São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Juiz ameaça parar jogo por racismo

Kahê, atleta brasileiro que lidera a artilharia na liga alemã, motivou a decisão inusitada do árbitro, que recebeu elogios

Após Asamoah, primeiro negro a defender a seleção alemã, ser insultado, nova onda de racismo deixa país da Copa-2006 em alerta

DA REPORTAGEM LOCAL

Para proteger um brasileiro de manifestações racistas, um árbitro ameaçou parar um jogo do Campeonato Alemão. Kahê, artilheiro da Bundesliga com três gols, foi a vítima, e Michael Weiner foi o árbitro que tomou uma atitude inovadora no futebol mundial e já elogiada.
Anteontem, o Borussia Mönchengladbach, time do ex-ponte pretano e ex-palmeirense Kahê, enfrentou fora de casa o Aachen. O anfitrião venceu por 4 a 2 a partida, mas perdeu a compostura. Torcedores do time entoaram cânticos racistas para Kahê, jogador que é um dos quatro líderes da tabela de artilheiros da Bundesliga.
Weiner então paralisou a partida e fez uso de alto-falante para avisar aos torcedores presentes ao estádio que, se ouvisse algum novo insulto, encerraria em seguida o jogo.
""A decisão de Weiner foi completamente acertada. Racismo é algo que não pertence a um estádio de futebol. Por isso os árbitros foram instruídos a não tolerar mais manchas como essa", disse ontem o responsável pela arbitragem na Alemanha, Volker Roth.
O atacante Asamoah, que é negro, foi alvo de manifestações racistas na semana passada em jogo da Copa da Alemanha. Por causa dos insultos ao jogador do Schalke 04, o Hansa Rostock foi multado em 20 mil ainda na última sexta-feira.
Asamoah fez história no futebol alemão ao defender a seleção nacional. Virou uma bandeira contra o racismo no país.
Roth disse que os insultos a Asamoah contribuíram para os incidentes com Kahê e que estão provocando uma reação em cadeia na Alemanha. ""Os torcedores, e não só os árbitros, precisam tomar uma atitude para que um grupo de pessoas não tenha esse comportamento [racista]", afirmou ele.
A Alemanha acaba de organizar a Copa que mais promoveu campanhas contra o racismo, com jogadores lendo mensagens nos estádios. A Fifa pôs em prática a campanha ""Diga não ao racismo", especialmente após Raymond Domenech, técnico da França, reclamar que torcedores imitaram macacos quando o ônibus que levava a equipe chegou a um estádio -a França levou sua seleção mais negra a uma Copa.
O presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, chegou a sugerir que as equipes cujas torcidas ou cujos jogadores, técnicos e dirigentes cometam atos racistas percam pontos, recebam punições técnicas, e não apenas multa, no caso de comportamento preconceituoso.
""Uma equipe pode perder três pontos, ou seis pontos em caso de reincidência, se houver incidentes racistas em campo. A política entrará em vigor no dia 1º de julho", disse Blatter às vésperas de iniciar a Copa.
Nos próximos dias, deve sair a punição para o Aachen, mas a hipótese de perda de pontos é pequena. A imprensa alemã explorou bastante o caso do atacante brasileiro, que, quando jogava no Palmeiras ficou conhecido como Shrek, por uma suposta semelhança física com o personagem do desenho animado. Ele levou o apelido para a Europa. (RODRIGO BUENO)


Com agências internacionais


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