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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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OLIMPÍADA

Empresa quer fomentar estrutura esportiva da ilha e, em troca, ajudar Brasil na preparação para o Pan-2007

Cuba regressa ao Brasil e aquece parceria

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Estamos regressando."
A voz áspera e enérgica que dá o aviso é de um atarracado cubano de 55 anos, que chegou ao Brasil há pouco mais de um mês.
Sergio Rios Cruz foi nomeado por Cuba para retomar uma estreita relação de cooperação na área dos esportes com o Brasil.
Ele será incumbido de representar no país a Cubadeportes S.A., empresa exportadora de técnicos e atletas da ilha caribenha.
O intercâmbio com Cuba já foi intenso no Brasil, principalmente na década de 90, mas decaiu vigorosamente nos últimos anos.
"Tivemos problemas burocráticos e ficamos sem representantes aqui por dois anos. Mas chegou a hora de voltar. O Brasil vai abrigar um Pan-Americano em 2007, e nossos profissionais têm muito a oferecer", disse Cruz à Folha.
Cuba é uma das principais potências das modalidades ditas amadoras. O país de 11,3 milhões de habitantes amealhou 131 medalhas em Jogos Olímpicos desde a revolução que levou Fidel Castro ao poder em 1959.
Como comparação, o Brasil, mesmo disputando duas edições a mais -Los Angeles-1994 e Seul-1988, que os cubanos boicotaram por razões políticas-, esteve minguadas 58 vezes no pódio olímpico no mesmo período.
A iniciativa de retomar o escambo de esportistas não foi unilateral. Em 2002, o Comitê Olímpico Brasileiro renovou um acordo de cooperação com Cuba.
A principal sinalização de que as portas estavam abertas, porém, veio do novo governo. O ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, já realizou dois contatos para demonstrar o interesse brasileiro em aprimorar atletas locais através de especialistas cubanos.
O primeiro foi consumado com o embaixador da ilha no Brasil, George Lezcano, no primeiro mês da gestão. A segunda reunião ocorreu com Alberto Juanterana, um dos interlocutores do governo cubano na área esportiva.
Em ambas, Queiroz explicou que gostaria de contar com preparadores físicos e treinadores para subsidiar a preparação para o Pan-Americano de 2007.
O Brasil, vale ressaltar, não é o único beneficiado na parceria, que assegura bons frutos para a outra parte. Criada para autofinanciar o esporte local, a Cubadeportes é uma sociedade autônoma, mas tem ligação com o Inder -Instituto Nacional de Desporte, Educação Física e Recreação.
O funcionamento das negociações é simples. 75% dos salários pagos aos cubanos pelos brasileiros, que variam entre US$ 300 e US$ 1.500, voltam para a Cubadeportes. Parte fica para manutenção, e o restante vai para o fomento da estrutura esportiva.
A empresa já exporta para 33 países e quer fazer do Brasil um de seus principais consortes.
"Podemos trazer gente qualificada em diversas modalidades. Acho que, até o final deste ano, será possível ver 60, 70 cubanos trabalhando com equipes brasileiras", afirmou Cruz.
O esporte é um dos principais filões de marketing do governo de Fidel, que enfrenta uma penosa crise econômica. Até 1991, o único país socialista da América Latina contava com a ajuda da extinta União Soviética. Agora, precisa atrair investimentos com as próprias forças para estimular sua produção esportiva.
A chegada de especialistas ao Brasil via Cubadeportes começou em 1992. Em média, 50 técnicos por ano aportavam no país.
Após o término de seus contratos, muitos continuaram prestando serviços para agremiações locais -no boxe, na ginástica e em outras modalidades-, mas já desvinculados das obrigações com a empresa. Hoje, a serviço da Cubadeportes S.A., estão apenas cinco treinadores, todos trabalhando com a Confederação Brasileira de Beisebol.



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