São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2001

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FUTEBOL

Sem alarde, clube do ABC copia Palmeiras, altera estatuto e, com chapa única, reelege presidente para 3º mandato

São Caetano é vice com vício de grande

FÁBIO VICTOR
RICARDO PERRONE
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

O São Caetano deu mais um passo para se tornar um time "grande" como outro qualquer.
Na semana passada, na surdina, o clube do ABC paulista realizou eleições para presidente.
De última hora, Jaime Tortorello, irmão do prefeito de São Caetano do Sul, Luiz Tortorello (PTB), e candidato natural do grupo que comanda o clube para suceder Nairo Ferreira de Souza, desistiu de concorrer.
Souza, então, foi eleito para um mandato de mais cinco anos, o seu terceiro à frente do clube -mas o mais longo de todos.
Como boa parte dos grandes times do país, o São Caetano também mudou seus estatutos, que até 2000 previam mandatos presidenciais de três anos.
"Era um estatuto meio ultrapassado. Havia muitas diretorias, muitos cargos. Fizemos um igualzinho ao do Palmeiras", disse à Folha o presidente reeleito.
O modelo palmeirense que inspirou o São Caetano, fruto também de um "autogolpe", é o que permite Mustafá Contursi estar desde 1993 no comando do clube do Parque Antarctica -no início desta semana, foi reeleito para o seu quinto mandato consecutivo.
O que mais chama a atenção no caso do São Caetano é que, apesar do momento de notoriedade nacional por que passa o clube, as eleições não tiveram nenhuma divulgação -fato considerado normal por Souza.
"Com esse clima todo de final de Copa João Havelange, não deu para divulgar", disse ele.
Segundo Souza, a chapa única encabeçada por ele recebeu 176 votos, sendo que 200 conselheiros beneméritos do clube estavam aptos para votar.
O professor de direito Jaime Tortorello, um dos fundadores do São Caetano, contou que desistiu de assumir o clube por imposição de sua mulher. "99% dos conselheiros queriam que eu fosse o presidente, mas minha mulher disse que era o clube ou ela.
Como já estava havia seis anos todos os dias dentro do São Caetano, resolvi abrir mão", afirmou Tortorello.
Mas o dirigente deixou claro que, a despeito de sua desistência, ele e seu irmão continuam sendo soberanos no comando do clube.
"Eles (os atuais diretores) estão trabalhando direitinho. Em time que está ganhando não se mexe. Além disso, eu e meu irmão (o prefeito Luiz Tortorello) estamos sempre junto deles. Quando precisar contratar técnico ou jogador, aí a gente se envolve."
Ao ser questionado sobre a existência de uma chapa única e os quase 100% de votos recebidos pela atual administração, Jaime Tortorello, que permanece no cargo de vice-presidente de relações públicas do clube, disse que "lá (no São Caetano) não esse negócio de disputar, ter eleição".
Vice-presidente de futebol na gestão passada de Nairo Ferreira de Souza, José Carlos Molina, dono da Datha Representações e empresário de alguns jogadores do time, não ocupa nenhum cargo -pelo menos até agora.
"Faz anos que ele fala que vai sair, e a gente convence ele a ficar. Ele não aguenta ficar fora do São Caetano", disse Jaime Tortorello.
A Datha Representações firmou parceria com o clube em 1997, com a missão de captar recursos para o clube.
Desde então, o São Caetano vem crescendo, e as relações de Molina e sua empresa com o clube e seus jogadores vêm se tornando mais nebulosas.




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