São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Saudade

Ademir da Guia visita obras do Parque Antarctica e lembra suas glórias na já desfigurada arena

Eduardo Anizelli/Folhapress
Ademir na Guia, ídolo palmeirense, em visita ao Parque Antarctica

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

O maior craque da história do Palmeiras percebeu que as coisas mudaram enquanto se esforçava para entrar no Parque Antarctica.
"Meu nome é Ademir. Ademir da Guia. Sou ex-jogador. Eu frequento este estádio há 50 anos", afirmou a um dos porteiros da arena, na tarde de terça-feira.
Pela primeira vez desde que o estádio tornou-se apenas uma lembrança do que já foi -as demolições já desfiguram o campo-, Ademir da Guia, 69, entrou no gramado em que tantas vezes brilhou pelo seu amado Palmeiras.
A convite da Folha, ele visitou o local que, em 2013, se transformará em um moderno espaço. A camisa era a mesma dos anos 60, verde- -esmeralda. A elegância e a educação que marcaram seu inconfundível estilo também continuam irretocáveis. "Ver o campo assim desse jeito dá uma pena muito grande. Ainda não tinha tido essa visão. Olha só, está tudo quebrado! Eu não tinha visto assim ainda!", declarou.
Durante quase uma hora, o Divino, como é chamado pelos palmeirenses, falou sobre o passado e a saudade do estádio -mesmo quando a memória não ajuda muito.
"Teve um jogo inesquecível aqui contra o Santos em 1972. Nós ganhamos. Não lembro qual foi o resultado.
Mas ganhamos bem", contou o ex-meio-campista. A nostalgia continua.
"Também teve um gol meu que foi inesquecível. Eu trouxe a bola lá de trás, driblei o goleiro e entrei com bola e tudo. Não lembro agora contra quem foi", disse Ademir.
A memória escrita ajuda um pouco. Em quase 16 anos como jogador do Palmeiras, o que lhe rendeu um busto no estádio, Ademir da Guia fez 901 jogos e marcou 153 gols. No Parque Antarctica, jogou 184 vezes -fica atrás somente do goleiro Marcos.
"A gente tem o desejo de sempre subir para o campo. É onde jogamos, onde tivemos todo tipo de sensação. Meu tempo já passou, mas tenho lembranças boas", disse ele.
Mas Ademir da Guia não gosta de viver apenas do passado. À beira dos 70 anos, o carioca, filho de Domingos da Guia, gaba-se de estar em forma -com exceção de uma dorzinha no joelho-, fruto dos jogos que ainda faz com o time master do Palmeiras.
"Quando foi reformado em 1964 e fizeram os jardins suspensos, eu joguei na reabertura. Contra o Boca Juniors [despedida do estádio, em 2010], joguei a preliminar com o master. Entrar em campo é sempre legal."
Então ele para. E pergunta para a assessoria da WTorre, empresa responsável pela reforma, quando a nova arena ficará pronta para os jogos.
"Março de 2013? Eu vou jogar quando sair o estádio novo! Já está definido: o [time] master na preliminar e o Palmeiras depois. Março de 2013. Vou me preparar."
O estado irreversível da reforma, por enquanto ainda na etapa de demolições, não parece preocupar Ademir.
"Não sinto receio, não. Você não pode parar uma obra que já está dessa maneira. Ela [a obra] vai continuar.
Não tem como retroceder mais", afirmou o Divino. O ídolo ainda fala do futuro do Palmeiras, que fracassou na última década. "A gente tem a esperança de que o time entre bem no Paulista para poder fazer boa campanha no Brasileiro. Ser palmeirense é isso: carinho, amor, alegrias e decepções."

FOLHA.com

Veja trechos da entrevista com Ademir da Guia
folha.com.br/es860749


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