São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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PALMEIRAS

88 anos em 90 minutos

Clube mais vencedor do futebol do país precisa bater o Vitória, na Bahia, para escapar do vexaminoso rebaixamento para a Série B do Brasileiro de 2003

DA REPORTAGEM LOCAL

O nome é Palmeiras, mas pode chamar de desespero. O clube com maior currículo de títulos do futebol nacional entra em campo hoje à tarde, em Salvador, atormentado e atrás de algo que se tornou corriqueiro em seus 88 anos de história: uma vitória.
Só os três pontos sobre o time baiano que, ironicamente, carrega o triunfo em seu nome são capazes de livrar o Palmeiras do maior vexame de sua existência -o rebaixamento à segunda divisão do Campeonato Brasileiro- sem que seja necessária uma combinação de outros resultados.
Caso empate com o Vitória no estádio Barradão, o time treinado por Levir Culpi dependerá do que acontecer nos jogos dos seus concorrentes na luta contra a degola.
Se perder, o Palmeiras estará rebaixado independentemente do que aconteça nos outros jogos.
Quatro vezes campeão do Brasileiro, duas da Taça do Brasil, duas do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, uma da Libertadores, uma da Copa do Brasil, cinco do Rio-São Paulo e 21 do Paulista, líder do ranking Folha há quatro anos seguidos, o time fundado em 1914 como Palestra Itália terá, aconteça o que acontecer, chegado ao fim de um de seus piores anos.
Em 2002, o Palmeiras não só passou ao largo de conquistas como acumulou fiascos, a começar pela eliminação da Copa do Brasil pelo ASA de Arapiraca (AL). Mas a queda trará na esteira uma extensa lista de marcas negativas.
Caindo em Salvador, o Palmeiras será o primeiro grande time paulista rebaixado na história do Brasileiro (hoje, outros três ex-campeões nacionais lutam contra o rebaixamento: Bahia, Botafogo e Inter). Três times tradicionais de São Paulo já disputaram a Taça de Prata, mas era o desempenho no Paulista do ano anterior que servia de classificatório.
A queda custará ao clube um longo isolamento da elite do futebol, já que o Brasileiro-2003 deve bater o recorde de duração, com mais de oito meses de disputa.
Além de manchar o glorioso histórico do time, um eventual rebaixamento respingará em jogadores com currículos respeitáveis.
Os melhores exemplos são Zinho e Marcos. O meia, três vezes campeão nacional, é o único jogador do país em atividade que já disputou mais de 300 partidas pelo Brasileiro. O goleiro é o único titular em todos os jogos da Copa-2002 que segue no país.
Na 23ª colocação do Brasileiro, o Palmeiras paga pela desastrada condução do time no torneio. Foram cinco técnicos em três meses: Wanderley Luxemburgo, Paulo César Gusmão, Murtosa, Karmino Colombini e Levir Culpi.
Um rodízio impensável nos endinheirados tempos do duo com a Parmalat. A eventual queda será o auge da derrocada iniciada com a saída da empresa, em 2000.
Esse desmoronamento pode ter reflexos nas eleições do clube, no início de 2003. Há dez anos no poder, Mustafá Contursi terá a oposição de Luiz Gonzaga Belluzzo.
Contursi, assim como o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, diz rejeitar a virada de mesa. Mas, enquanto espera o resultado dos bastidores, a enorme torcida palmeirense reza.
Tão comum entre os fãs do clube num passado recente, a tensão voltou com força total, só que sem a opção do grito de campeão.
Uma das saídas encontradas pela torcida foi pedir proteção a Nossa Senhora Aparecida, santa estampada numa bandeira vista nos últimos jogos do Palmeiras.
"Fé" e "esperança" têm sido temas recorrentes na boca de atletas e torcedores. Mas alguns, como o capitão Arce, preferem o pragmatismo. "Agora não adianta ter esperança. Tem é que jogar bola."


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