São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Teixeira-04 assume CBF com planos de Teixeira-89

Em sua 5ª posse, cartola promete Copa no Brasil, transparência e modernização da confederação

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Em 16 de janeiro, o empresário Ricardo Terra Teixeira recebeu das mãos de Eduardo Viana, presidente da Federação do Rio, o comando do futebol brasileiro. O novo mandatário foi aplaudido efusivamente pelos seus pares. Prometeu o sistema de pontos corridos no Brasileiro e falou do desejo de dar transparência à CBF, de estreitar os laços com seus afiliados e de trazer uma Copa do Mundo para o Brasil.
Pelé, o maior ícone do futebol mundial, não estava presente. O flamenguista Márcio Braga era seu grande adversário.
A cena descrita acima, verídica, aconteceu duas vezes. Em 16 de janeiro de 1989 e ontem, na nova sede da CBF, na Barra da Tijuca, área nobre do Rio.
As diferenças resumem-se aos inimigos e aos títulos. Em 1989, a seleção vivia um jejum de 19 anos sem vencer um Mundial. Hoje, é a atual campeã. Em 1989, tinha Eurico Miranda como fiel escudeiro e homem-forte do futebol. Hoje, os dois não se falam, e o presidente vascaíno nem sequer foi convidado para a posse.
Dois títulos mundiais e um vice, duas CPIs e exatos 15 anos depois, Teixeira, 56, começa seu quinto mandato com discurso e cenário político quase idênticos aos de 1989 no velho prédio da rua da Alfândega, no centro do Rio, quando pisou na CBF pela primeira vez como presidente.
Ainda genro de João Havelange, que presidia a Fifa com mãos de ferro, o cartola, que nunca dirigira um clube antes de assumir a CBF, prometia mudar a imagem da confederação, então comandada por Otávio Pinto Guimarães.
Ontem, o cartola manteve a plataforma para os próximos quatro anos: modernizar a CBF, organizar o futebol brasileiro e trazer um novo Mundial para o país.
"Afora as competições, o grande projeto é consolidar os campeonatos no país, finalmente fazer a sede [própria da CBF] e confirmar a Copa de 2014 no Brasil."
Em 1989, Teixeira lançou a idéia, não levada a cabo, de trazer para o país a Copa de 1998. Foi candidato a abrigar o Mundial-2006, mas fracassou.
Com apoio unânime das federações, Teixeira fez um ontem balanço sobre os 15 anos de sua administração, que teve três viradas de mesa (91, 96 e 2000), diversos escândalos (vôo da muamba, confusão de ingressos na Copa-98, o caso Ives Mendes) e a assinatura de contratos milionários para a seleção (Umbro, Nike, Pepsi, Coca-Cola e AmBev).
"As maiores vitórias foram os Mundiais. As derrotas foram muitas. Considero a derrota na Copa de 98 desagradável. A de 96 [Olimpíada de Atlanta] também."
À Folha, resumiu o que pensa sobre sua gestão. "Foi ótima para a seleção, afinal conquistamos duas Copas, boa do ponto de vista financeiro, uma vez que a CBF está saneada, e regular em relação à organização interna do futebol."
Nos últimos quatro anos, Teixeira viveu o céu e o inferno na CBF. Teve sua gestão devassada por duas CPIs no Congresso, foi atacado pela Globo, investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Mas, com a ajuda de Luiz Felipe Scolari, Ronaldo, Rivaldo e cia., sobreviveu. Após campanha vexatória nas eliminatórias da Copa Coréia/Japão, o Brasil foi penta e, segundo suas próprias palavras, o salvou.
As aspirações, veladas, continuam as mesmas. Teixeira sonha em repetir o ex-sogro e comandar o futebol mundial, como presidente da Fifa. O primeiro passo foi ganhar a confiança de Joseph Blatter, que fica na entidade até 2007. O segundo foi manter-se no Comitê Executivo da entidade. Ontem, o cartola voltou a dizer que em 2008, quando ele se tornará o homem que por mais tempo dirigiu o futebol brasileiro, não concorrerá à reeleição ao fim do mandato. Exatamente como no longínquo 16 de janeiro de 1989.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Dirigente diz que time sub-23 não teve garra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.