São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Soninha

Mens & corpore

O corpo o deprime ou é a mente que está agredindo o corpo de Ronaldo?

GORDO? A essa altura, isso é o de menos. Lento, deprimido, desinteressado, apático, estranho. Se Ronaldo só estivesse gordo, ainda poderia fazer os sete gols que muitos prevêem, "para calar a boca dos críticos" (quem dera!). Poderia ludibriar os marcadores daquele jeito manjado e eficaz: fingir-se de morto e dar um toque certeiro quando estivessem distraídos. Poderia, movido a uma vontade soberana, superar a condição atual e fazer um gol naquela sua antiga velocidade. Quantas vezes o mais velho ganha na corrida do mais novo (como Figo contra o marcador angolano), o mais gordo dribla o mais magro (como Maradona ainda deve fazer, se quiser)? A gente sabe, está cansado de saber: dor e cansaço podem ser nocauteados pela mente. Em momentos de desespero ou euforia, o corpo vai mais longe do que iria. Mas a mente também derruba o corpo -a pele, o estômago, as pernas, o coração. Ronaldo não está bem de saúde, no sentido mais "holístico" do termo. Se é a falta de condição física, a dor e o cansaço que o deprimem ou se é o desânimo, o nervosismo e o cansaço que o tornam vulnerável a bolhas, febres e mal-estares, dificilmente saberemos. Quem há de saber? A mãe, o assessor, o melhor amigo? Talvez, sem ironia, a namorada... Talvez com ela ele se abra e diga: "Amor, não agüento mais isso tudo; queria ir embora com você, poder largar o trabalho, fumar e beber sem me preocupar com o dia seguinte, o fim da temporada do Real Madrid ou a felicidade do Brasil". Em 2004, a comissão técnica da seleção negava que Ronaldo estivesse acima do peso. Logo depois, Parreira comemorava o namoro com Daniella Cicarelli, porque Ronaldo corria com ela e já tinha perdido 8 kg... Ronaldo, o astro, o fenômeno, precisava de um estímulo alheio ao futebol para se empenhar por alguma coisa. Para seu bem, Ronaldo precisa cuidar da saúde, física e mental. Por ele e por todos os outros, Parreira precisa simplesmente escalar os melhores. Sem mistério e sem drama.

soninha.folha@uol.com.br


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