|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Pressionado pela torcida e considerado deficiente na marcação por Scolari, ala-direito faz protesto e exige respeito
Criticado, Cafu reage contra o "massacre"
DOS ENVIADOS A BARCELONA
Recordista de jogos da história
da seleção, segundo números da
CBF, e prestes a disputar sua terceira Copa do Mundo, o lateral-direito Cafu, 31, cansou de ouvir
críticas sobre suas atuações com a
camisa verde-amarela.
Ontem, após treino matinal da
equipe em Barcelona, o jogador
da Roma, pivô da mais nova crise
de identidade da seleção -a adoção do sistema 3-5-2-, desabafou, exigiu respeito e mostrou que
não admitirá ser um cordeiro na
"família" de Luiz Felipe Scolari, a
quem mandou recados.
A chuva de reclamações, segundo Cafu vindas unicamente do
Brasil, principalmente sobre seu
modo de marcar e de cruzar, foi
classificada por ele como um
"massacre" e rebatida de forma
surpreendentemente dura para
um atleta de comportamento habitualmente dócil e resignado.
"A diferença na Europa é que, se
eu errar um cruzamento, eu errei
um cruzamento. No Brasil, se eu
errar um cruzamento, é porque
não sei cruzar. Jogo na seleção há
12 anos e acho que tinha de ser
mais respeitado, é só isso", afirmou o lateral, que pode ser o primeiro jogador brasileiro a disputar três finais de Copa.
Cafu foi irônico ao comentar as
declarações de Scolari de que o esquema 3-5-2 só foi introduzido na
seleção por causa dele. "Não sei se
é por causa disso. Mas, se for, é
uma questão de muito orgulho
para mim mudarem todo um esquema por minha causa."
Segundo o treinador da seleção
nacional, na Roma Cafu atua
muito avançado, quase como um
ponta-direita, e não volta para a
defesa a tempo de proteger a zaga
em contra-ataques. Daí, alega
Scolari, a necessidade de um zagueiro a mais no time brasileiro.
Mas o lateral-direito afirma que
não é bem assim. Para Cafu, basta
o técnico solicitar uma mudança
de posicionamento e ele o fará,
sem reclamações e sem dificuldades de adaptação.
"Nesses 12 anos de seleção, joguei quase todo o tempo assim
[na lateral, mas com funções defensivas]. Não tenho problemas
em me adaptar àquilo que o treinador pede", declarou Cafu, que
aproveitou para alfinetar Scolari e
os críticos que afirmam que ele
não sabe defender bem.
"Agora nem marcar eu sei mais.
Só queria saber de onde e por que
isso nasceu", reclamou o jogador,
alvo constante de chacotas de torcedores e humoristas sobre suas
supostas deficiências.
Outra crítica recorrente diz respeito às falhas de Cafu em cruzamentos, mas ela não passa, entretanto, de uma falácia.
Levantamento recente feito pela
Folha mostrou que o jogador é
um dos melhores nesse fundamento em toda a Europa. Na Copa dos Campeões, principal torneio de clubes do mundo, ele tem
um aproveitamento nos cruzamentos superior ao do português
Luis Figo e igual ao do inglês David Beckham, duas estrelas que se
notabilizam, entre outras coisas,
pela precisão ao servir os companheiros em bolas alçadas .
Mais experiente jogador da atual seleção brasileira, Cafu, que
contra Portugal completou 108 jogos com a camisa do time nacional, segundo números da CBF, viveu um dos piores momentos de
sua carreira também às vésperas
de uma Copa do Mundo.
No último jogo no Brasil da preparação para o Mundial de 98, um
amistoso contra a Argentina no
Maracanã, ouviu o coro da multidão: "Cafu, vai tomar no c...".
Ainda hoje considerado por alguns um ""vilão nacional", demonstra enorme mágoa, mas diz que tem a consciência tranquila.
"Se eu me incomodasse com todo esse massacre, não estaria há
tanto tempo na seleção. Sinto-me
ótimo, é mérito do meu trabalho.
Não é fácil se manter por 12 anos
num time desse. Sempre fui um
cara tranquilo, o sorriso faz parte
de mim", declarou Cafu, justificando o contraste entre as declarações e os dentes escancarados,
uma marca registrada.
Capitão
Cafu ainda deixou claro que se
considera o capitão de direito da
seleção -o de fato, escolhido por
Scolari, será o volante Emerson,
seu companheiro na Roma.
Como se o treinador ainda não
tivesse anunciado sua decisão,
Cafu afirmou: "O técnico é quem
decide. Se ele me escolher, será
um orgulho muito grande".
E completou: "Aqui na Europa
normalmente o mais velho do
clube [o jogador que tem mais
tempo defendendo o clube] é o capitão". O mais velho da seleção é
Cafu.
(FÁBIO VICTOR, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)
Texto Anterior: CBF quer reter Scolari e anuncia Falcão Próximo Texto: CBF vai impor premiação da Copa aos atletas Índice
|