São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Luta eletrizante frustra brasileiro e plano de carreira

Márcio Wenceslau leva a prata ao perder para o mesmo carrasco do seu irmão em Santo Domingo, há quatro anos

Marcações controversas da arbitragem e ameaça de deixar o esporte do lutador paulista marcam derrota para Gabriel Mercedes

DO ENVIADO AO RIO

Foi uma medalha eletrizante, polêmica. Mas foi também um pódio com uma comemoração contida, quase amarga. Tudo isso ocorreu com o paulista Márcio Wenceslau, 27, que conquistou ontem a prata no taekwondo na categoria até 58 kg.
E isso numa final épica e controversa contra o dominicano Gabriel Mercedes. Wenceslau perdia por um ponto quando o cronômetro estava quase zerado. O rival, então, virou as costas e correu para fora da área de combate. O brasileiro o perseguiu e desferiu um chute. Mas a regra manda punir com um ponto atitudes como a de Mercedes. Isso levou a luta ao desempate. De novo, os árbitros foram criticados pelos atletas.
"A regra é clara. Quem coloca as mãos no chão deve ser punido. Ele [Mercedes] fez isso várias vezes e não foi punido", disse Wenceslau. O dominicano preferiu contemporizar. "Tudo é questão de interpretação. É o trabalho dos juízes."
Sem pontuação no desempate, a luta foi decidida pelos árbitros, que indicaram o dominicano, bronze em Santo Domingo-2003, como vencedor.
"Pela luta toda, ele merecia, mas a verdade é que, no desempate, o Márcio deveria vencer se não fossem os erros do juiz", disse o técnico Carlos Negrão, que se queixou da falta de brasileiros na arbitragem do taekwondo e de um suposto favorecimento aos dominicanos.
Com o ouro perdido, Wenceslau saiu chorando, muito, para os vestiários. Voltou para a entrega das medalhas sério, sem sorrir. Havia sido batido pelo mesmo rival que ganhou de seu irmão Marcel, com quem se alterna na categoria nos grandes torneios do taekwondo, em Santo Domingo. E com quem muito treinou, pois Mercedes e outros atletas dominicanos fizeram preparação no Brasil na última temporada.
Wenceslau viu a chance de mudar de vida escapar. "Estou feliz, mas com o ouro teria mais chances de conseguir patrocinador para seguir no esporte", disse Wenceslau, que usou as economias de R$ 5.000 que pretendia gastar para trocar seu Kadett 1995 por um carro melhor para viajar à Europa para disputar o circuito mundial e se preparar melhor para o Pan.
O paulista até fala em encerrar a carreira se não renovar sua Bolsa-Atleta, programa do governo federal que é a sua única fonte de receita no esporte (R$ 2.500 mensais, sendo que 80% é gasto com treino).
"A bolsa acaba em outubro. Tive problemas para preencher a renovação on-line. Dificilmente seguirei a carreira se eles não aceitarem o pedido."
No feminino, Valdirene Gonçalves foi eliminada na primeira luta pela argentina Laura Lopes e também se queixou da arbitragem. Hoje, no Riocentro, estarão em ação Débora Nunes, na categoria até 57 kg, e Diogo Silva (que foi semifinalista nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004), nos 68 kg. (PAULO COBOS)


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