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TOSTÃO
Mistérios e desejos pela camisa 10
Não sei dizer qual foi o fator determinante para o Dunga devolver ao Ronaldinho a 10, porém é possível divagar
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APÓS O FRACASSO na Copa do
Mundo de 2006 e o distanciamento geográfico e afetivo
dos torcedores brasileiros com os jogadores e a seleção, grande número
de pessoas não quer mais saber de
amistoso de seleção nem de Kaká e
Ronaldinho. Ainda mais depois do
pedido de dispensa dos dois jogadores da Copa América.
Durante a semana, um jornalista
disse que falta à seleção um camisa
10. Não sei se ele se referia a um craque, à posição de meia-atacante ou
meia de ligação ou a tudo isso. É estranhíssimo, já que os dois melhores
jogadores do mundo são brasileiros
e mais ou menos dessa posição. Se
ele falasse do Corinthians, tudo
bem. Na verdade, ele sabe que Kaká
e Ronaldinho estão, no mínimo, entre os melhores do mundo. Essa opinião reflete apenas a desilusão com
a seleção e com os jogadores. Isso diminuiu um pouco após a bela exibição contra o México.
Mesmo nesses momentos de desilusão, nunca perdi o encanto de assistir aos jogos do time brasileiro,
pois é a chance de ver tantos craques
juntos e lances maravilhosos, como
o primeiro gol contra os Estados
Unidos, os dribles em minúsculos
espaços do Robinho, os passes magistrais do Ronaldinho e as arrancadas do Kaká. Outros preferem assistir à correria e à mediocridade da
maior parte dos jogos do Campeonato Brasileiro.
Mesmo com vários momentos
ruins na seleção, Kaká, Ronaldinho
e Robinho -ele não está ainda no nível dos outros dois- são excepcionais e merecem ser os campeões e as
estrelas da próxima Copa do Mundo. Assim, ficariam imortalizados
entre os grandes craques da história
do futebol brasileiro e mundial.
Na minha opinião, já estão.
Zico não foi campeão do mundo e
é um desses.
Nesses últimos amistosos, Dunga
deu novamente a camisa 10 para o
Ronaldinho, que o técnico tinha tirado e passado para o Kaká. Não sei
qual foi o fator determinante para o
Dunga fazer isso, mas dá para divagar. Será que houve pedido e/ou
pressão da CBF e dos patrocinadores da entidade ou do atleta?
Ou Dunga percebeu, com ou sem a
ajuda de um psicólogo ou do seu escudeiro Jorginho, que o Ronaldinho
é um desses homens, atletas, que
precisam sempre de um carinho, de
um afago, de um elogio? Todos precisamos e gostamos. Uns mais, outros menos.
Retirar a camisa 10 do Ronaldinho
foi como tomar de uma criança seu
brinquedo, seu objeto transicional,
aquele travesseiro ou outro objeto
que as crianças carregam para todos
os lados durante a transição do
mundo de fantasia, do puro prazer,
para o mundo real, do possível.
Os psicanalistas falam que esse
objeto diminui a angústia dessa separação. Dizem ainda que, quanto
mais tempo a criança fica com o objeto, maior é a chance de ela ser criativa na vida adulta. Isso faz sentido com a inventividade do Ronaldinho
no campo.
Já o eficiente, aguerrido e determinado Kaká parece ser um desses
atletas que, se lhe tirarem uma perna, ele vai jogar ainda melhor com a
outra.
Como se vê, não perdi a chance, a
mania e a pose de ser um psicólogo
de botequim, de ocasião. Divagar é
preciso.
tostao.folha@uol.com.br
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