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TÊNIS
Brasileiro faz balanço positivo, mas reconhece que precisa melhorar 'tudo' para continuar no topo do ranking
Kuerten vê sorte em ano de sucesso
FÁBIO ZANINI
em Balneário Camboriú (SC)
Gustavo Kuerten, 21, reconhece
que precisa amadurecer e melhorar sua forma de jogar para chegar
às primeiras posições do ranking.
"Ainda não tenho condições de
ficar entre os primeiros. Preciso
jogar mais, amadurecer, ter mais
controle dos nervos", disse, em
entrevista à Agência Folha. Sua
meta é terminar o próximo ano entre os 20 primeiros do mundo.
Kuerten teve uma temporada
cheia de altos e baixos. No primeiro semestre, surpreendeu ao conquistar o Aberto da França. Nos
meses seguintes, acumulou derrotas que decepcionaram os fãs repentinos que fez no Brasil.
Agora, o tenista faz um balanço
positivo do ano. Considera que teve bastante sorte, principalmente
ao ganhar o Aberto da França, que
o projetou para o alto do ranking.
Agência Folha - Você começou o
ano desconhecido, tornou-se ídolo
e chegou ao final acumulando derrotas. Que avaliação faz de 1997?
Gustavo Kuerten - Foi excelente. Comecei entre os 80 do mundo
e acabei em 14º. Era uma coisa que
esperava alcançar, mas não sabia
se ia conseguir. Terminar entre os
50 já estaria ótimo, mas cheguei
até a estar entre os 10.
Agência Folha - Você ganhou de
jogadores no topo do ranking, mas
perdeu de outros bem abaixo de
sua posição. Como explica?
Kuerten - É normal. Hoje, todo
mundo joga bem. Esse negócio de
ranking engana. O nível dos jogadores é praticamente o mesmo. Às
vezes, alguém que está em 100º, jogando em um dia bom, supera alguém que está entre os 20.
Agência Folha - Por que não deu
para ganhar nenhum torneio depois do Aberto da França?
Kuerten - Fui jogar em carpete,
que, para mim, é difícil.
Tinha que jogar com os melhores
caras nesse piso, em que eu nunca
havia jogado. Os caras estavam vários passos na minha frente.
Mas foi importante; eu tinha que
jogar lá para não acontecer o mesmo quando chegar 1998.
Agência Folha - Por que tanta dificuldade para jogar no carpete?
Kuerten - Porque a bola pinga
bem baixinho e desliza mais. O jogo fica muito rápido. E eu nunca
tinha disputado jogos nesse piso,
só alguns quando era juvenil.
Na grama, por exemplo, praticamente nunca tinha jogado antes de
Wimbledon.
Agência Folha - Você acha que já
deu para melhorar nesses pisos?
Kuerten - Sem dúvida, pelo fato
de ter jogado contra os melhores
do mundo. Neste ano, enfrentei
torneios em que havia no mínimo
três, quatro "top ten".
Treinar é importante, mas você
aprende é nos campeonatos.
Agência Folha - A dificuldade de
jogar em piso rápido é comum aos
tenistas brasileiros. Por quê?
Kuerten - Vai da tradição do
país. Os espanhóis, por exemplo,
gostam do saibro e têm vários tenistas entre os dez do mundo. Para
eles, não é defeito, é qualidade.
Claro que quem joga bem no saibro vai ganhar mais no saibro. O
problema é que todos querem que
eu ganhe tanto torneios em quadra
dura como em saibro. Não dá.
Agência Folha - Dizem que sua
vitória em Roland Garros deveu-se
muito à sorte, pelo fato de vários
cabeças-de-chave terem caído nas
primeiras rodadas. O que acha?
Kuerten - É claro que tive sorte.
Para ganhar o Grand Slam, hoje, se
não tiver sorte, é difícil. O (número
um do mundo, Pete) Sampras e o
(número dois, Michael) Chang,
que já foi campeão, perderam no
começo, e isso ajudou.
Sorte é sempre bem-vinda. Na
semifinal, não peguei cabeça-de-chave, pois já tinham perdido. E, não fosse essa vitória na
França, eu teria chegado, no máximo, a 35º, 40º do mundo.
Agência Folha - Como você encara as cobranças da torcida e as críticas da imprensa?
Kuerten - É normal. A torcida
não gosta de ver a gente perdendo
e reclama após uma derrota. Mas
não dá para ganhar sempre.
Para avaliar se o resultado é bom
ou não, o que conta é a minha opinião, a do Larri (Passos, o treinador), das pessoas que acompanham o dia-a-dia do tênis.
Um cara que não entende muito
de tênis tem a opinião dele, respeito. Mas muitos que me criticam
nunca tinham ouvido falar de tênis, não sabiam nem quem eram
os atletas antes de Roland Garros.
Agência Folha - Isso incomoda?
Kuerten - É melhor não ligar. Se
achar que poderia ter ganho um
jogo, vou ficar irritado. Eu joguei
minha vida toda sem ninguém
olhando, só minha mãe e meu irmão (risos).
O que interessa são as pessoas
que sempre me acompanharam.
Sei que vão continuar ao meu lado.
Agência Folha - Chegaram a
comparar você a Ayrton Senna...
Kuerten - Quem faz os ídolos
são os torcedores. Não me importo com isso. Se estão tendo um carinho grande por mim, tudo bem.
Agência Folha - O que precisa ser
melhorado em seu jogo?
Kuerten - Tudo. O golpe com a
direita poderia ser um pouco mais
forte e com mais precisão, o mesmo com voleios, saque.
Eu jogo mais no fundo, então o
jogo de rede deixa a desejar um
pouco. Acho que eu deveria subir
mais à rede, volear mais.
O meu saque também é muito irregular. Tem dia que eu estou sacando bem, o braço está bem solto, está deslanchando. Mas tem alguns jogos em que estou mais cansado, que o saque sai muito.
Agência Folha - Não seria uma
boa idéia ter a ajuda de um técnico
especializado em quadras rápidas?
Kuerten - Hoje, não penso nisso. No futuro, posso pensar.
Agência Folha - Seu técnico acumula as funções de preparador físico, nutricionista, psicólogo e até
empresário. Não é muito para ele?
Kuerten - Às vezes é mãe, pai...
(risos). Mas ele também já está
acostumado com isso, treina comigo desde que eu tinha 13 anos.
Sempre treinei com ele e sempre
deu certo. E tem a minha mãe, que
dá uma de nutricionista (risos).
Agência Folha - Quais são suas
metas para o ano que vem?
Kuerten - A meta é permanecer
entre os 20 do mundo. Se der, no
top 10. É difícil dizer.
Agência Folha - O ano de 1998
será mais fácil, por causa da experiência adquirida, ou mais difícil,
por causa da cobrança da torcida?
Kuerten - Vai ser melhor. Poderei escolher os torneios que quero,
já conheço a maioria.
Agência Folha - Por ter pontos a
defender, não teme despencar?
Kuerten - É verdade. Mas, se eu
tivesse que defender 700 pontos
em vez de 2.000, nunca subiria.
Agência Folha - Você acha que
será o número um do mundo?
Kuerten - Acho que ainda não
estou preparado para isso, tenho
que aprender muita coisa. Preciso
amadurecer mais, jogar bem em
todos os tipos de quadra. E também ter mais controle dos nervos.
Eu sou cheio de altos e baixos,
me irrito muito na quadra, me
desconcentro de bobeira. Preciso
saber quando poupar força...
Agência Folha - Não ter obtido a
vaga na Copa te abalou muito?
Kuerten - De jeito nenhum.
Chegar entre os oito melhores, entre mais de mil, é difícil. Estava cabeça-a-cabeça e acabei sendo ultrapassado na reta final. É assim.
Pelo menos eu estava na briga.
Agência Folha - Este foi seu primeiro ano disputando os principais torneios do circuito mundial.
Quais foram suas impressões?
Kuerten - É um esquema muito
puxado. A rotina é acordar, treinar, jogar, comer e dormir.
Agência Folha - O clima é de confraternização, como no futebol, ou
de desconfiança, como na F-1?
Kuerten - É bom para caramba.
O pessoal é na boa, te aceita bem.
Tenho tido mais contato com os
latinos, como o (chileno Marcelo)
Ríos, o (espanhol Carlos) Moyá, o
(também espanhol Sergi) Bruguera. A gente conhece todos, mas cada um treina em um horário.
Agência Folha - O que você vai
fazer com o dinheiro que ganhou?
Kuerten - Estou botando na
poupança. Pensei em jogar nas
bolsas, mas não é uma boa (risos).
Quem sabe disso é meu irmão
Rafael. Ele me dá um talão de cheque para eu não passar a vergonha
de ficar pedindo dinheiro na rua.
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