São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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SP 450

Repleta de estádios e ginásios, cidade assiste a êxodo permanente de atletas e equipes

São Paulo, 450, busca seu esporte

DA REPORTAGEM LOCAL

Parece até a rotina de um atleta iniciante. Acordar cedo, enfrentar uma longa jornada até o local dos treinos, improvisar o almoço com alguns amigos e retornar para casa somente no começo da noite.
O ritual, contudo, é cumprido diariamente por um dos melhores jogadores de vôlei do planeta. Paulistano de Pirituba, Sérgio Dutra Santos, o Escadinha, precisou virar a agenda de ponta-cabeça e adaptar sua vida a um fenômeno comum do esporte em sua cidade.
Para sobreviver e seguir nos torneios de primeira linha, o Banespa, clube que defende, firmou uma parceria com a Prefeitura de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Decidiu, também, centralizar todos os treinamentos na região do ABC.
"A vida de atleta em São Paulo é meio de cigano. Temos que ir atrás dos lugares em que há times, estrutura. Quando aparece uma chance, a gente tem de arrumar a mala rapidinho", conta o jogador, eleito o melhor líbero da última Copa do Mundo, disputada em novembro do ano passado.
Escadinha continua a viver no mesmo bairro em que nasceu, mas é uma exceção. "Muitos companheiros de equipe precisaram se mudar", conta ele.
O êxodo não é exclusividade do vôlei. Desde 1950, São Paulo viu a força de suas modalidades amadoras se esvair. Em busca de condições físicas e financeiras mais atraentes, equipes e atletas tomaram rumos diversos, desde cidades do interior até outros Estados.
Antes hegemônica e poderosa, a capital chega aos 450 anos, no próximo domingo, vivendo dias de penúria esportiva. Apesar de possuir vários ginásios e estádios, abriga pouquíssimos campeões nacionais e assiste à degeneração de clubes formadores de potenciais atletas olímpicos.
O jogador de handebol Daniel Baldacin sentiu na pele os efeitos dessa decadência. Em 1995, então com 18 anos, começava a deslanchar na carreira quando o Clube Sírio-Libanês decidiu encerrar as atividades do elenco.
"Eu não tinha para onde ir. Não havia nenhum outro lugar para jogar handebol por aqui. Foi aí que surgiu o convite para sair da cidade", lembra o atleta.
O destino de Baldacin também foi o ABC. Ele passou a defender o time da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo.
Lá, arrebatou cinco títulos paulistas, seis brasileiros e outros cinco sul-americanos. Defendeu o Brasil no Pan-Americano de Santo Domingo, no ano passado, conseguiu o ouro e uma vaga para o país nos Jogos de Atenas.
"Hoje a situação é essa: quem quer prosperar acaba tendo que sair de São Paulo", diz o atle-ta. (FERNANDO ITOKAZU, GUILHERME ROSEGUINI, LUÍS FERRARI E MARIANA LAJOLO)

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