São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002 |
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JOSÉ GERALDO COUTO Domingo épico eleva a temperatura da Copa
Quando esta coluna estiver sendo lida, o Brasil já deve estar nas quartas ou nos quintos. A atenção do leitor estará distraída pela comemoração ou pelo luto. Enquanto escrevo, ao contrário, o sentimento predominante é de empolgação, depois das eletrizantes vitórias do Senegal e da Espanha nas partidas realizadas ontem. Foram dois jogos bem distintos, mas que tiveram em comum as reviravoltas dramáticas e a disputa palmo a palmo. Finalmente a Copa do Mundo adquire o tom épico que lhe dá sentido. A Suécia, aparentemente tão sólida e superior no início da partida, acabou surpreendida pela habilidade de Diouf, pelo oportunismo de Camara, pelo futebol insolente desses senegaleses que mantêm acesa a chama do melhor futebol africano, depois dos fracassos de Nigéria e Camarões. Já a partida entre Espanha e Irlanda foi uma das mais disputadas da Copa até agora -apesar do número baixo de faltas- e trouxe algumas lições a serem levadas em conta. A principal delas tem a ver com a precipitação do técnico espanhol em tirar seus dois goleadores, Raúl e Morientes, no segundo tempo da partida, por achar que a vitória de sua seleção já estava garantida. Ora, diz o velho adágio que "quem não faz, toma". Mais que isso: quem abdica de atacar dá campo e moral ao adversário. A Irlanda cresceu e começou a furar, pelo alto e pelo chão, o bloqueio espanhol. Teve dois pênaltis a seu favor, perdeu um e marcou o outro. Para maior castigo de Camacho, a Espanha ainda perdeu um dos jogadores que entraram (Albelda) e ficou com dez. A Fúria perdeu a força e o fôlego, murchou e ficou pedindo para o tempo passar rápido. Faltou pouco para o sonho espanhol virar pesadelo. A sorte de Camacho e seus homens foi que a pontaria dos irlandeses estava péssima -ao contrário dos reflexos do goleiro Casillas. Agora, que o susto passou e os espanhóis estão nas quartas-de-final, a tendência é que seus erros sejam esquecidos, junto com a belíssima atuação dos irlandeses e de seu craque Robbie Keane. Se um dos três pênaltis perdidos pela Irlanda tivesse entrado, a história da batalha seria lida de outro modo. Robbie Keane seria o herói do dia, e a Espanha seria "aquela que sempre morre na praia". É essa linha tênue entre a glória e a derrota que faz de cada Copa do Mundo um evento inesquecível. jgcouto@uol.com.br Texto Anterior: Jose Roberto Torero: Jekyll, Hyde e o torcedor brasileiro Próximo Texto: Soninha: O bom da globalização + o diferencial de raiz Índice |
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