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Brasil só vira lenda com 2º ouro, diz mito do vôlei
Melhor do século 20, Karch Kiraly crê que time precisa vencer em Pequim-08
Único a ostentar o ouro olímpico tanto na quadra como na areia, americano deu exemplo a Bernardinho na Olimpíada de Seul-88
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bernardinho caminhava pela
Vila Olímpica momentos antes
da decisão do bronze nos Jogos
Olímpicos de Seul-88. Deu de
cara com Karch Kiraly, a estrela da seleção dos EUA, com um
saco de bolas em uma mão e
uma caixa térmica na outra.
O então auxiliar técnico ficou
atônito. No time brasileiro,
aquilo era função de novatos.
Kiraly tratou de explicar: "Se
os mais novos não me vissem
disposto a dividir com eles todas as obrigações, talvez não
percebessem que éramos igualmente importantes".
A história ocupa uma das páginas de "Transformando Suor
em Ouro", livro em que Bernardinho, bicampeão mundial e
campeão olímpico como técnico, conta sua aventura no vôlei.
E é mais um exemplo do tamanho da influência da geração dos EUA dos anos 80 sobre
seu trabalho. Para ele, a seleção
bicampeã dos Jogos em Los
Angeles-84 e Seul-88 e ouro no
Mundial-86 é um exemplo.
Kiraly, 46 anos, também. O
norte-americano foi eleito pela
federação internacional o melhor jogador do século 20.
Ostenta no currículo o feito
de ser o primeiro e até hoje único atleta a alcançar o topo do
pódio olímpico no vôlei de quadra e também no de praia
-venceu em Atlanta-96, na estréia da modalidade nos Jogos.
Considerado uma lenda do
esporte, Kiraly acredita que hoje a equipe do técnico Bernardinho, que conquistou seu segundo Mundial no Japão, no início
do mês, começa a ocupar o posto na história do vôlei que já
pertence aos EUA.
Em entrevista à Folha, disse
que o time brasileiro é completo, dita a forma de jogar o esporte atualmente, mas ainda
não está ao seu lado no "Olimpo" da modalidade.
"Se conquistar o ouro olímpico novamente, essa equipe se
tornará uma lenda", afirma.
FOLHA - Por que o Brasil é considerado o melhor time de vôlei do mundo atualmente?
KARCH KIRALY - Porque tem os
melhores jogadores e o melhor
técnico. Não acho que exista
um segredo. Eles apenas jogam
o melhor voleibol, cometem
poucos erros e são sempre muito duros contra os oponentes.
FOLHA - Quem você considera o
melhor atleta da equipe?
KIRALY - Sem dúvida o levantador [Ricardinho] é muito importante para manter o ritmo
de jogo do Brasil. Mas qual é o
melhor eu não sei dizer. Todos.
FOLHA - Especialistas dizem que os
EUA revolucionaram o vôlei nos
anos 80. Você vê os brasileiros fazendo uma nova revolução?
KIRALY - Pode ser. Há um estilo
brasileiro de jogar. É muito rápido, a velocidade é a grande arma. É difícil pará-los. E todos os
copiam hoje em dia.
FOLHA - Qual é o segredo do técnico Bernardinho?
KIRALY - Eu não posso ouvi-lo
quando ele conversa com seus
jogadores. Então, não sei o que
fala para eles. Mas ele tem usado o mais eficiente sistema de
jogo e treina os jogadores muito bem. E ensina os atletas a
acreditarem e terem confiança
na equipe, a acreditarem no
que ela pode fazer.
FOLHA - Em seu livro "Transformando Suor em Ouro", Bernardinho
cita você e o time dos EUA dos anos
80 como exemplos. Por que aquela
equipe virou uma lenda do vôlei?
KIRALY - Porque ganhamos
muitos campeonatos, o Mundial e as duas Olimpíadas. E o
Brasil teve a mesma chance
agora, ganhou dois Mundiais e
uma Olimpíada. Se esse time
ganhar outra medalha de ouro
olímpica daqui a dois anos, será
uma nova lenda.
FOLHA - Ainda não é uma legenda
do vôlei?
KIRALY - Já é uma das melhores
equipes da história. Mas, se
vencer em Pequim, será uma
lenda. Se firmará como o time
da década.
FOLHA - E você, por que virou um
mito do esporte?
KIRALY - Acho que Craig Buck,
Steve Timmons [integrantes da
equipe hegemônica nos anos
80] e eu fomos os únicos a atuar
o tempo todo. Jogamos no time
por oito anos, por isso todos
éramos os melhores do mundo.
FOLHA - Você conseguiu assistir ao
Mundial do Japão?
KIRALY - Não pude. Não mostraram nada na TV. Não consegui pegar um vídeo da final para
assistir ainda.
FOLHA - Você se lembra de Bernardinho como atleta? Vocês ainda
mantém algum contato?
KIRALY - Era um ótimo levantador, mas estava atrás de outro
melhor, William. Bernardinho
e eu estivemos juntos em janeiro, quando fui ao Brasil disputar algumas partidas de vôlei de
praia. Ele me convidou, e visitei
sua casa. Conversamos sobre
vôlei. Ele me levou a seu restaurante [Delírio Tropical], no Leblon. Boa comida. Foi realmente muito agradável.
FOLHA - Bernardinho é atualmente
o melhor do mundo?
KIRALY - Para mim, parece que
sim. Sua seleção está fazendo o
melhor. Os melhores times
sempre têm os melhores técnicos, se não o melhor.
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