São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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MOTOR

Vai, Piquet!

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Nelson Piquet afirmou à Folha que fará qualquer coisa para colocar seu filho na F-1, desde que não seja "imoral, ilegal ou engorde". Pois tenho uma sugestão bem mais interessante que a tal de GP2: volte à F-1, Piquet!
Não é imoral, não é ilegal e, muito provavelmente, emagrece, já que o tricampeão provavelmente teria que perder uns quilos para caber em um desses monopostos modernos. Aos 51, ele não agüentaria o tranco? Vou jogar baixo: Mansell disse ao colega Fábio Seixas em Londres que agüentaria e que só não teria paciência para ficar fazendo testes.
Então, que tal encarar aquela infinidade de botões coloridos? Sim, junto com eles viriam os homens de marketing, os assessores de imprensa, os eventos de patrocinadores, a TV e toda aquela papagaiada que Piquet sempre evitou com má vontade olímpica.
(Exemplo dessa ojeriza era o modo como tratava os jornalistas brasileiros, mesmo na época de declínio. Após horas de sumiço, saía do motorhome, com cara de sono, coçando a barriga, pronto para encerrar a entrevista que mal começava: "E aí, quantas linhas cês têm pr'amanhã?".)
Isso sim seria um problema. Piquet sempre foi de falar pouco e falar grosso, ao contrário de Senna, o padrão de herói nacional. Mas até isso, no momento atual da F-1, ajudaria. Se falta talento, o que não falta é pasmaceira.
Piquet, tenho certeza, teria coragem de falar que seu carro é uma porcaria -ou coisa pior- e que muito provavelmente passearia pelo resto do campeonato porque seu time não teria competência para reverter a situação. Piquet também seria capaz de jogar o carro em cima por uma ultrapassagem ou de mandar o chefe às favas -ou coisa pior- ao receber uma ordem pelo rádio. E Piquet, finalmente, nunca permitiria um companheiro de time que largou em último, muito atrás dele, chegar à sua frente.
A verdade é que um piloto como Piquet, de uma era completamente diferente da atual, não se encaixa nesta F-1 de contratos que censuram, disputada nos boxes, decidida em voltas rápidas.
Correu em uma época onde os feitos eram perceptíveis a olho nu, de maneira analógica. Por acaso não está registrada até hoje em nossas retinas aquela histórica ultrapassagem sobre Senna, na primeira curva da Hungria, onde jamais se ultrapassou?
É covardia, mas compare com a última corrida, outro show de estratégia de Schumacher e da Ferrari. Não vimos, tivemos que acreditar ou quase não acreditar nos cronômetros. Não uma imagem, um número mostrou o feito do alemão. Um feito digital.
Seria bom ter alguém na pista que quebrasse tudo isso, que traísse a lógica, que mostrasse algo novo, uma saída. Seria bom pelo menos ter alguém que fora da pista não se limitasse a justificativas, que falasse algo que preste, mesmo que por pura maldade.
Piquet evidentemente não será esse alguém. Muito menos seu filho, moldado já nessa forma idealizada em escritórios e lobbies de hotel, não em garagens.
Sim, há coisas que não mudam. Um filho sempre negará o pai.

Pizzonia
Mais consistente que o rival espanhol em Jerez, o brasileiro levou o segundo Williams em Hockenheim. Mas, parafraseando Didi, teste é teste, corrida é corrida. Para o mercado, o importante da história é o seguinte: por ano, cada time só pode inscrever quatro pilotos. Pizzonia é o quarto. Villeneuve e Webber? No ano que vem e olhe lá.

Mosley
E não é que a manobra do advogado inglês deu certo? Vai ficar até o final do mandato e, pior para os times, em condições de impor suas mudanças para 2005 -um motor para cada dois GPs, restrições aerodinâmicas e dois jogos de pneus por piloto, um para treinos, outro para classificação e corrida. Pits para troca de pneus serão permitidos, mas separados dos de reabastecimento. Adianta alguma coisa?

E-mail mariante@uol.com.br


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