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FUTEBOL
Chega de certeza!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Matutinas leitoras, matutos leitores, chega! Abaixo
os casamentos modorrentos!
Abaixo os empregos enfadonhos!
Abaixo a seleção estável e tranqüila! Sim, meus amigos, chega de
mesmice! Toda vez é a mesma
coisa, toda vez são os mesmos!
Não, não, este começo me pareceu muito irado, vou tentar de
novo. Por favor, desleiam o texto
acima. O terceiro parágrafo será o
primeiro.
Matutinas leitoras, matutos leitores, saiu a nova convocação da
seleção. Alguma surpresa? Nenhuma. Parreira não gosta de
surpresas. Acho isso bom e ruim.
Bom. porque mostra que ele tem
certeza de seus caminhos. Ruim,
porque quase nunca as certezas
estão totalmente certas. O ideal
seria que ele fosse mais aberto à
novidade, à experimentação.
Por exemplo, Cris e Maicon só
foram chamados porque Roque
Júnior e Belleti estão machucados. Mas gosto mais (e Tostão
também) dos dois primeiros que
dos dois segundos. E gostaria
mais ainda se fossem chamados
Alex e Mancini, que vêm jogando
o fino por seus clubes. Mas Parreira considera o grupo fechado.
Por conta desse grupo fechado,
ele pode acabar nem levando
Marcos e Rogério Ceni, que, recuperados de suas contusões, são
tão bons quanto Dida. Mas aí até
compreendo o técnico da seleção.
Goleiro é mais ou menos como
barbeiro. É cargo de confiança, e
a gente só troca em último caso.
Na lateral esquerda, Júnior está
melhor que Gustavo Nery, como
disseram Juca Kfouri e o próprio e
imodesto Júnior. Se está melhor,
por que não experimentar?
No meio, eu e um monte de gente preferimos Juninho Pernambucano a Zé Roberto. Não que Zé
Roberto seja ruim, longe disso.
Mas Juninho é um pouco melhor
e dá mais opções. Será que nem o
teste interessa a Parreira?
Entre os volantes, será que Mineiro não está melhor que Gilberto Silva e Edmílson? O são-paulino tem uma constância absurda,
um fôlego de camelo e, de quando
em quando, ainda faz um golzinho. Me parece uma injustiça
considerá-lo fora do grupo.
No ataque, não há duvidas.
Adriano, Ronaldo, Robinho e
Fred são mesmo os melhores.
Acho que com qualquer dois destes quatro teremos o melhor ataque do mundo. Mas Fred só entrou no grupo por conta da contusão de Ricardo Oliveira, que é
bom, mas não é especial, como o
atacante do Lyon.
Esse negócio de certezas absolutas é mais para ditadores, fanáticos religiosos e adolescentes.
Quem pensa tem dúvidas. Por isso, acho que ainda podemos ter
alguns pontos de interrogação e
menos pontos finais.
Assim, a única novidade na seleção será a camisa. Que, por sinal, é bem bonita. Aquela com o
brasão da CBF ao centro era um
tanto carnavalesca, e a versão da
Copa das Confederações tinha
um ar "high-tech" meio sem graça. Esta não. Ela junta uma certa
tradição com inovação. E a azul
também é bem bonita. Pena que o
preço da camisa do Brasil não seja para brasileiros. A maioria terá
que esperar a versão pirata.
Born to play
Falando em camisa da seleção,
pela 1ª vez ela traz uma inscrição: "Nascido para jogar futebol". Tenho dúvidas sobre o
bom gosto disso. Como é uma
construção da língua inglesa,
não tem a mesma musicalidade
em português. "Born to kill" ou
"born to play" têm ritmo, com
uma bela divisão de sílabas,
uma tônica no começo e outra
no fim. Já "Nascido para jogar
futebol" não. E não sei se essa
frase é um elogio ou uma falta
de opção, como se só nos restasse isso, como se os brasileiros nascessem só para jogar futebol. Pensei em opções, como
"Nascido para vencer", que parece piegas, mas têm mais música, e "Nascido para a bola",
que pode ter mais sentido para
o Brasil. Ainda mais quando sabemos que "bola" é sinônimo
de suborno, corrupção.
E-mail torero@uol.com.br
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