São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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O CANTO DO CISNE

Clube que fez história em 1986 e hoje é o pior do Paulista cogita empregar só pratas da casa

Endividada, Inter quer começar do zero

PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Por mim, parava tudo e começaria do zero. Mandava todo mundo embora e apostava num time só de garotos."
A frase, dita por José Amarildo Padilha, vice-presidente da Internacional de Limeira, resume o momento pelo qual passa o primeiro clube do interior a conquistar o Campeonato Paulista.
A partida de ontem, contra o América, pode ter sido a última da equipe profissional do clube até a próxima temporada.
Com dívidas que chegam a R$ 12 milhões, rendas de jogos embargadas, salários atrasados e rebaixada para a segunda divisão do Estadual, a Inter estuda fechar o departamento pelo resto do ano e disputar a Série C do Brasileiro e a Copa FPF -únicas duas competições que terá em seu calendário- com um time formado por jogadores das categorias de base do clube.
"Vamos ter uma reunião nesta semana para resolver isso. Mas não temos dinheiro para montar outro time", diz João Pereira Júnior, presidente do clube.
Segundo os dirigentes da Inter, a falta de recursos para manter um time profissional é total. João Júnior conta que neste Paulista a Inter arrecadou R$ 620 mil, mas teve R$ 900 mil de gastos. "E nossa folha de pagamento é de R$ 100 mil. Não é alta."
O problema, afirma José Padilha, foi agravado com a determinação da Justiça de penhora de 60% da arrecadação das rendas das partidas do time como mandante -a maior parte das dívidas do clube tem origem em processos trabalhistas.
"Só salvamos a renda do jogo com o Corinthians porque vendemos muitos ingressos antecipados", afirma Padilha.
Isso fez com que o pagamento dos salários dos jogadores fosse atrasado. Aliás, o elenco aponta esse fato como estopim da crise que resultou na debandada de parte do grupo contratado para o Estadual (25 jogadores começaram o campeonato, e ontem o time tinha 14) e culminou com a queda para a Série A-2.
"Estou aqui desde o começo do ano e acho que recebi só o salário de janeiro", reclama o atacante Rafael Marques, ex-Palmeiras, um dos poucos remanescentes dos atletas contratados no início do Paulista.
O jogador não se diz preocupado com seu futuro após o Paulista. "Meu empresário já está procurando um outro time para eu jogar. Vim para cá para poder me mostrar no Paulista."
"Pouca gente vai ficar por aqui. Acho que 70% dos jogadores já estão procurando outros times. Essa diretoria é amadora, não cumpre o que promete", completa, logo depois de um breve diálogo com o atacante Izaías: "Você fez bem em ficar dormindo e não vir aqui de manhã. O negócio ficou só na conversa. Dinheiro que é bom, nada", contou Marques ao companheiro sobre a conversa dos jogadores com a diretoria sobre o pagamento dos salários.
O técnico Arnaldo Lira, que chegou à Inter na reta final do Paulista, conta que na última semana em que treinou o time não tinha o que falar para os subordinados. "Nunca vi nada parecido com isso que vivemos aqui. E a única coisa que digo para os jogadores é que, se eles queriam ir para times grandes ainda neste ano, perderam aqui em Limeira quatro meses da vida deles."

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