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O CANTO DO CISNE
Clube que fez história em 1986 e hoje é o pior do Paulista cogita empregar só pratas da casa
Endividada, Inter quer começar do zero
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Por mim, parava tudo e começaria do zero. Mandava todo
mundo embora e apostava num
time só de garotos."
A frase, dita por José Amarildo
Padilha, vice-presidente da Internacional de Limeira, resume
o momento pelo qual passa o
primeiro clube do interior a conquistar o Campeonato Paulista.
A partida de ontem, contra o
América, pode ter sido a última
da equipe profissional do clube
até a próxima temporada.
Com dívidas que chegam a R$
12 milhões, rendas de jogos embargadas, salários atrasados e rebaixada para a segunda divisão
do Estadual, a Inter estuda fechar o departamento pelo resto
do ano e disputar a Série C do
Brasileiro e a Copa FPF -únicas
duas competições que terá em
seu calendário- com um time
formado por jogadores das categorias de base do clube.
"Vamos ter uma reunião nesta
semana para resolver isso. Mas
não temos dinheiro para montar
outro time", diz João Pereira Júnior, presidente do clube.
Segundo os dirigentes da Inter,
a falta de recursos para manter
um time profissional é total.
João Júnior conta que neste Paulista a Inter arrecadou R$ 620
mil, mas teve R$ 900 mil de gastos. "E nossa folha de pagamento é de R$ 100 mil. Não é alta."
O problema, afirma José Padilha, foi agravado com a determinação da Justiça de penhora de
60% da arrecadação das rendas
das partidas do time como mandante -a maior parte das dívidas do clube tem origem em
processos trabalhistas.
"Só salvamos a renda do jogo
com o Corinthians porque vendemos muitos ingressos antecipados", afirma Padilha.
Isso fez com que o pagamento
dos salários dos jogadores fosse
atrasado. Aliás, o elenco aponta
esse fato como estopim da crise
que resultou na debandada de
parte do grupo contratado para
o Estadual (25 jogadores começaram o campeonato, e ontem o
time tinha 14) e culminou com a
queda para a Série A-2.
"Estou aqui desde o começo
do ano e acho que recebi só o salário de janeiro", reclama o atacante Rafael Marques, ex-Palmeiras, um dos poucos remanescentes dos atletas contratados no início do Paulista.
O jogador não se diz preocupado com seu futuro após o Paulista. "Meu empresário já está
procurando um outro time para
eu jogar. Vim para cá para poder
me mostrar no Paulista."
"Pouca gente vai ficar por
aqui. Acho que 70% dos jogadores já estão procurando outros
times. Essa diretoria é amadora,
não cumpre o que promete",
completa, logo depois de um
breve diálogo com o atacante
Izaías: "Você fez bem em ficar
dormindo e não vir aqui de manhã. O negócio ficou só na conversa. Dinheiro que é bom, nada", contou Marques ao companheiro sobre a conversa dos jogadores com a diretoria sobre o
pagamento dos salários.
O técnico Arnaldo Lira, que
chegou à Inter na reta final do
Paulista, conta que na última semana em que treinou o time não
tinha o que falar para os subordinados. "Nunca vi nada parecido com isso que vivemos aqui. E
a única coisa que digo para os jogadores é que, se eles queriam ir
para times grandes ainda neste
ano, perderam aqui em Limeira
quatro meses da vida deles."
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