São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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TOSTÃO

Compromisso público


O novo técnico da seleção deveria assumir o compromisso de tentar dar bons espetáculos

APÓS ASSISTIR, nos estádios, aos primeiros jogos na Copa do Mundo da África do Sul, percebi que, em relação ao que costumo ver pela TV, no Brasil, as partidas estavam muito frias, lentas, táticas e com excesso de toques curtos e para os lados. Deveria ser o contrário, pela importância da competição e pela presença da torcida.
Fiquei na dúvida se era porque, na TV, os narradores brasileiros gritam demais, narram como se fosse pelo rádio e transformam qualquer pelada em um jogo emocionante, ou se as seleções na Copa do Mundo procuravam jogar com mais segurança.
Os jogos do Brasileirão, de todas as séries, são mais vibrantes que os do Mundial. Há mais disputas pela bola e também mais jogadas de área. Infelizmente, quanto maior a qualidade técnica das equipes e dos jogadores, maior a tendência de as partidas serem frias e lentas. Por terem poucas chances, os craques, cada vez mais, decidem cada vez menos os jogos.
Além disso, os grandes jogadores se tornaram tão ricos, famosos e estrelas, jogando bem ou mal, que a Copa do Mundo passa a ter menos impor- tância. Cristiano Ronaldo, Messi e Kaká continuam com o mesmo prestígio.
Impacientava-me, ao ver no estádio, um jogador, com grandes chances de driblar em direção ao gol ou de dar um passe decisivo, preferir, por segurança ou falta de talento, tocar a bola para o lado. O grande craque é o que joga como se visse a partida da arquibancada.
O jogo excessivamente técnico e tático, mas com pouca alma, é uma grande chatice. "A bola é um reles, um ínfimo, um ridículo detalhe. O que procuramos no futebol é o drama, a tragédia, o horror e a compaixão. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana." (Nelson Rodrigues)
A filosofia na Copa do Mundo foi a do treinador Carlos Alberto Parreira, de que o importante é não levar o primeiro gol. Se é assim, por que não marcar o gol primeiro?
Uma das maneiras de mudar isso seria um time tentar dominar o outro, pressioná-lo, tentando tomar a bola mais à frente.
A estratégia atual é o contrário.
Criou-se no futebol o conceito de que a melhor maneira de vencer é recuar e tentar ganhar em pouquíssimos contra-ataques que raramente acontecem. O jogo fica feio. Essa é uma boa tática para time pequeno.
O novo técnico da seleção brasileira deveria assumir um compromisso público, com firma reconhecida em cartório, de que a equipe vai tentar vencer e dar bons espetáculos.


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