São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Nem equipe sub-15 escapa de multas no TJD paulista

Clubes reclamam de que tribunal ignora até acidentes na estrada como motivo para atraso na entrada para os jogos

Rigor atinge times de garotos e de mulheres em que não existe a cobrança de ingresso nas partidas, e os salários, quando pagos, são pequenos


DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um acidente na estrada, um portão fechado, um vestiário pequeno, a tecnologia que não funciona ou até desconhecimento da própria regra.
Nada disso importou no TJD paulista no julgamento de clubes multados por não entrarem em campo oito minutos antes do horário marcado para a bola rolar. E por não estarem perfilados para a execução do hino com seis minutos para o início dos jogos, como manda o regulamento das três principais divisões do Paulista em 2009.
O tribunal foi rigoroso até em partidas que nem bilheteria tiveram, como nos campeonatos sub-15 e sub-17 e no Paulista feminino do ano passado.
A lista de clubes que se dizem injustiçados é grande.
Logo na primeira rodada da Série A-2, o Rio Preto levou multa de R$ 2.250 por entrar em campo sete minutos depois do horário previsto para enfrentar a Linense, em Lins.
O presidente do clube, Vergílio Dalla Pria Netto, é quem conta o motivo do atraso.
"Só havia um hotel na cidade com capacidade para receber uma equipe de futebol. E o Linense já estava hospedado nele. Resolvemos ir de Rio Preto para Lins no dia do jogo. Como a partida estava marcada para as 10h, saímos cedo para não haver atraso", explica Pria Netto.
"Mas aconteceu um acidente na estrada, próximo a Lins, e ficamos parados por 30 minutos. Quando liberaram a pista, os carros percorreram grande distância em fila única. Começou a chover, o que nos atrasou mais. Chegamos ao estádio 15 minutos antes do horário e fomos para o campo", diz. Seus motivos não comoveram o tribunal.
"Levamos a multa. Os auditores da federação entenderam que poderíamos ter saído mais cedo e tivemos que pagar. Eles foram muito rigorosos."
O Rio Claro pagou R$ 6.000 de multa no ano passado por atraso num caso em que o clube diz não ter culpa. "Atrasamos seis minutos porque, quando chegamos ao estádio, o portão de acesso para o nosso ônibus não estava aberto. Acho que estava com problema. Ficamos do lado de fora e atrasamos. Comunicamos o pessoal da federação no dia do jogo e explicamos a situação. Mas levamos a multa, não teve jeito", afirma Eliane Ragonha, coordenadora administrativa do clube.
"Daqui a pouco não teremos mais futebol. Os clubes pequenos estão sendo muito prejudicados", lamenta ela, que chegou a criar uma política interna para evitar novos prejuízos.
"Coloquei um aviso bem grande no vestiário dizendo que as multas seriam cobradas da comissão técnica".
Se, para clubes profissionais, a multa já é um pesadelo, para quem não tem receita alguma a coisa é ainda mais complicada. Exemplo disso é o futebol feminino, que vive em estado de absoluta penúria no país.
Um dos mais tradicionais times de mulheres, o Botucatu foi multado duas vezes em 2008 -penas que somadas atingiram R$ 500, o que parece pouco, mas é mais do que a maioria esmagadora das jogadoras de futebol ganham.
Edson Castro, o presidente do clube, diz que a primeira multa, de R$ 400, foi recebida por desconhecimento do regulamento. "Não entramos depois do horário do jogo. Entramos normalmente, faltando três minutos para o início. Só fomos avisados pela federação paulista quatro jogos depois, porque o árbitro entrou no nosso vestiário e nos mostrou a circular. Nem ficamos com ela", diz o cartola. A segunda multa, de R$ 100, foi mais inusitada.
"Fomos jogar em Americana e, no vestiário, só cabiam sete, oito pessoas. As meninas se trocaram em grupos, revezando o espaço. O jogo começava às 15h. Subimos para o campo às 14h30 e fizemos o aquecimento. Como não cabia todo mundo no vestiário, ficamos no campo e pensamos que estava tudo certo. Mas fomos multados porque não fizemos uma entrada formal", afirma Castro.
(PAULO COBOS E GUSTAVO ALVES)


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