São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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Dois mundos

Distâncias financeira e técnica entre clubes grandes e pequenos de SP crescem, gerando dependência e questionamento ao Estadual

LUCAS REIS
RAFAEL REIS
RODRIGO MATTOS

DE SÃO PAULO

Baiano é um andarilho da bola. A cada início de temporada se desloca para um dos times pequenos de São Paulo para atuar por quatro meses.
Em 2011, seu porto é o Paulista. Antes, esteve na Matonense e no Guarani. Quando chega maio, costuma ir para outra parte do Brasil.
É um símbolo da massa de jogadores, clubes e da própria FPF (Federação Paulista de Futebol) que orbita em torno de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos durante o Estadual, cuja primeira fase se encerra hoje. E a cada temporada a distância entre os dois polos aumenta.
"Os clubes grandes estão mais estruturados. Antes não tinha muita diferença para o interior. Os recursos são muito diferentes", disse o meia Baiano, com 32 anos e passagens por Santos e Palmeiras.
A distância se explica pelos cofres. Em 2010, os quatro grandes arrecadaram R$ 706 milhões. Uma média de R$ 176 milhões cada um.
Levantamento da Folha com parte dos outros 16 times do Paulista indicou renda média de R$ 13,7 milhões, ou 7,8% da dos grandes.
E a maior parte dos recursos desses clubes é obtida no Estadual. Ganham cota de TV de R$ 1,8 milhão cada um. Obtêm maiores bilheterias. E expõem atletas para venda.
"A questão é que, mesmo com todas as dificuldades para se disputar, dependemos do Paulistão. É a nossa chance de aparecer, de conseguir um patrocinador melhor, de atrair um bom público e mostrar nossos jogadores", afirmou o presidente do Botafogo, Luiz Pereira.
Mas suas torcidas não se empolgam tanto assim.
Segundo dados da federação paulista, a média de público cresceu em relação à de 2010 até a 18ª rodada: está em 5.030, contra 4.716.
Mas, entre os pequenos, só o São Bernardo aparece acima da média. Seus ingressos são comprados por patrocinadores e distribuídos.
"O desafio dos clubes é criar identificação na cidade. Um clube empresa, como o Americana, antes de Guaratinguetá, ainda tem que buscar isso", disse o presidente FPF, Marco Polo Del Nero.
Na sua opinião, equipes com donos ou mecenas, uma tônica na competição, têm que convencer os torcedores de que fincarão raízes na cidade. O marketing é saída para a cartolagem.
"Se toda a cidade de Jundiaí torcesse para o Paulista, teríamos um peso diferente", declarou Djair Bocanella, presidente do Paulista.
O cenário extracampo gerou abismo técnico em 2011: os quatro grandes obtiveram 74,4% dos pontos contra os pequenos. É um dos maiores índices na fórmula iniciada em 2005 -similar ao de 2009 (aproveitamento de 75%).
Superiores em campo e no banco, os grandes times se desinteressam pelo Paulista.
"O campeonato já não tem a mesma repercussão que tinha. Hoje é chamado de Paulistinha. Realmente é uma competição que não mais fascina o clube grande", admitiu o diretor de futebol do Palmeiras, Roberto Frizzo.
"O campeonato atual é modorrento, arrastado", disse o vice de marketing são- -paulino, Julio Casares.
Del Nero, porém, rechaça uma suposta decadência. "Não existe possibilidade [de acabar]. Quem fala isso não conhece a grandeza da rivalidade regional dos grandes."
Após o Estadual, a vida fica mais difícil para os pequenos. As folhas salariais caem. A do Botafogo deve sair de R$ 550 mil para R$ 100 mil.
O campeonato sustenta 621 jogadores inscritos, sendo pouco mais de um sexto nos quatro grandes. Quando acaba, vem a debandada: "Após o dia 15 de maio, devo ir para um clube da Série A ou da Série B", disse Baiano.


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