São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

Bagdá, Grécia

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Os EUA proclamaram uma "cruzada pela honra", convocaram seus "mais corajosos" e prometeram "resultados rápidos e afirmativos". Agora, não sabem como escapar da enrascada.
As aspas acima não pertencem a Donald Rumsfeld, secretário de Defesa, nem a outro tecnocrata da administração Baby Bush. Saíram da(os) cartola(s) da confederação norte-americana de basquete, obcecada em recuperar em Atenas-04 a hegemonia perdida com o vexatório 6º lugar no Mundial de Indianápolis-02.
Os estudos de inteligência da USA Basketball de fato sugeriam o sucesso "cirúrgico" da operação. Com atletas da NBA, a seleção masculina está invicta em Olimpíadas: 24 vitórias e três ouros desde Barcelona-92. Ademais, escaldado, o órgão não repetiria neste ano a presunção de dois anos atrás, quando se satisfez em pinçar um time meia-boca. Já no Pré-Olímpico, realizado em agosto em Porto Rico, com Jason Kidd, Tracy McGrady e outros cobras, muitos vimos a magia e a eficiência do "Dream Team" original.
Mas faltou combinar de novo com os soldados. Um a um, os astros da liga declinam o convite.
Dos primeiros lotes de chamados, apenas dois bateram continência: Tim Duncan, bom-moço em busca da primeira medalha, e Allen Iverson, bad boy em nítida missão de marketing pessoal.
Kevin Garnett declarou desinteresse. Shaquille O'Neal citou problemas crônicos nos pés e joelhos. Kobe Bryant culpou seus compromissos com a Justiça. Vince Carter quis tirar as primeiras férias em muitos anos. Ray Allen mencionou problemas familiares. Kenyon Martin preferiu negociar pessoalmente seu futuro contrato. Elton Brand mostrou-se aflito com a questão da segurança.
Outros podem seguir o exemplo ainda neste mês. McGrady se irritou com a falta de luxo no Pré-Olímpico. Kidd reclama de contusões. Jermaine O'Neal teme atentados terroristas. Karl Malone, cansado, já fala em aposentadoria. E Mike Bibby... bem, eu não sei qual o motivo de Bibby, só que também deseja pular fora.
No total, s(er)ão 12 defecções. Uma seleção completinha.
Na semana passada, a USA Basketball começou a tapar os buracos e anunciou LeBron James, Amaré Stoudemire, Stephon Marbury, Shawn Marion e Richard Jefferson. Ótimos nomes, mas sem a experiência e o cacife dos reais bambambans.
Dos 15 melhores jogadores desta temporada da NBA, somente um (Duncan) confirmou presença. E só há um (Jefferson) entre os exatos 98 atletas que permanecem vivos na disputa do título da liga -quer dizer, há três, mas os outros, Peja Stojakovic e Darko Milicic, nasceram na Sérvia.
De certo modo, faz sentido. A NBA destoa de uma Olimpíada que, acuada, restringirá a vida social dos atletas e, acuadora, fechará o cerco ao doping.
Na semana passada, o general norte-americano Richard Myers surpreendeu com um diagnóstico preciso e sincero da atolada campanha no Iraque: "Não vamos perder a guerra, mas não vamos ganhar a guerra". Só que no basquete, generais, não há empate.

Olimpíada 1
Planejamento detalhado, meses de treinos e amistosos contra outras potências. Técnico de currículo vitorioso, sem similar na atualidade. Todos os grandes nomes da liga profissional: do craque mais completo à principal promessa, do veterano mais popular ao gigante mais poderoso. O genuíno "Dream Team" de Atenas-04 é a equipe feminina dos EUA, que atropelou os rivais nos 13 jogos preparatórios, empurrada pela batuta de Van Chancelor e pela estrela de Tamika Catchings, Diana Taurasi, Sheryl Swoopes, Lisa Leslie & Cia.

Olimpíada 2
O desdém também contaminou os "estrangeiros" da NBA: o sérvio Vlade Divac (Sacramento), o lituano Zyldrunas Ilgauskas (Cleveland) e o espanhol Raúl Lopes (Utah) desistiram dos Jogos.

E-mail melk@uol.com.br


Texto Anterior: Libertadores faz Luxemburgo isolar Santos
Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: PC, volantes e Flamengo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.