São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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O dia do purgatório

Atormentado pela longa má fase, Palmeiras encara a "hora fatal" na Bahia

Jorge Araújo/Folha Imagem
Palmeirenses conversam no CT da Barra Funda


EDUARDO ARRUDA
LÚCIO RIBEIRO

DA REPORTAGEM LOCAL

"Chega. Finalmente vai acabar. É agora ou nunca."
Não dá mais para adiar, esperar, torcer, consertar, rezar, suplicar à Nossa Senhora Aparecida. Após viver um drama rodada após rodada, o time do Palmeiras e seu torcedor sabem hoje no final da tarde, assim que acabar o jogo contra o Vitória, em Salvador, se a equipe vai amargar o inferno do rebaixamento à segunda divisão.
A frase do atacante Nenê, acima, exprime o sentimento dos palmeirenses, que têm jogado (mal) como sempre e torcido (por outros times) como nunca.
"Jamais sofri tanto, em time nenhum. Pensam que é brincadeira, mas não sabem como fica a nossa cabeça. Por tudo que já passamos, merecemos sair dessa situação", afirmou o atacante Muñoz.
Na cabeça dos palmeirenses, todos os pecados que a equipe cometeu no campeonato já foram pagos. A segunda divisão seria um castigo a mais, o pior.
Muitos deles, é verdade, não devem ficar no clube após o torneio, como o zagueiro César e o lateral Rubens Cardoso, mas jamais esquecerão o "ano do pesadelo".
"Pior do que este não terá igual. É pressão demais. O frio na barriga nunca passa", declarou o zagueiro Alexandre.
Como penitência pelas falhas -a falta de planejamento da diretoria, as saída de Wanderley Luxemburgo e Murtosa, o atrito entre os atletas, a rebeldia de Marcos, de Alexandre, de Lopes, de Pedrinho-, os jogadores palmeirenses parecem ter rezado ajoelhados no milho. Evangélicos e católicos se uniram em orações. Até pai-de-santo e cartomante teriam sido chamados pela diretoria para dar uma forcinha.
No plano emocional, o técnico Levir Culpi evocou uma série de especialistas em auto-ajuda que gastaram muitas horas em palestras tentando motivar os desgastados jogadores palmeirenses.
Em campo, o rebanho de Levir Culpi também suou a camisa como nunca. Por mais de uma vez, o time teve folga cassada por causa de seus intermináveis jogos decisivos no Nacional.
"Acho que, pelo trabalho já feito, o Palmeiras já merecia ter escapado do rebaixamento. Mas, de qualquer forma, vai ficar uma grande lição para a próxima temporada", declarou Culpi, ressaltando que uma eventual queda para a segunda divisão "não será o fim do mundo".
"Quero voltar a sair na rua de cabeça erguida", afirmou o goleiro Sérgio, que confessou não ter dormido direito nos últimos dias. "Mesmo tendo me firmado como titular há pouco tempo [desde o jogo contra o Guarani, há exato um mês, quando Marcos se machucou", essa é a fase mais sofrida da minha carreira. Se fosse para passar por isso novamente, preferiria parar de jogar."
O Vitória recebe a equipe de Levir Culpi, às 16h, ainda sonhando com a classificação, mesmo que remota. O jogo está marcado para o estádio Barradão.
O Palmeiras já foi à Bahia jogar contra o Vitória em uma situação bem melhor. Em 1993, o time paulista desembarcou na capital baiana para disputar o primeiro jogo da decisão do Brasileiro-93.
Com uma vitória de 1 a 0 na Fonte Nova, o Palmeiras da era Parmalat dava início à conquista de seu tricampeonato nacional. O gol foi marcado pelo atacante Edílson, que comemorou com a dança da Timbalada, famoso grupo local de percussão.
O goleiro Sérgio e o meia Zinho, que hoje lutam com o Palmeiras-2002 para não cair, disputaram aquela partida.
"Aquele jogo já passou. Tudo é diferente agora. A realidade é outra", afirmou Zinho.
"Vamos ver se relembramos, na prática, aquele jogo. Para nós, é uma final também. É a hora fatal", completou Levir Culpi.


NA TV - Vitória x Palmeiras, às 16h, ao vivo, na Globo (apenas para São Paulo)


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