São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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LOS GRINGOS - ENZO PALLADINI

Amor e lágrimas


A partir deste momento, o povo do futebol só pode sonhar: um dia nascerá um novo Ronaldo


O RONALDO do futuro ainda não nasceu. O Campeonato Italiano terá de esperar, pelo menos, 50 anos antes de ver um fenômeno semelhante a ele. A Itália não entendeu a boa sorte que teve entre 1997 e 2002, quando Ronaldo foi o verdadeiro Ronaldo, e o campeonato podia sentir o prazer de um homem que nasceu para jogar futebol astronômico.
Só o céu estava acima dele em 1997, quando Massimo Moratti o comprou do Barcelona e o colocou em uma Inter que talvez não merecesse, porque ela ainda era uma equipe de tamanho médio.
Com Ronaldo, a Inter venceu só uma Copa da Uefa, mas se tornou um dos clubes mais famosos do mundo. Ronaldo, pelo que representou, deveria ser lembrado como um ícone da história da Inter, mas no coração dos interistas deve dividir um pedaço com pessoas que ganharam menos ou até nada, como o alemão Karl-Heinz Rummenigge.
A culpa que é imputada a ele não é tanto por ter jogado no Milan, mas por ter sido feliz em fazê-lo.
Milão adorou Ronaldo. Para a torcida interista, era um deus do futebol e um motivo de orgulho. "O Fenômeno está conosco", cantaram no San Siro.
Os torcedores do Milan o temiam, mas nunca o odiaram -foi um grande rival para ser respeitado. Quando o Milan comprou Ronaldo, os fãs ficaram extasiados. Não se importavam de que tinha jogado na Inter. Era Ronaldo, embora com um pouco de barriga e sem a velocidade de quando tinha 20 anos.
A Itália amou Ronaldo e chorou por ele. Quando o tendão rotuliano se quebrou pela primeira vez, ninguém entendeu a gravidade da lesão. Na segunda vez, no estádio Olímpico, em Roma, foi terrível.
Muitos homens choraram como crianças quando ouviram o grito de dor de um homem que havia lutado tanto tempo para voltar a fazer o seu trabalho.
O campeonato estava sentindo falta quando Moratti vendeu Ronaldo para o Real Madrid em 2002, mas sentiu a mesma falta quando Ronaldo, já um pouco velho e com um pouco de gordura na frente, disputou o último jogo com a camisa número 99 do Milan. Nos últimos dois anos, os italianos viram na televisão algumas imagens, poucos minutos de um senhor gordo, não tão rápido, com uma camisa branca e preta. Não era o super-Ronaldo da Inter, não era o menos decisivo mas ainda supercampeão da época do Milan.
A partir deste momento, o povo do futebol só pode sonhar que um dia vai nascer um novo Ronaldo.

ENZO PALLADINI é redator-chefe de Esporte da rede de TV italiana Mediaset


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