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SP 450
Repleta de estádios e ginásios, cidade assiste a êxodo permanente de atletas e equipes
São Paulo, 450, busca seu esporte
DA REPORTAGEM LOCAL
Parece até a rotina de um atleta
iniciante. Acordar cedo, enfrentar
uma longa jornada até o local dos
treinos, improvisar o almoço com
alguns amigos e retornar para casa somente no começo da noite.
O ritual, contudo, é cumprido
diariamente por um dos melhores jogadores de vôlei do planeta.
Paulistano de Pirituba, Sérgio Dutra Santos, o Escadinha, precisou
virar a agenda de ponta-cabeça e
adaptar sua vida a um fenômeno
comum do esporte em sua cidade.
Para sobreviver e seguir nos torneios de primeira linha, o Banespa, clube que defende, firmou
uma parceria com a Prefeitura de
São Bernardo do Campo, na
Grande São Paulo. Decidiu, também, centralizar todos os treinamentos na região do ABC.
"A vida de atleta em São Paulo é
meio de cigano. Temos que ir
atrás dos lugares em que há times,
estrutura. Quando aparece uma
chance, a gente tem de arrumar a
mala rapidinho", conta o jogador,
eleito o melhor líbero da última
Copa do Mundo, disputada em
novembro do ano passado.
Escadinha continua a viver no
mesmo bairro em que nasceu,
mas é uma exceção. "Muitos
companheiros de equipe precisaram se mudar", conta ele.
O êxodo não é exclusividade do
vôlei. Desde 1950, São Paulo viu a
força de suas modalidades amadoras se esvair. Em busca de condições físicas e financeiras mais
atraentes, equipes e atletas tomaram rumos diversos, desde cidades do interior até outros Estados.
Antes hegemônica e poderosa, a
capital chega aos 450 anos, no
próximo domingo, vivendo dias
de penúria esportiva. Apesar de
possuir vários ginásios e estádios,
abriga pouquíssimos campeões
nacionais e assiste à degeneração
de clubes formadores de potenciais atletas olímpicos.
O jogador de handebol Daniel
Baldacin sentiu na pele os efeitos
dessa decadência. Em 1995, então
com 18 anos, começava a deslanchar na carreira quando o Clube
Sírio-Libanês decidiu encerrar as
atividades do elenco.
"Eu não tinha para onde ir. Não
havia nenhum outro lugar para
jogar handebol por aqui. Foi aí
que surgiu o convite para sair da
cidade", lembra o atleta.
O destino de Baldacin também
foi o ABC. Ele passou a defender o
time da Universidade Metodista,
em São Bernardo do Campo.
Lá, arrebatou cinco títulos paulistas, seis brasileiros e outros cinco sul-americanos. Defendeu o
Brasil no Pan-Americano de Santo Domingo, no ano passado,
conseguiu o ouro e uma vaga para
o país nos Jogos de Atenas.
"Hoje a situação é essa: quem
quer prosperar acaba tendo que
sair de São Paulo", diz o atle-ta.
(FERNANDO ITOKAZU, GUILHERME ROSEGUINI, LUÍS FERRARI E MARIANA LAJOLO)
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