São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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TOSTÃO

País de boas defesas

Do campeão brasileiro à seleção, o futebol nacional hoje vê talentos na zaga, mas carece deles no meio-campo

ALÉM DOS TRÊS craques do meio para a frente, a seleção tem excelentes atletas. Lúcio e Juan estão entre os melhores zagueiros do mundo. O mesmo ocorre com Júlio César no gol, apesar de Rogério Ceni ser mais completo.
Maicon é um eficiente lateral, com chances de se tornar nos próximos anos tão bom quanto foi Cafu nos seus melhores momentos. Seu reserva, Daniel Alves, é elogiado em toda a Europa. Gilberto não brilha, mas faz bem o essencial. O jovem Marcelo, titular do Real Madrid, poderá se tornar um destaque na próxima Copa do Mundo.
Falta ao time brasileiro mais talento no meio-campo, para iniciar as jogadas mais de trás. Ronaldinho, Kaká, Robinho e Diego atuam do meio para a frente. Por ser mais rápido, desarmar mais à frente e preencher mais espaço no meio-campo, prefiro Josué a Gilberto Silva. Na final da Copa América, Josué e Mineiro anularam o Riquelme e o toque de bola da Argentina.
Vágner Love teve muitas chances e não mostrou o talento que se espera de um centroavante da seleção. Mesmo assim, não sei por que, acho que ainda irá evoluir. Mas a minha grande esperança é Pato.
O Brasil tem hoje muito mais para melhorar no ataque do que na defesa. Entre tantas coisas para evoluir, Dunga deveria aproveitar mais Kaká e Robinho nas jogadas de contra-ataque. Assim, eles brilham mais nos seus clubes.
Associar jogadas de contra-ataque com futebol defensivo é muitas vezes um erro. A maioria dos gols, em todo o mundo, nasce de contra-ataque, após a recuperação da bola. O contra-ataque pode começar no próprio campo, na faixa central ou mais perto do outro gol. Nessa última situação, ele é mais eficiente. Em compensação, o time que marca mais na frente deixa mais espaços na defesa para o contra-ataque.
Quem com contra-ataque fere com contra-ataque será ferido.
Tempos atrás, falavam que o Brasil não tinha boas defesas nem bons zagueiros e goleiros. A defesa, que foi melhor que o ataque na Copa de 2006, continua mais eficiente, mesmo com tantos craques do meio para a frente. Não se pode analisar o atual ataque da seleção somente pelos últimos minutos do jogo contra o Equador.
No Campeonato Brasileiro, o São Paulo foi campeão com uma ampla vantagem por causa de sua excepcional defesa. O São Paulo derrubou o mito de que em uma competição por pontos corridos vence quem arrisca mais e faz mais gols.
Essa evolução das defesas pode tornar o futebol brasileiro mais equilibrado e mais eficiente. É também mais fácil armar uma boa defesa sem prejudicar o ataque do que formar um excelente ataque sem fragilizar a defesa.
Mas, por causa dessa paixão dos treinadores pelas defesas, será que no futuro o futebol brasileiro, que sempre foi adorado em todo o mundo pelo estilo bonito, ofensivo, imprevisível e por ter tantos craques do meio para a frente, será mais conhecido pelos eficientes esquemas táticos, pelas ótimas defesas e pelos excelentes zagueiros e goleiros? Essas são as principais qualidades do futebol italiano.
Será o fim do espetáculo e da magia do nosso futebol.


tostao.folha@uol.com.br

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