São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Mulher de malandro

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Deixando para outra hora e lugar a discussão muito séria e necessária sobre mulheres que apanham e não se separam de seus companheiros violentos, recorro à expressão acima para falar dos torcedores de futebol no Brasil (os mesmos que Marco Bianchi chamou ontem, neste espaço, de "cornos mansos"). Continuamos sendo maltratados, continuamos gostando de futebol.
Um comentário rápido sobre a proibição de camisas de times no jogo da seleção no Morumbi gerou mais reações do que eu esperava. Um torcedor de 22 anos foi impedido de entrar com uma camisa do Grêmio. Comentário irônico do pai dele, Antonio: "Seria o novo enfoque da polícia, que se preocupa agora com a integridade emocional dos torcedores - já que, pelo andar da carruagem, meu filho estaria de qualquer modo jogando fora essa camisa dentro de algumas semanas?".
O estilo é tão divertido que sigo com as palavras dele: "Ficamos sabendo que era "por motivos de segurança", e a prova disso é que havia sido barrado um menino de dez anos de idade vestindo a camisa do Real Madrid! É fácil entender: havia o risco de encontrar uma menina de nove anos, vestida com a camisa do Barça, e isso gerar um tumulto no estádio. Enfim, para não jogar fora os R$ 100 que havíamos pago, jogamos fora a camisa do Grêmio (que custou cerca de R$ 100). Ao conversar com outros descamisados, ficamos sabendo que também não foram permitidas camisas de campanha para vereador (dá para imaginar quanta briga isso poderia gerar?)".
E tem mais: "Superado esse obstáculo, nos dirigimos ao setor vermelho, para o qual havíamos comprado ingressos oito dias antes. O bilhete é de uma precisão fantástica: Setor: ARQ SUP VER S312 Fileira: -C- CADEIRA: 0074. Indica também o número da apólice de seguro e diz que o cartão deve ser mantido longe de objetos imantados, mas não diz que é proibido ir vestido com camisa de clube. Chegamos ao local 20 minutos antes do jogo, e não havia lugar. Juntamente com outros 15 torcedores com o mesmo problema, tentamos obter permissão para passar ao setor amarelo, atrás do gol, que tinha espaços vazios. O preço do bilhete ali era R$ 40. Enfim, conseguimos, depois de dez minutos de jogo".
Fernando, acompanhado do irmão e do filho de nove anos, estava no setor azul e tentou a mesma coisa, mas não teve sucesso: "Após muito aperto, encontramos alguns lugares disponíveis (separados, é claro)". Ele reclama ainda da abordagem dos "guardadores de carros" nas imediações do Morumbi -"extorsão feita sob a vista complacente de vários PMs".
Dizem que o preço do ingresso precisa aumentar para "melhorar o nível" do público no estádio e para poder oferecer melhores condições, mas os R$ 50 pagos não garantiram um atendimento de primeira... Já elogiei aqui boas iniciativas na organização desse jogo, mas não foram suficientes para atender ao consumidor como se deve - principalmente o consumidor "de nível".

Outros problemas
No Corinthians x Palmeiras, o trânsito em volta do estádio foi de enlouquecer. Perdi o último retorno na av. Jorge João Saad -não adivinhei que era o último- e percorri 200 m em dez minutos, sem ter para onde fugir. O setor da arquibancada em que fiquei tinha ambulantes, mas nenhuma lanchonete. E o escoamento da multidão na saída é um desastre, Deus nos livre de uma emergência. Vi um torcedor passando mal; ele foi carregado desajeitadamente por amigos e um policial e deitado no chão em uma rampa de saída. Uma ambulância só chegaria ali de helicóptero.

"Ey agonizestai"
Encontrar o "anjo do Vanderlei" foi um golaço de Guilherme Roseguini!

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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