São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Empresário francês chora ao falar da favela

DA SUCURSAL DO RIO

O empresário francês Rafael Zajdenwerg, de origem polonesa-judaica, vai às lágrimas ao falar de sua relação com a favela Belém-Belém e do descaso das autoridades, que impediu a implantação de uma horta comunitária que beneficiaria as famílias mais pobres.
""A favela nunca me prejudicou", afirma o empresário, dono da casa de festas Stadium 2000, separada da favela somente por um muro.
Zajdenwerg, apelidado na região como Francês, chegou ao Rio aos 22 anos, em 1952, traumatizado pela Segunda Guerra Mundial. Tornou-se comerciante e comprou um terreno no Engenho de Dentro, em sociedade com parentes que haviam morado nos EUA.
Ele pretendia implantar ali uma fábrica de confecção para exportação, mas as crises econômicas e a burocracia o fizeram desistir.
No lugar da fábrica, fez uma casa de festas, nos anos 80. Os trilhos ainda não tinham sido tomados pelos barracos de tábua, mas já existia a favela Trajano de Medeiros, de alvenaria.
O empresário tentou implantar uma horta comunitária no terreno vago. Os trilhos seriam usados para transportar a produção. Visitou experiências similares e começou a busca por uma autorização da prefeitura.
""Numa manhã, em 1998, começaram a construir os barracos sobre os trilhos, do outro lado do muro. Subi em uma escada e pedi para falar com o líder deles. Apontaram-me um representante do Comando Vermelho. Levei-o ao meu escritório e mostrei a maquete da horta comunitária. Ele compreendeu a importância do projeto, estancou a invasão e preservou uma parte do terreno livre, que hoje tem entulho. A prefeitura não autorizou o uso do terreno, alegando que ele era objeto de disputa judicial entre a União e a empresa", diz ele.
O empresário chorou ao relembrar o fracasso do projeto. "Eu me emociono ao ver as crianças de uniformes escolares entrando nos barracos de tábua. O brasileiro é um povo indulgente, alegre e generoso, mas, infelizmente, muito manobrável", resumiu. (EL)


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