São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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AÇÃO

Quem pagou mico?

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Fugi do Carnaval. Na verdade, uma semana antes já estava de férias. Viajei no dia em que a carioca Isabel Clark, 28, obteve a nona posição no boardercross, modalidade do snowboard que fez sua estréia olímpica em grande estilo nos Jogos de Turim. Antes de embarcar, ainda pude ver a matéria de encerramento do "Jornal Nacional" destacando o excelente resultado da brasileira, única snowboarder sul-americana a competir numa Olimpíada desde que o esporte entrou para os Jogos, em Nagano-98.
Ao voltar, checando correspondências, jornais e revistas que circularam na minha ausência, li a infeliz abordagem que parte da mídia nacional fez sobre o assunto. Uma matéria sugeria que o COB deveria investir melhor o dinheiro público e que os brasileiros iriam pagar mico nas competições. Sobre a verba do comitê, recurso proveniente das loterias (do qual o COB fica com 80%, e o Comitê Paraolímpico, com 20%), a Confederação Brasileira de Esportes de Neve recebe 1% em ano olímpico e 0,5% nos outros três anos, valor que, mesmo somado à contribuição da federação internacional (FIS), não é suficiente para cobrir as despesas exigidas em euro e em dólar. Patrocínios são raros, e o que prevalece é o investimento pessoal dos atletas.
Em outra matéria, na semana seguinte, o mesmo veículo diz que virou moda criticar os Jogos de Inverno e cita artigo publicado num jornal americano. Pegou a carona errada: com raras exceções, a Olimpíada de Inverno costuma ser abordada pela mídia internacional de forma coerente, técnica e séria.
Mico? Alcançamos em Turim os dois melhores resultados de nossa história nos Jogos. A carioca Isabel, que o artigo induz o leitor a acreditar que obteve o resultado por pura sorte, teve que competir durante meses com milhares de adversárias para alcançar o índice olímpico e estar entre as 16 que disputariam as medalhas na Itália. Só isso já justificaria muito mais que as três linhas dedicadas a ela na edição, que dizer do fato de ela ter obtido o terceiro melhor tempo na primeira tomada para a largada e o sexto na geral? Não fosse o mau desempenho das atletas tidas como favoritas nessas tomadas de tempo, que determinam a formação das baterias, e ela poderia ter ido mais longe.
No esqui downhill, na altamente técnica pista de Sestriere, na qual os atletas deslizam e voam a cerca de 130 km/h praticamente sobre o gelo, tão dura é a pista, o também carioca Nikolai Hentsch, especialista na modalidade, terminou apenas na 43ª colocação. Já no slalom gigante, que disputou sem maiores pretensões, ficou em 30º, entre 82 competidores, batendo a marca de Lelo Apovian, 37º, até então a melhor de um brasileiro no esqui.
Hentsch não foi citado na tal matéria, já o curling, que realmente é um porre, mereceu longo parágrafo. Parece que, não bastasse as limitações climáticas, técnicas e de recursos, Clark, Hentsch e promessas como Ricardo Kawamura e Jonatham Longui terão que enfrentar a miopia da mídia para bem representar o país nos Jogos de Vancouver-10.

Skate no abismo 1
Bob Burnquist juntou sua experiência no skate à paixão pelo pára-quedismo para realizar um salto no Grand Canyon, EUA. A idéia, que vai ao ar no "Stunt Junkies" do Discovery Channel (EUA) no próximo dia 23, começa numa rampa, segue num corrimão e continua num aéreo/base jump até a abertura do pára-quedas.

Skate no abismo 2
Na mesma linha extreme skate, o americano Danny Way se prepara para despencar do alto da guitarra do Hard Rock Café de Las Vegas.

Mundial de surfe - Austrália
As ondas estiveram irregulares, mas Kelly Slater não. Ele abriu o ano com vitória no WCT. O brasileiro Adriano de Souza, 19, foi o terceiro.

E-mail sarli@trip.com.br


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