira fundo e chora.
"Nunca vi torcida tão importante, tão apaixonada, tão entregue a um time. É certo que a cobrança pelos resultados faz essa torcida um pouco agressiva, um pouco fora de controle", descreveu, negando que agressões de organizadas tenham influenciado sua decisão de parar.
Não foi a única pressão de uma carreira que está sob os holofotes desde os 16 anos.
Sua face midiática se expressou ontem quando ele iniciou a despedida agradecendo a patrocinadores. Era uma camisa da Nike que Ronaldo vestia em sua despedida, não a do Corinthians.
Mas o tom emocional predominou na entrevista concedida ao lado dos filhos Ronald e Alex, com a camisa do time. Foi a eles que se voltou após chorar. Então começou a relaxar: limpou o suor, fez piada com a concentração.
A um sinal do assessor, deu as mãos aos filhos, levantou-se e saiu andando. Para longe das câmeras.


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