São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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JUCA KFOURI

Parceiros & traiçoeiros

Palmeiras recomeça com nova cara, mas com os problemas de sempre, o modelo de parcerias no futebol

O MODELO de gestão do futebol brasileiro é tão ultrapassado que nada dá certo nele.
Ou quase nada.
Nem sócios endinheirados, como se viu com a MSI.
E como se verá com a Traffic, agora também no Palmeiras. Verdade que, ao menos, a acumulação primitiva de capital da parceira do Palmeiras, embora por métodos nada ortodoxos (que o digam a CBF e a Conmebol), nada tenha a ver com a da máfia russa.
Mas é apenas essa a diferença.
Porque a história é conhecida.
O casamento entre Palmeiras e Parmalat, por exemplo, só deu certo enquanto durou.
Terminado, não sobrou nada, e o clube voltou a ser o que era antes.
Para piorar, a Parmalat não era muito melhor que a MSI, descobriu-se em seguida.
As parcerias do Corinthians tiveram fins parecidos.
Títulos com dinheiro a rodo, dívidas no fim da linha.
Se bem que a Hicks era decente, diferentemente das demais.
Mas este é um problema que não tem solução no modelo vigente.
Por que quem, afinal, poria dinheiro no futebol brasileiro se não puder mandar no clube?
E, como quem topa investir tem de dar as ordens, os cartolas se transformam em rainhas da Inglaterra, situação que engolem por um período, mas que, com o tempo, causa tamanho ciúme que os leva à rebelião e a entornar o caldo.
É possível até que o Palmeiras volte a passar por um período de vacas gordas, e já era mesmo hora.
Mas, se mantiver o jeito atual de administrar o clube, dará com os burros n'água adiante. E a preocupação aqui é apenas com a eficácia, porque de ética nem é bom falar.
Os diabos de ontem viram os santos de hoje e neles tudo se perdoa, porque, afinal, a vida é assim mesmo, você que é muito radical, o futebol não é para freiras, e quem pode mais chora menos.
Por isso é que, em terra de cego, com um olho só, o São Paulo reina.
Não faz parcerias, não separa o futebol do social, não permite que ninguém lhe diga por onde ir, não se curva diante de técnicos egocêntricos e ganha mais que os outros, mesmo que à custa de pisar em pescoços adversários e de se fazer de ofendido quando alguém diz isso.
No que, aliás, é igual aos demais.
Porque, hoje, qualquer crítica que se faça ao novo rumo escolhido pelo Palmeiras é vista, pelos palmeirenses, como uma afronta obscurantista e invejosa.
E, ontem, ser crítico da parceria Corinthians/MSI era ser estraga-prazeres e moralista na opinião dos fanáticos corintianos.
Ah, sim, resta o Santos.
O Santos de Teixeira segue a rota do Corinthians de Dualib e do Palmeiras de Contursi.
Ou da CBF de outro Teixeira, homem do ano, como seu amigo, Renan Calheiros. Ou do Vasco de Miranda, o Cruzeiro de Perrellas.
Este Santos pode ganhar um título aqui, outro ali, sem dúvida se modernizou nisso e naquilo. Mas, é inescapável, mais cedo ou mais tarde pagará caro pelo longo reinado.
E terá de recorrer a um Berezovski ou a um Hawilla, alguém que venha lhe salvar, mesmo que ao preço de vender a alma para o diabo.


blogdojuca@uol.com.br

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