São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Cumpra-se!

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Cair para a segunda divisão não é absolutamente desejável, sob qualquer ponto de vista.
Tem gente que até acha que um fracasso retumbante "seria bom para aprender", mas será que alguém aprenderia alguma coisa pra valer? Algumas pessoas torciam para o Brasil não se classificar para a Copa para que o futebol fosse passado a limpo.
Nunca acreditei nisso -pode-se aprender muito com um fracasso, mas não é garantido. Se o Brasil perdesse uma repescagem contra a Austrália e não fosse à Coréia do Sul, o que seria mais provável: a cúpula da CBF fazer uma autocrítica e dizer "o planejamento foi um lixo" ou um jogador ser escolhido para Cristo por ter perdido um pênalti?
Mas cair para a segundona também não é uma tragédia. É do jogo, é da vida. Às vezes, a gente perde -o emprego, o namorado, a bolsa na faculdade... Até perder o ônibus deixa o cidadão com cara de tacho! Perder um jogo também é muito chato; perder a vaga entre os oito classificados é frustrante. Perder o direito de jogar a Série A, então, é horroroso. Mas faz parte do negócio; temos sempre de sobreviver às perdas.
Quando você entra em uma brincadeira, precisa aceitar as regras. Ninguém quer perder, mas é impossível que todos ganhem (dã...). (Tá, é óbvio, mas, às vezes, não parece!). Quase todo mundo começa a temporada sonhando com o título; só um ou outro mais modesto ou realista torce para "não fazer feio". Mas só um dos postulantes vai realizar o sonho. Há quem diga que o vice-campeão é apenas o primeiro dos perdedores...
Entre todos os perdedores, alguns perdem mais do que os outros, e o pior entre os piores precisa cumprir o combinado: pegar seu boné e dar o lugar para quem vem de baixo. É desagradável, mas alguém tem de "sobrar".
Seja qual for sua história, sua glória, seu potencial mercadológico, time rebaixado tem de cair! A Holanda perdeu da Irlanda e ficou em terceiro no grupo? Bye bye, não foi para a Copa!
É assim que funciona.
Se Palmeiras cair mesmo, o que vai acontecer em 2003? Bom, talvez a torcida despreze o time no começo e deixe de ir ao estádio. Mas, aos poucos, quem tem amor de verdade (na alegria e na tristeza, na saúde e na doença) vai perceber o seguinte: para voltar à elite, o Palmeiras (ou Vasco, ou qualquer outro) PRECISA ser finalista. Não tem escolha, tem de ser campeão ou vice. Como a missão é difícil -quem disse que não tem time bom na Série B? O campeonato é duro!-, a torcida pode até crescer.
Não vou bancar a Polyana: na Série B, os campos são ainda piores que na A e a arbitragem pode ser mais problemática. As TVs quase não mostram os jogos, e os patrocinadores têm menos interesse, o que mata duas fontes de renda. É um pepino, sim senhor.
Mas quais seriam as alternativas à queda? A única decente é: jogar direitinho e pontuar o necessário. As outras: manipular resultados em campo (ai) ou virar a mesa de novo (ui). E, da próxima vez, decidir que ninguém cai. É mais honesto, mas... e aí, ninguém sobe? Ou sobe e incha cada vez mais o campeonato? Pode-se também estabelecer que só os "grandes" não caem -então o Palmeiras fica em 26º e quem cai é o 22º? Não dá!
De coração, eu digo: se tiver de cair, que caia. No futebol, como na vida, o que vale para os outros tem de valer para mim também.

Razões de mercado?
Segundo Data-Paulo-Vinícius, comentarista-monstro da ESPN Brasil, a média de público da Série B em 1999 foi superior à de todos os campeonatos da Série A de 1992 para cá, exceto a média do próprio ano de 1999. Detalhe: foi o ano em que o Flu jogou a Série C. Quem disse que o campeonato não sobrevive sem os grandes?

Indignação
Muita gente já reclamou, e eu também vou reclamar: COMO a Globo não passou a final do Mundial de vôlei, depois de dizer que ia passar? Que absurda falta de respeito! No Mundial feminino, a emissora já tinha deixado a torcida na mão -após transmitir ao vivo todos os jogos da seleção na primeira fase, resolveu não mostrar a disputa do quinto lugar e exibiu uma "Sessão da Tarde". Que conduta antiesportiva!

E-mail
soninha.folha@uol.com.br



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