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FUTEBOL
Mulher de malandro
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Deixando para outra hora e
lugar a discussão muito séria e necessária sobre mulheres
que apanham e não se separam
de seus companheiros violentos,
recorro à expressão acima para
falar dos torcedores de futebol no
Brasil (os mesmos que Marco
Bianchi chamou ontem, neste espaço, de "cornos mansos"). Continuamos sendo maltratados, continuamos gostando de futebol.
Um comentário rápido sobre a
proibição de camisas de times no
jogo da seleção no Morumbi gerou mais reações do que eu esperava. Um torcedor de 22 anos foi
impedido de entrar com uma camisa do Grêmio. Comentário irônico do pai dele, Antonio: "Seria o
novo enfoque da polícia, que se
preocupa agora com a integridade emocional dos torcedores - já
que, pelo andar da carruagem,
meu filho estaria de qualquer modo jogando fora essa camisa dentro de algumas semanas?".
O estilo é tão divertido que sigo
com as palavras dele: "Ficamos
sabendo que era "por motivos de
segurança", e a prova disso é que
havia sido barrado um menino
de dez anos de idade vestindo a
camisa do Real Madrid! É fácil
entender: havia o risco de encontrar uma menina de nove anos,
vestida com a camisa do Barça, e
isso gerar um tumulto no estádio.
Enfim, para não jogar fora os R$
100 que havíamos pago, jogamos
fora a camisa do Grêmio (que
custou cerca de R$ 100). Ao conversar com outros descamisados,
ficamos sabendo que também
não foram permitidas camisas de
campanha para vereador (dá para imaginar quanta briga isso poderia gerar?)".
E tem mais: "Superado esse obstáculo, nos dirigimos ao setor vermelho, para o qual havíamos
comprado ingressos oito dias antes. O bilhete é de uma precisão
fantástica: Setor: ARQ SUP VER
S312 Fileira: -C- CADEIRA:
0074. Indica também o número
da apólice de seguro e diz que o
cartão deve ser mantido longe de
objetos imantados, mas não diz
que é proibido ir vestido com camisa de clube. Chegamos ao local
20 minutos antes do jogo, e não
havia lugar. Juntamente com outros 15 torcedores com o mesmo
problema, tentamos obter permissão para passar ao setor amarelo, atrás do gol, que tinha espaços vazios. O preço do bilhete ali
era R$ 40. Enfim, conseguimos,
depois de dez minutos de jogo".
Fernando, acompanhado do irmão e do filho de nove anos, estava no setor azul e tentou a mesma
coisa, mas não teve sucesso: "Após
muito aperto, encontramos alguns lugares disponíveis (separados, é claro)". Ele reclama ainda
da abordagem dos "guardadores
de carros" nas imediações do Morumbi -"extorsão feita sob a vista complacente de vários PMs".
Dizem que o preço do ingresso
precisa aumentar para "melhorar
o nível" do público no estádio e
para poder oferecer melhores condições, mas os R$ 50 pagos não
garantiram um atendimento de
primeira... Já elogiei aqui boas
iniciativas na organização desse
jogo, mas não foram suficientes
para atender ao consumidor como se deve - principalmente o
consumidor "de nível".
Outros problemas
No Corinthians x Palmeiras, o
trânsito em volta do estádio foi
de enlouquecer. Perdi o último
retorno na av. Jorge João Saad
-não adivinhei que era o último- e percorri 200 m em dez
minutos, sem ter para onde fugir. O setor da arquibancada
em que fiquei tinha ambulantes, mas nenhuma lanchonete.
E o escoamento da multidão na
saída é um desastre, Deus nos
livre de uma emergência. Vi um
torcedor passando mal; ele foi
carregado desajeitadamente
por amigos e um policial e deitado no chão em uma rampa de
saída. Uma ambulância só chegaria ali de helicóptero.
"Ey agonizestai"
Encontrar o "anjo do Vanderlei" foi um golaço de Guilherme
Roseguini!
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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