São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Chega de certeza!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Matutinas leitoras, matutos leitores, chega! Abaixo os casamentos modorrentos! Abaixo os empregos enfadonhos! Abaixo a seleção estável e tranqüila! Sim, meus amigos, chega de mesmice! Toda vez é a mesma coisa, toda vez são os mesmos!
Não, não, este começo me pareceu muito irado, vou tentar de novo. Por favor, desleiam o texto acima. O terceiro parágrafo será o primeiro.
Matutinas leitoras, matutos leitores, saiu a nova convocação da seleção. Alguma surpresa? Nenhuma. Parreira não gosta de surpresas. Acho isso bom e ruim. Bom. porque mostra que ele tem certeza de seus caminhos. Ruim, porque quase nunca as certezas estão totalmente certas. O ideal seria que ele fosse mais aberto à novidade, à experimentação.
Por exemplo, Cris e Maicon só foram chamados porque Roque Júnior e Belleti estão machucados. Mas gosto mais (e Tostão também) dos dois primeiros que dos dois segundos. E gostaria mais ainda se fossem chamados Alex e Mancini, que vêm jogando o fino por seus clubes. Mas Parreira considera o grupo fechado.
Por conta desse grupo fechado, ele pode acabar nem levando Marcos e Rogério Ceni, que, recuperados de suas contusões, são tão bons quanto Dida. Mas aí até compreendo o técnico da seleção. Goleiro é mais ou menos como barbeiro. É cargo de confiança, e a gente só troca em último caso.
Na lateral esquerda, Júnior está melhor que Gustavo Nery, como disseram Juca Kfouri e o próprio e imodesto Júnior. Se está melhor, por que não experimentar?
No meio, eu e um monte de gente preferimos Juninho Pernambucano a Zé Roberto. Não que Zé Roberto seja ruim, longe disso. Mas Juninho é um pouco melhor e dá mais opções. Será que nem o teste interessa a Parreira?
Entre os volantes, será que Mineiro não está melhor que Gilberto Silva e Edmílson? O são-paulino tem uma constância absurda, um fôlego de camelo e, de quando em quando, ainda faz um golzinho. Me parece uma injustiça considerá-lo fora do grupo.
No ataque, não há duvidas. Adriano, Ronaldo, Robinho e Fred são mesmo os melhores. Acho que com qualquer dois destes quatro teremos o melhor ataque do mundo. Mas Fred só entrou no grupo por conta da contusão de Ricardo Oliveira, que é bom, mas não é especial, como o atacante do Lyon.
Esse negócio de certezas absolutas é mais para ditadores, fanáticos religiosos e adolescentes. Quem pensa tem dúvidas. Por isso, acho que ainda podemos ter alguns pontos de interrogação e menos pontos finais.
Assim, a única novidade na seleção será a camisa. Que, por sinal, é bem bonita. Aquela com o brasão da CBF ao centro era um tanto carnavalesca, e a versão da Copa das Confederações tinha um ar "high-tech" meio sem graça. Esta não. Ela junta uma certa tradição com inovação. E a azul também é bem bonita. Pena que o preço da camisa do Brasil não seja para brasileiros. A maioria terá que esperar a versão pirata.

Born to play
Falando em camisa da seleção, pela 1ª vez ela traz uma inscrição: "Nascido para jogar futebol". Tenho dúvidas sobre o bom gosto disso. Como é uma construção da língua inglesa, não tem a mesma musicalidade em português. "Born to kill" ou "born to play" têm ritmo, com uma bela divisão de sílabas, uma tônica no começo e outra no fim. Já "Nascido para jogar futebol" não. E não sei se essa frase é um elogio ou uma falta de opção, como se só nos restasse isso, como se os brasileiros nascessem só para jogar futebol. Pensei em opções, como "Nascido para vencer", que parece piegas, mas têm mais música, e "Nascido para a bola", que pode ter mais sentido para o Brasil. Ainda mais quando sabemos que "bola" é sinônimo de suborno, corrupção.

E-mail torero@uol.com.br


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