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TOSTÃO
Chato, moderno e científico
Os gols por meio de dribles, tabelas e passes curtos, no futuro, vão virar lendas ou
imagens de museu
NOS CAMPEONATOS Brasileiros
anteriores por pontos corridos, todos diziam que para
um time ser campeão era necessário
arriscar, jogar no ataque, já que
a vitória vale três pontos. O São Paulo desmistificou esse conceito. A
estratégia principal do time tem sido reforçar a marcação, não correr
riscos, não levar gols e fazer pelo
menos um, principalmente nas bolas paradas.
A cada ano aumenta o número de
gols em bolas paradas. Os técnicos
só pensam nisso. Já existem até teses de mestrado para saber as melhores posições na área dos jogadores, para fazer gol e para evitá-los.
É a versão moderna e científica do
chuveirinho ou dos pequenos gols,
como eram chamados na Inglaterra.
A bola é lançada na área, um jogador
cabeceia para o gol ou ocorre um bololô na zona do agrião. Alguém aproveita o rebote e toca a bola para as
redes. Em vez de pequeno gol, deveria ser chamado de gol feio.
Hoje, todo bom time tem um ótimo cruzador e excelentes cabeceadores.
No São Paulo, 41% de seus gols no
Brasileirão saíram de bolas paradas.
A equipe paulista tem o melhor cruzador do campeonato, Jorge Wagner, e possui vários grandalhões
bons na jogada aérea.
Bons cruzadores e cabeceadores
são hoje mais valorizados e procurados pelos treinadores do que os
meias habilidosos e criativos. O camisa 10 já era.
A melhor maneira de bater um escanteio é cruzar forte, de curva, com
a bola indo em grande velocidade,
sem subir muito, saindo do goleiro e
caindo na entrada da pequena área.
O goleiro acredita que dá para pegar
e acaba ficando no meio do caminho. Enquanto o zagueiro está parado, o cabeceador vem de trás, toma
impulso e cabeceia a bola de frente.
Nesses lances, há mais méritos do
ataque do que deficiências da defesa
e do goleiro.
No passado, falavam muito no
confronto entre os baixinhos brasileiros e os grandalhões da Europa.
Não há mais essa diferença.
Os nossos jogadores estão cada
vez mais altos, mesmo os meias e os
atacantes.
Os baixinhos são reprovados nas
peneiras das categorias de base dos
clubes. Romário foi o último genial e
grande atacante baixinho.
Os europeus copiaram a habilidade e a improvisação do futebol brasileiro, e nós importamos a marcação,
a disciplina tática e a eficiência no
jogo aéreo.
É a globalização do futebol. Pouco
se cria, quase tudo se copia.
Os brasileiros são hoje até melhores do que os europeus no jogo aéreo, pois sabem muito melhor dar
uma curva na bola. Isso foi um avanço no nosso futebol.
Por outro lado, diminuiu, progressivamente, o número de gols por
meio de dribles, tabelas e passes curtos. Uma coisa não é incompatível
com a outra.
No futuro, esses gols por meio de
dribles e tabelas vão virar lendas ou
imagens de museu. Vão mudar até a
regra do futebol para alguns jogadores entrarem e saírem várias vezes
de uma partida somente para cobrar
escanteios e bater faltas, como no
futebol americano.
O futebol vai ficar ainda mais previsível, programado, chato, moderno e científico.
tostao.folha@uol.com.br
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