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ÀS MOSCAS
Quem precisa dos torcedores para trabalhar sofre com ócio e falta de lucro em São Caetano
O tempo passa devagar no campo do ABC
DA REPORTAGEM LOCAL
Ócio. Essa é a sensação de
quem depende do público para
trabalhar nos jogos do São Caetano, mandados no estádio
Anacleto Campanella.
Com média de 1.979 torcedores por partida, o atual campeão paulista, quarto colocado
no Brasileiro, está na lanterna
no quesito torcida.
Ontem, na vitória por 3 a 0
sobre o Paysandu, 1.087 pessoas estiveram no estádio.
A fraca presença de torcedores -que motivou o técnico
Péricles Chamusca afirmar
"para nós, tanto faz jogar em
casa ou fora"- proporciona
cenas inusitadas no estádio da
prefeitura de São Caetano.
Os policiais que fiscalizavam
a entrada do portão principal,
por exemplo, apresentavam
uma tranqüilidade incomum,
se levada em conta a atitude
nas revistas dos estádios da capital paulista. Eram cumprimentados cordialmente por alguns dos assíduos torcedores
do São Caetano. Havia até os
que os saudavam citando inclusive os nomes dos soldados.
Ontem, não havia cambistas
nem flanelinhas nas redondezas do campo. Nenhum estacionamento estava aberto, e as
vagas na rua do estádio eram
abundantes.
Ambulantes eram raros: só
um camelô vendendo camisas
e apenas um furgão oferecendo
lanches e refrigerantes.
"Só vendi três camisas e ainda assim para pessoas que passavam pela rua. Nenhum deles
entrou no estádio. E nenhum
comprou a camisa do São Caetano. Sempre venho trabalhar
no Anacleto Campanella e
acho uma tristeza ver o estádio
do quarto colocado no Brasileiro vazio. Isso aqui é público de
treino!", afirmou o vendedor
ambulante João Santos.
A poucos metros de seu mostruário -uma corda presa a
dois postes-, Neusa Miyamoto lamentava o movimento. Se
estivesse na Vila Belmiro ou no
Pacaembu, anteontem, o fato
de não ter concorrência certamente alegraria a vendedora de
cachorro quente. "Mas aqui ser
a única vendedora de lanches
não significa lucro. Acho que é
sinal da minha insistência. Duvido que consiga vender 30
sanduíches."
Ela disse que o movimento
do Anacleto Campanella neste
campeonato é quase o mesmo
da primeira fase do ano 2000,
quando a equipe disputou a
"segunda divisão" da Copa
João Havelange, enfrentando
os times de maior tradição apenas na fase final.
Bilheteiros e orientadores de
público também se queixavam.
"O tempo aqui não passa. Estou sempre de prontidão, mas
passo longos períodos ocioso",
afirmou Edinei Marciel Alves.
Ele disse ter orientado cerca de
cem espectadores, a 15 minutos
do início do jogo.
Para Vera Ferreira Rodrigues, os minutos que passa
sentada em um dos guichês do
estádio, sem ver filas de torcedores "são intermináveis".
Mas o retrato do desânimo
ontem era o vendedor de salgadinhos Lourival Eduardo, que
trabalhava nas cadeiras do estádio. Até o final do primeiro
tempo, ele havia vendido seus
produtos para apenas três torcedores. "Sempre venho a todos os jogos do São Caetano,
mas hoje eu só perdi tempo. É o
terceiro jogo que me deixará
com prejuízo. Uma vergonha!"
(CCP E LF)
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