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Empresário francês chora ao falar da favela
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário francês Rafael
Zajdenwerg, de origem polonesa-judaica, vai às lágrimas ao
falar de sua relação com a favela
Belém-Belém e do descaso das
autoridades, que impediu a implantação de uma horta comunitária que beneficiaria as famílias mais pobres.
""A favela nunca me prejudicou", afirma o empresário, dono da casa de festas Stadium
2000, separada da favela somente por um muro.
Zajdenwerg, apelidado na região como Francês, chegou ao
Rio aos 22 anos, em 1952, traumatizado pela Segunda Guerra
Mundial. Tornou-se comerciante e comprou um terreno
no Engenho de Dentro, em sociedade com parentes que haviam morado nos EUA.
Ele pretendia implantar ali
uma fábrica de confecção para
exportação, mas as crises econômicas e a burocracia o fizeram desistir.
No lugar da fábrica, fez uma
casa de festas, nos anos 80. Os
trilhos ainda não tinham sido
tomados pelos barracos de tábua, mas já existia a favela Trajano de Medeiros, de alvenaria.
O empresário tentou implantar uma horta comunitária no
terreno vago. Os trilhos seriam
usados para transportar a produção. Visitou experiências similares e começou a busca por
uma autorização da prefeitura.
""Numa manhã, em 1998, começaram a construir os barracos sobre os trilhos, do outro lado do muro. Subi em uma escada e pedi para falar com o líder
deles. Apontaram-me um representante do Comando Vermelho. Levei-o ao meu escritório e mostrei a maquete da horta comunitária. Ele compreendeu a importância do projeto,
estancou a invasão e preservou
uma parte do terreno livre, que
hoje tem entulho. A prefeitura
não autorizou o uso do terreno,
alegando que ele era objeto de
disputa judicial entre a União e
a empresa", diz ele.
O empresário chorou ao relembrar o fracasso do projeto.
"Eu me emociono ao ver as
crianças de uniformes escolares entrando nos barracos de
tábua. O brasileiro é um povo
indulgente, alegre e generoso,
mas, infelizmente, muito manobrável", resumiu.
(EL)
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