|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Luta eletrizante frustra brasileiro e plano de carreira
Márcio Wenceslau leva a prata ao perder para o mesmo carrasco do seu irmão em Santo Domingo, há quatro anos
Marcações controversas da arbitragem e ameaça de deixar o esporte do lutador paulista marcam derrota para Gabriel Mercedes
DO ENVIADO AO RIO
Foi uma medalha eletrizante,
polêmica. Mas foi também um
pódio com uma comemoração
contida, quase amarga. Tudo isso ocorreu com o paulista Márcio Wenceslau, 27, que conquistou ontem a prata no taekwondo na categoria até 58 kg.
E isso numa final épica e controversa contra o dominicano
Gabriel Mercedes. Wenceslau
perdia por um ponto quando o
cronômetro estava quase zerado. O rival, então, virou as costas e correu para fora da área de
combate. O brasileiro o perseguiu e desferiu um chute. Mas a
regra manda punir com um
ponto atitudes como a de Mercedes. Isso levou a luta ao desempate. De novo, os árbitros
foram criticados pelos atletas.
"A regra é clara. Quem coloca
as mãos no chão deve ser punido. Ele [Mercedes] fez isso várias vezes e não foi punido",
disse Wenceslau. O dominicano preferiu contemporizar.
"Tudo é questão de interpretação. É o trabalho dos juízes."
Sem pontuação no desempate, a luta foi decidida pelos árbitros, que indicaram o dominicano, bronze em Santo Domingo-2003, como vencedor.
"Pela luta toda, ele merecia,
mas a verdade é que, no desempate, o Márcio deveria vencer
se não fossem os erros do juiz",
disse o técnico Carlos Negrão,
que se queixou da falta de brasileiros na arbitragem do taekwondo e de um suposto favorecimento aos dominicanos.
Com o ouro perdido, Wenceslau saiu chorando, muito,
para os vestiários. Voltou para a
entrega das medalhas sério,
sem sorrir. Havia sido batido
pelo mesmo rival que ganhou
de seu irmão Marcel, com
quem se alterna na categoria
nos grandes torneios do taekwondo, em Santo Domingo. E
com quem muito treinou, pois
Mercedes e outros atletas dominicanos fizeram preparação
no Brasil na última temporada.
Wenceslau viu a chance de
mudar de vida escapar. "Estou
feliz, mas com o ouro teria mais
chances de conseguir patrocinador para seguir no esporte",
disse Wenceslau, que usou as
economias de R$ 5.000 que
pretendia gastar para trocar
seu Kadett 1995 por um carro
melhor para viajar à Europa para disputar o circuito mundial e
se preparar melhor para o Pan.
O paulista até fala em encerrar a carreira se não renovar
sua Bolsa-Atleta, programa do
governo federal que é a sua única fonte de receita no esporte
(R$ 2.500 mensais, sendo que
80% é gasto com treino).
"A bolsa acaba em outubro.
Tive problemas para preencher
a renovação on-line. Dificilmente seguirei a carreira se
eles não aceitarem o pedido."
No feminino, Valdirene Gonçalves foi eliminada na primeira luta pela argentina Laura Lopes e também se queixou da arbitragem. Hoje, no Riocentro,
estarão em ação Débora Nunes,
na categoria até 57 kg, e Diogo
Silva (que foi semifinalista nos
Jogos Olímpicos de Atenas, em
2004), nos 68 kg.
(PAULO COBOS)
Texto Anterior: Mineiro que quase ficou de fora leva a prata Próximo Texto: Ex-tratador de cavalos é sexto na abertura do adestramento Índice
|