São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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TOSTÃO

Japão: o país dos contrastes

Quando lerem essa coluna, a seleção estará classificada para enfrentar a Inglaterra, ou arrumando as malas para voltar ao Brasil. A primeira hipótese é muito mais provável. Se o time vencer, ganhará confiança e mais reconhecimento de sua qualidade. Se perder, será lembrado como uma das piores seleções da história do futebol brasileiro. As vitórias na primeira fase, contra fracas equipes, serão desvalorizadas. Assim é o futebol.
Kobe é uma cidade belíssima, limpa, moderna, tranquila e sem violência. A região do porto, com áreas de lazer, lojas e restaurantes, é fantástica. As coisas públicas no Japão são muito bem cuidadas. Os cidadãos são respeitados e orgulham-se de seu país. O Japão é a segunda potência econômica do mundo. Tem a menor taxa de mortalidade infantil (3,3/1.000) e ocupa a nona posição do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Em 1995, morreram 5.000 pessoas num grande terremoto em Kobe. No quarto do hotel, há lanterna e muitas explicações de como proceder em caso de terremoto. Estou de olho na saída de emergência.
O Japão encanta porque une contrastes. É a fusão do Ocidente com o Oriente; do superdesenvolvimento tecnológico com a meditação; do conservadorismo com a inquietação dos jovens, com seus cabelos coloridos; da preocupação coletiva com o desejo das pessoas de construírem seus próprios destinos e da luta pela conquista de bens materiais com a busca do sentido da vida.
Freud passou a vida estudando, trabalhando e decifrando essas contradições da alma humana. Mais velho, disse que tudo o que descobrira os poetas já sabiam.

Ausência
Após mais de três semanas de viagem, estou com saudades das pessoas queridas, da minha casa, do jardim, do quarto, do travesseiro, da Lambreca (minha cadela), de Belo Horizonte e de muitas outras coisas. Estou com saudades, mas não estou triste. As pessoas estão longe e perto. Ausentes e presentes.
Num de seus mais belos poemas, Carlos Drummond de Andrade fala sobre a ausência. Não é a primeira nem a última vez que transcrevo parte desse poema. Sou obsessivo e apaixonado pelas coisas que gosto e admiro. Se estiver escrito errado, corrija-me. Não confio em minha memória.
""Por muito tempo, achei que a ausência fosse falta e lastimava, ignorante, a falta. Hoje, não a lastimo. Não há falta na ausência
A ausência é um estar em mim. E sinto-a tão aconchegada em meus braços, que rio, danço e invento exclamações alegres. Porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a tira mais de mim."
tostão.folha@uol.com.br



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