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Dois mundos
Distâncias financeira e técnica entre clubes grandes e pequenos de SP crescem, gerando dependência e questionamento ao Estadual
LUCAS REIS
RAFAEL REIS
RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO
Baiano é um andarilho da
bola. A cada início de temporada se desloca para um dos
times pequenos de São Paulo
para atuar por quatro meses.
Em 2011, seu porto é o Paulista. Antes, esteve na Matonense e no Guarani. Quando
chega maio, costuma ir para
outra parte do Brasil.
É um símbolo da massa de
jogadores, clubes e da própria FPF (Federação Paulista
de Futebol) que orbita em
torno de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos
durante o Estadual, cuja primeira fase se encerra hoje. E
a cada temporada a distância
entre os dois polos aumenta.
"Os clubes grandes estão
mais estruturados. Antes não
tinha muita diferença para o
interior. Os recursos são muito diferentes", disse o meia
Baiano, com 32 anos e passagens por Santos e Palmeiras.
A distância se explica pelos cofres. Em 2010, os quatro
grandes arrecadaram R$ 706
milhões. Uma média de
R$ 176 milhões cada um.
Levantamento da Folha
com parte dos outros 16 times
do Paulista indicou renda
média de R$ 13,7 milhões, ou
7,8% da dos grandes.
E a maior parte dos recursos desses clubes é obtida no
Estadual. Ganham cota de
TV de R$ 1,8 milhão cada um.
Obtêm maiores bilheterias. E
expõem atletas para venda.
"A questão é que, mesmo
com todas as dificuldades
para se disputar, dependemos do Paulistão. É a nossa
chance de aparecer, de conseguir um patrocinador melhor, de atrair um bom público e mostrar nossos jogadores", afirmou o presidente do Botafogo, Luiz Pereira.
Mas suas torcidas não se
empolgam tanto assim.
Segundo dados da federação paulista, a média de público cresceu em relação à de
2010 até a 18ª rodada: está
em 5.030, contra 4.716.
Mas, entre os pequenos, só
o São Bernardo aparece acima da média. Seus ingressos
são comprados por patrocinadores e distribuídos.
"O desafio dos clubes é
criar identificação na cidade.
Um clube empresa, como o
Americana, antes de Guaratinguetá, ainda tem que buscar isso", disse o presidente
FPF, Marco Polo Del Nero.
Na sua opinião, equipes
com donos ou mecenas, uma tônica na competição,
têm que convencer os torcedores de que fincarão raízes
na cidade. O marketing é saída para a cartolagem.
"Se toda a cidade de Jundiaí torcesse para o Paulista,
teríamos um peso diferente",
declarou Djair Bocanella,
presidente do Paulista.
O cenário extracampo gerou abismo técnico em 2011:
os quatro grandes obtiveram
74,4% dos pontos contra os
pequenos. É um dos maiores
índices na fórmula iniciada
em 2005 -similar ao de 2009
(aproveitamento de 75%).
Superiores em campo e no
banco, os grandes times se
desinteressam pelo Paulista.
"O campeonato já não tem
a mesma repercussão que tinha. Hoje é chamado de Paulistinha. Realmente é uma
competição que não mais
fascina o clube grande", admitiu o diretor de futebol do
Palmeiras, Roberto Frizzo.
"O campeonato atual é
modorrento, arrastado", disse o vice de marketing são-
-paulino, Julio Casares.
Del Nero, porém, rechaça
uma suposta decadência.
"Não existe possibilidade [de
acabar]. Quem fala isso não
conhece a grandeza da rivalidade regional dos grandes."
Após o Estadual, a vida fica mais difícil para os pequenos. As folhas salariais caem.
A do Botafogo deve sair de
R$ 550 mil para R$ 100 mil.
O campeonato sustenta
621 jogadores inscritos, sendo pouco mais de um sexto
nos quatro grandes. Quando
acaba, vem a debandada:
"Após o dia 15 de maio, devo
ir para um clube da Série A
ou da Série B", disse Baiano.
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