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Nem equipe sub-15 escapa de multas no TJD paulista
Clubes reclamam de que tribunal ignora até acidentes na estrada como motivo para atraso na entrada para os jogos
Rigor atinge times de garotos e de mulheres em que não existe a cobrança de ingresso nas partidas, e os salários, quando pagos, são pequenos
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um acidente na estrada, um
portão fechado, um vestiário
pequeno, a tecnologia que não
funciona ou até desconhecimento da própria regra.
Nada disso importou no TJD
paulista no julgamento de clubes multados por não entrarem
em campo oito minutos antes
do horário marcado para a bola
rolar. E por não estarem perfilados para a execução do hino
com seis minutos para o início
dos jogos, como manda o regulamento das três principais divisões do Paulista em 2009.
O tribunal foi rigoroso até em
partidas que nem bilheteria tiveram, como nos campeonatos
sub-15 e sub-17 e no Paulista feminino do ano passado.
A lista de clubes que se dizem
injustiçados é grande.
Logo na primeira rodada da
Série A-2, o Rio Preto levou
multa de R$ 2.250 por entrar
em campo sete minutos depois
do horário previsto para enfrentar a Linense, em Lins.
O presidente do clube, Vergílio Dalla Pria Netto, é quem
conta o motivo do atraso.
"Só havia um hotel na cidade
com capacidade para receber
uma equipe de futebol. E o Linense já estava hospedado nele.
Resolvemos ir de Rio Preto para Lins no dia do jogo. Como a
partida estava marcada para as
10h, saímos cedo para não haver atraso", explica Pria Netto.
"Mas aconteceu um acidente
na estrada, próximo a Lins, e ficamos parados por 30 minutos.
Quando liberaram a pista, os
carros percorreram grande distância em fila única. Começou a
chover, o que nos atrasou mais.
Chegamos ao estádio 15 minutos antes do horário e fomos
para o campo", diz. Seus motivos não comoveram o tribunal.
"Levamos a multa. Os auditores da federação entenderam
que poderíamos ter saído mais
cedo e tivemos que pagar. Eles
foram muito rigorosos."
O Rio Claro pagou R$ 6.000
de multa no ano passado por
atraso num caso em que o clube
diz não ter culpa. "Atrasamos
seis minutos porque, quando
chegamos ao estádio, o portão
de acesso para o nosso ônibus
não estava aberto. Acho que estava com problema. Ficamos
do lado de fora e atrasamos. Comunicamos o pessoal da federação no dia do jogo e explicamos a situação. Mas levamos a
multa, não teve jeito", afirma
Eliane Ragonha, coordenadora
administrativa do clube.
"Daqui a pouco não teremos
mais futebol. Os clubes pequenos estão sendo muito prejudicados", lamenta ela, que chegou
a criar uma política interna para evitar novos prejuízos.
"Coloquei um aviso bem
grande no vestiário dizendo
que as multas seriam cobradas
da comissão técnica".
Se, para clubes profissionais,
a multa já é um pesadelo, para
quem não tem receita alguma a
coisa é ainda mais complicada.
Exemplo disso é o futebol feminino, que vive em estado de absoluta penúria no país.
Um dos mais tradicionais times de mulheres, o Botucatu
foi multado duas vezes em
2008 -penas que somadas
atingiram R$ 500, o que parece
pouco, mas é mais do que a
maioria esmagadora das jogadoras de futebol ganham.
Edson Castro, o presidente
do clube, diz que a primeira
multa, de R$ 400, foi recebida
por desconhecimento do regulamento. "Não entramos depois do horário do jogo. Entramos normalmente, faltando
três minutos para o início. Só
fomos avisados pela federação
paulista quatro jogos depois,
porque o árbitro entrou no nosso vestiário e nos mostrou a circular. Nem ficamos com ela",
diz o cartola. A segunda multa,
de R$ 100, foi mais inusitada.
"Fomos jogar em Americana
e, no vestiário, só cabiam sete,
oito pessoas. As meninas se trocaram em grupos, revezando o
espaço. O jogo começava às 15h.
Subimos para o campo às
14h30 e fizemos o aquecimento. Como não cabia todo mundo no vestiário, ficamos no
campo e pensamos que estava
tudo certo. Mas fomos multados porque não fizemos uma
entrada formal", afirma Castro.
(PAULO COBOS E GUSTAVO ALVES)
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