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FUTEBOL
A perfeição não é humana
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na semana passada, Eder
Jofre fez uma crítica construtiva ao Popó, que não gostou.
Depois, Popó abaixou as luvas, e
os dois se abraçaram. Os grandes
campeões também possuem deficiências. Ninguém é perfeito. A
perfeição não é humana.
No futebol, a maioria dos craques também não aceita críticas,
nem as corretas. Ficam ainda
mais chateados com as mesmas
críticas de um ex-atleta do que
com as de um comentarista que
não foi atleta. Acham que é antiético, como se o ex-jogador fosse
ainda colega de profissão. Outros,
pensam que o ex-atleta tem inveja porque não foi tão famoso e/ou
ganhou menos dinheiro.
Muitos dos ex-atletas que se tornam comentaristas não se sentem
à vontade para criticar os craques
e os técnicos. Muitos atuaram
juntos com os treinadores atuais e
são amigos dos craques de hoje.
Outros pretendem ser técnicos e
querem evitar problemas.
Há também leitores que estão
sempre desconfiados das opiniões
dos ex-jogadores que se tornaram
comentaristas. Quando criticamos, acham que somos saudosistas. Quando elogiamos, dizem
que somos corporativistas.
Nesta semana, recebi críticas ao
dizer que o Rivaldo é um dos
grandes jogadores do futebol brasileiro. Há muito tempo que falo
isso. Nas eliminatórias para a Copa de 2002, muitos torcedores ficaram indignados porque eu dizia, nas piores atuações do Rivaldo, que ele era imprescindível e
que o Brasil só teria chance de ganhar o Mundial se o atleta e outros craques consagrados voltassem a atuar bem.
Apesar de suas excelentes atuações nas Copas de 98 e, principalmente, na de 2002 e na maioria
dos clubes, muitos ainda acham
que o Rivaldo não é um craque.
Há muitos bons jogadores que parecem craques, mas não são. Rivaldo não parece, mas é.
Na Copa-02, fiquei surpreso
quando Rivaldo não aceitou que
eu participasse de uma entrevista,
junto com os repórteres da Folha.
O assessor de imprensa da seleção
disse que ele estava magoado com
críticas que fizera anos atrás.
Não me lembrava do fato. Provavelmente, foi uma crítica técnica, certa ou errada, já que não falo da vida pessoal dos atletas. Mas
nada disso influenciou ou vai influenciar as minhas opiniões, críticas e elogios ao jogador.
Todo comentarista precisa de
ampla liberdade para analisar e
tem a obrigação de ser imparcial.
Para isso, é necessário manter um
distanciamento dos jogadores,
técnicos, dirigentes, empresários,
clubes, federações e da CBF. Muitos não entendem isso.
Discordo, mas compreendo a
dificuldade dos atletas em receber
críticas. Ninguém gosta, mesmo
quando elas são corretas. Eu não
gostava. Todas as pessoas necessitam da aprovação do outro. Essa
é uma das fraquezas humanas.
Jogo decisivo
Individualmente, a seleção pré-olímpica brasileira é muito melhor do que as outras. Uma equipe formada pelos cinco melhores
jogadores do Santos e reforçada
por outros atletas excelentes e experientes, principalmente do Cruzeiro, deveria ganhar com facilidade da maioria das seleções jovens e inexperientes. Santos e
Cruzeiro são as duas principais
equipes do Brasil e fortes candidatas ao título da Libertadores.
Contra o Chile, o Brasil só atacou pela direita. O volante Rochemback avançava e se confundia com Elano. Não havia o armador que atacava pela esquerda. Em vez de ocupar esse setor,
Robinho só jogou pelo meio.
Quando o Santos foi campeão
brasileiro em 2002, o time atuava
com dois volantes, um armador
pela direita (Elano), outro pelo
meio (Diego) e Robinho pela esquerda. Havia três meias, que defendiam e atacavam, e um centroavante. Robinho e Elano faziam duplas com os laterais.
Em 2003, não sei por que, Robinho passou a jogar pelo meio, perto do centroavante. O time ficou
torto, como a seleção pré-olímpica. No Santos, o problema é muito
menor, porque o lateral Léo
avança mais e tem muito mais
habilidade do que o Maxwell.
Daniel Carvalho só entrou novamente nos minutos finais. Como o técnico Marcos Paquetá utilizou muito bem o jogador na
ponta esquerda, no Mundial sub-20, com a intenção de sair da forte
marcação pelo meio, querem
transformar o jogador em apenas
uma opção nessa posição, como
era o Denílson na seleção.
Daniel Carvalho é um excelente
meia-atacante, que dribla, passa
e finaliza bem. Além disso, é uma
ótima opção na ponta esquerda.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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