São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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ÀS MOSCAS

Quem precisa dos torcedores para trabalhar sofre com ócio e falta de lucro em São Caetano

O tempo passa devagar no campo do ABC

DA REPORTAGEM LOCAL

Ócio. Essa é a sensação de quem depende do público para trabalhar nos jogos do São Caetano, mandados no estádio Anacleto Campanella.
Com média de 1.979 torcedores por partida, o atual campeão paulista, quarto colocado no Brasileiro, está na lanterna no quesito torcida.
Ontem, na vitória por 3 a 0 sobre o Paysandu, 1.087 pessoas estiveram no estádio.
A fraca presença de torcedores -que motivou o técnico Péricles Chamusca afirmar "para nós, tanto faz jogar em casa ou fora"- proporciona cenas inusitadas no estádio da prefeitura de São Caetano.
Os policiais que fiscalizavam a entrada do portão principal, por exemplo, apresentavam uma tranqüilidade incomum, se levada em conta a atitude nas revistas dos estádios da capital paulista. Eram cumprimentados cordialmente por alguns dos assíduos torcedores do São Caetano. Havia até os que os saudavam citando inclusive os nomes dos soldados.
Ontem, não havia cambistas nem flanelinhas nas redondezas do campo. Nenhum estacionamento estava aberto, e as vagas na rua do estádio eram abundantes.
Ambulantes eram raros: só um camelô vendendo camisas e apenas um furgão oferecendo lanches e refrigerantes.
"Só vendi três camisas e ainda assim para pessoas que passavam pela rua. Nenhum deles entrou no estádio. E nenhum comprou a camisa do São Caetano. Sempre venho trabalhar no Anacleto Campanella e acho uma tristeza ver o estádio do quarto colocado no Brasileiro vazio. Isso aqui é público de treino!", afirmou o vendedor ambulante João Santos.
A poucos metros de seu mostruário -uma corda presa a dois postes-, Neusa Miyamoto lamentava o movimento. Se estivesse na Vila Belmiro ou no Pacaembu, anteontem, o fato de não ter concorrência certamente alegraria a vendedora de cachorro quente. "Mas aqui ser a única vendedora de lanches não significa lucro. Acho que é sinal da minha insistência. Duvido que consiga vender 30 sanduíches."
Ela disse que o movimento do Anacleto Campanella neste campeonato é quase o mesmo da primeira fase do ano 2000, quando a equipe disputou a "segunda divisão" da Copa João Havelange, enfrentando os times de maior tradição apenas na fase final.
Bilheteiros e orientadores de público também se queixavam. "O tempo aqui não passa. Estou sempre de prontidão, mas passo longos períodos ocioso", afirmou Edinei Marciel Alves. Ele disse ter orientado cerca de cem espectadores, a 15 minutos do início do jogo.
Para Vera Ferreira Rodrigues, os minutos que passa sentada em um dos guichês do estádio, sem ver filas de torcedores "são intermináveis".
Mas o retrato do desânimo ontem era o vendedor de salgadinhos Lourival Eduardo, que trabalhava nas cadeiras do estádio. Até o final do primeiro tempo, ele havia vendido seus produtos para apenas três torcedores. "Sempre venho a todos os jogos do São Caetano, mas hoje eu só perdi tempo. É o terceiro jogo que me deixará com prejuízo. Uma vergonha!" (CCP E LF)


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