São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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FUTEBOL

Corrigir as deficiências

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Os treinos e os amistosos contra fracas equipes antes da estréia da Copa servirão para o Scolari corrigir algumas deficiências da seleção brasileira e escalar o time titular.
É preciso definir se os três zagueiros vão jogar em linha, revezando-se na cobertura, ou se haverá um fixo na sobra (Anderson Polga). Dessa maneira, é mais simples e eficiente. No gol sofrido contra Portugal, Anderson Polga, que deveria ser o zagueiro na sobra, acompanhou o atacante até o meio-campo. Roque Júnior e Lúcio não fizeram a cobertura.
Felipão já disse que não joga com dois zagueiros desde o início da partida porque o Cafu não sabe marcar. É verdade. Quando atua como lateral, Cafu joga como se fosse um ala. Não faz a cobertura do zagueiro. Diferentemente, Roberto Carlos joga de ala na seleção da mesma maneira que atua como lateral no Real Madrid. Avança pouco.
Cafu e Roberto Carlos só atacam encostados na lateral do campo. Não entram pelo meio como armadores nem ajudam os volantes, como se deve fazer um ala. Fica fácil anulá-los. Basta escalar um jogador para obstruir a passagem dos dois em velocidade. Eles não sabem driblar em curto espaço.
Felipão disse numa entrevista à Folha que os meias armadores da seleção são Vampeta e Kleberson. Todo mundo sabe que não é verdade. Os dois são volantes que, às vezes, aparecem na intermediária do outro time para dar um passe ou finalizar. Eles não têm as características e a habilidade de um meia armador, como Ricardinho, Juninho Pernambucano, Zé Roberto e Felipe.
Pelo menos Felipão percebeu que ao lado do Emerson é melhor o Vampeta ou o Kleberson do que o Gilberto Silva. O volante do Atlético-MG é uma ótima opção para o lugar do Emerson.
O problema no meio-campo não é somente a falta de um meia armador. Há 44 anos, na Copa de 58, o ponta-esquerda Zagallo foi jogar no meio-campo porque percebeu que não dava para uma equipe atuar apenas com dois jogadores nesse setor, como faz a seleção atual. Ronaldinho é um meia-atacante, e os alas não são armadores.
Na frente, as grandes esperanças são os dois Ronaldos e Rivaldo. Porém os três atuam pelo meio, driblando e trocando passes curtos. Nenhum faz dupla com o ala. Isso facilita ainda mais a marcação sobre Roberto Carlos e Cafu. Quando entra o Denílson e/ou o Edílson, piora a qualidade individual, mas melhora o posicionamento.
Felipão percebeu isso e já disse que quer treinar muito a passagem dos laterais. Bastaria pedir ao Ronaldo e ao Rivaldo que também atuassem pelos flancos. Foi o que fez o Luxemburgo na brilhante partida contra a Argentina, pelas eliminatórias, em São Paulo.
Aliás, o time titular do Felipão é o mesmo do Luxemburgo, com apenas a troca de um meia armador (Zé Roberto) por um terceiro zagueiro (Anderson Polga).
As variações táticas durante uma partida são bem-vindas -sempre critiquei a mesmice dos técnicos-, mas as mudanças do Felipão são muito bruscas. O time inicia a partida com excesso de cuidados defensivos e no segundo tempo muda radicalmente quando não está ganhando. Essa é uma antiga característica do treinador. As equipes que dirige são confusas, não agradam, dão muitos sustos, mas, no final, costumam dar certo.

Cumpridor de ordens
Discordo dos que acham que o Rubinho Barrichello foi profissional e cumpriu o contrato ao deixar o Schumacher passar e vencer. As regras absurdas existem para serem transgredidas. O mínimo que se espera de um competidor num esporte individual é o orgulho, a vaidade, a garra e a luta pelas vitórias e títulos.
A F-1 é um grande negócio, mas eu pensava que era também um esporte. Enganei-me. Schumacher e Rubinho agiram como comerciantes, não como atletas. Não assistirei mais a essa marmelada.
Seria como um técnico pedir a seus jogadores para perder a partida, com intenção de beneficiar outra equipe associada à mesma empresa; o Felipão dizer que não convocou Romário por exigências comerciais da AmBev e da CBF, e o Zagallo confessar que foi obrigado pela Nike a escalar o Ronaldo na final da Copa da França, em 1998. Não assistiria mais aos jogos da seleção.
Rubinho afirma que teve de obedecer ordens. Ele será sempre um coadjuvante. Aquele que cumpre ordens.

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